Editorial: E o Neafa nunca mais pediu justiça...

31/07/2015 08:16 - Geral
Por redação
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O ritmo da apuração dos mais diversos crimes costuma ser diferente do desejo da sociedade pela elucidação dos casos. Quando a questão combina o tão subestimado crime ambiental e o prestígio de uma entidade defensora de animais, o avanço pode ser ainda mais lento, seja por cautela ou dificuldades comuns à apuração responsável. O fato é que o inquérito sobre o envenenamento de 30 cães abrigados no Neafa, que resultou na morte de 12 animais, ultrapassou o nono [na verdade, o sétimo] mês, sem perspectivas para sua conclusão. A Polícia Civil mudou de delegado do caso quatro vezes. E esta edição do CadaMinuto Press revela que sigilos telefônicos foram quebrados e estão sendo analisados pela delegada Talita de Aquino.

Outro fato curioso é o silêncio que o Neafa adotou, desde a repercussão da reportagem do Cada Minuto Press, que revelou, na edição publicada em 06 de fevereiro, as denúncias de que um gestor informal da mais prestigiada entidade que cuida de animais em Maceió foi acusado em depoimentos à Polícia Civil e ao Ministério Público de participar deste envenenamento. O caso esbarrou na burocracia, foi prorrogado, e o compromisso de pressionar as autoridades pelo esclarecimento do caso deixou de ser exercido pela ONG, como ocorreu durante as primeiras semanas após o crime.

A última demonstração pública de interesse do Neafa pelo esclarecimento do caso ocorreu em uma coletiva, marcada para a semana seguinte à publicação das denúncias formalizadas em depoimentos por ex-colaboradores da entidade, que levantaram suspeitas contra o gestor informal da entidade, identificado como Erivaldo. Antes disso, ou último pedido por justiça para o caso do envenenamento datou de 27 de janeiro, quando foi publicada, no perfil do Facebook do Neafa, a frase “Queremos justiça”, em um cartaz em preto e branco, com as fotos de Dunga, Davi, Estela, Kiko, Ziza, Riquinha, Lili, Florzinha, Madruga, Ciça, Ágata e Docinho, vítimas fatais do crime.

Desde então, alguns efeitos colaterais da atividade jornalística vieram a público, a exemplo da “descoberta” de que a clínica veterinária do Neafa não possuía licença ambiental para funcionar. O resultado foi a assinatura de um termo de ajuste de conduta (TAC) firmado com a Prefeitura de Maceió para a ONG seguir atuando. Além disso, a Polícia Civil ainda tenta conseguir provas da existência de um cemitério clandestino em terreno próximo ao Neafa, episódio que também passou por um rolo burocrático a respeito da responsabilidade sobre o laudo técnico para identificar eventuais restos mortais de animais.

A ausência de demonstrações públicas do Neafa de cobranças pela conclusão do caso pode não significar nada, não é confissão de culpa. Mas traz em seu bojo um silêncio preocupante do ativismo político de defensores dos animais. Foram poucos os grupos que demonstraram preocupação com as diversas irregularidades denunciadas contra a entidade. Muitos deles silenciaram por ter livre acesso aos serviços do Neafa, que oferece atendimento especial em sua clínica, para animais resgatados das ruas pelos ativistas que promovem a doação.

O CadaMinuto Press sempre evitou o vácuo do comodismo, por acreditar que contribuiu e pode fazer ainda mais para que o Neafa supere esta tragédia. O Jornalismo cumprirá seu papel, mesmo que reme contra a maré de credibilidade de uma entidade que deve promover a saúde animal e a educação ambiental, de fato, de graça, legalizada e com apoio da sociedade.

Este editorial está publicado na Edição nº 94 do jornal CadaMinuto Press, que chegou às bancas nesta sexta-feira (31) com este e os seguintes destaques: 

 

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