Abaixo a burguesia, viva o anarquismo

07/09/2015 22:23 - Geraldo de Majella
Por redação

O militante anarquista mais conhecido em Alagoas é Nô Pedrosa. Nasceu em Santa Luzia do Norte (AL), há 75 anos, no dia 7 de setembro de 1940, e foi registrado com o nome de Walfredo Pedrosa de Amorim. Filho de Hermes Calheiros de Amorim e Lidia Pedrosa de Amorim. Por ironia do destino, nasceu no dia em que o Brasil comemora a Independência de Portugal.

        Nô Pedrosa pertence a uma família com tradição e militância política na esquerda alagoana. O irmão mais velho, o escritor e engenheiro Valter Pedrosa de Amorim, foi o primeiro que iniciou a militância política quando se filiou ao Partido Comunista Brasileiro (PCB), na segunda metade da década de 1950. Nô e Waldir Pedrosa de Amorim seguiram o primogênito; dos quatro irmãos, três militaram no PCB.

        O que liga as famílias Calheiros-Amorim a Miranda são os irmãos Hermes, irmão de Hermé Calheiros, que por sua vez casou-se com Manoel Simplício de Miranda e constituíram uma prole com dez filhos, entre eles, os jornalistas Jayme e Nilson Amorim de Miranda, dirigentes do PCB em Alagoas.

        Os primos constituíram um núcleo destacado na estrutura do PCB nas décadas de 1950 e 1960. O ativismo do jovem Nô Pedrosa ajudou a formar vários núcleos de jovens militantes comunistas no movimento estudantil secundarista e universitário.

        O golpe civil-militar de 1964 levou os irmãos Jayme e Wilton Miranda, Nô e Valter Pedrosa para o cárcere, e outros irmãos e primos para a vida incerta na clandestinidade. Nilson, Anivaldo, Waldemir e Clístenes Miranda tiveram de sair de Alagoas e viver em outros estados clandestinamente.

        Nô Pedrosa ao sair da prisão continuou a militância política, voltou a estudar na Universidade Federal de Alagoas (Ufal) e a sonhar com uma possível resistência armada, e dessa maneira derrotar a ditadura. O tempo passou, prisões voltaram a acontecer, líderes estudantis foram presos e submetidos a tortura em Alagoas e por todas as partes do país.

        A delegacia de Ordem Política e Social (Dops) anotou na ficha do Nô Pedrosa, após o golpe civil-militar de 1964, o seguinte: “participou de todos os movimentos grevistas nos sindicatos filiados ao CGT, em companhia do comunista Nilson Miranda e outros. Tomou parte ativa nos comícios programados pelo CGT. Desenvolve atividades comunistas no meio dos estudantes. Distribui literatura comunista e boletins subversivos. Preso no movimento revolucionário de 31 de março de 1964”.  

        A militância comunista se esvai, e Nô Pedrosa torna-se cada vez mais um anarquista em franca aliança com os demais grupos de militantes de esquerda. Não deixa de ser curiosa a sua atitude. O que não mudou entre uma fase e outra foi a capacidade de aglutinar jovens seguidores. Fez da porta da biblioteca pública estadual e dos corredores da Ufal o seu palco de proselitismo político-ideológico.       

Esse personagem é uma raridade em nossos tempos, despojado de qualquer apego a bens materiais. Para muitos é tido como louco; para outros, é um ser integrado à paisagem urbana de Maceió e umbilicalmente vinculado à Biblioteca Pública Estadual (BPE).

O fato de nunca ter vendido a sua força de trabalho a qualquer patrão o torna um ser livre das amarras da sociedade capitalista. Encantado com os livros, continua a viver como nasceu: livre. De uma coisa ele não pode ser acusado: de que não gosta de livros e de bibliotecas. Fez disso um sacerdócio. Digo isso consciente de que estou proferindo uma heresia, já que o incrédulo anarquista talvez não entenda que o seu modo de viver é um sacerdócio.

Vida longa ao camarada Nô Pedrosa.

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