Ainda sobre a violência na escola

08/07/2015 23:48 - Geraldo de Majella
Por redação

 

A violência tem mudado o comportamento de pessoas e de instituições nos grandes centros urbanos, mas também em pequenas cidades do Brasil e do mundo. O senso de autoproteção manifesta-se e perpassa todas as classes sociais, mudando apenas a maneira da defesa. Individualmente, o cidadão de classe social mais abastada ergue muros intransponíveis, instala sistemas de vigilância eletrônica em suas residências e/ou condomínios, contrata guarda-costas, cria cães ferozes, investe parte significativa da sua economia para a própria proteção e a dos familiares.

        As instituições públicas e privadas utilizam-se dos modernos recursos tecnológicos à disposição no mercado. As pessoas cercam-se com redes elétricas contra bandidos e passam a viver a sensação de segurança, sendo diuturnamente vigiadas pelos olhos eletrônicos das câmaras.

        É perceptível a formação de enclaves em meio às cidades. Toda a energia “intelectual” volta-se para a defesa do patrimônio público e/ou privado, muitas vezes como se fosse um fim em si mesmo.

        Diante dessa realidade cruel, a escola está a caminho célere da blindagem. Está convertendo-se em pequenas fortalezas em meio a uma crescente área de excluídos social e economicamente que vivem nas periferias das cidades. Os condomínios residenciais de classe média tentam livrar-se da insegurança, como se isso fosse possível. É comum, hoje, nas escolas o gradeamento, os sistemas eletrônicos de proteção deixando transparecer que na escola, assim como nos presídios, há algo de semelhante à estética da segurança através dos muros altos ornados por lanças de metal ou cacos de vidros.    

        Criminalizar a pobreza certamente não é o caminho para entendermos o fenômeno do crescimento da violência em nosso país, mas serve para ficarmos atentos à brutal e crescente desigualdade social que o modelo capitalista tem imposto globalmente. Pela gravidade do problema devemos refletir se esse tipo de sociedade é satisfatório. Eleger o consumo, mais que isto, cultuando-o como se divindade fosse.

O que dizer da outra ponta do problema? A falta, cada vez maior, de perspectiva de futuro para os jovens que chegam ao mercado de trabalho, mundialmente exigente, sem que tenham tido oportunidade de estudar em escola pública de qualidade, torna-os inevitavelmente incapazes de ascender socialmente através do trabalho digno na indústria, no comércio, no setor bancário ou como funcionários públicos.

        Evidentemente que a pobreza e a miséria de maneira isolada do contexto social não explicam a crescente violência, nem são a fonte geradora de tal fenômeno. Para resolver a questão é preciso refletir sobre o fato, com a devida responsabilidade e agilidade que a situação requer. Interferir mudando o modo de pensar os fenômenos e as situações excepcionais. A violência é um tema que deve despertar o Estado e a sociedade em conjunto, para enfrentar esse “dragão da maldade”.

        As ideias que nortearam a manutenção da ordem dentro dos muros da escola de há muito foram superadas pela vida e, claro, pelas circunstâncias a que a escola foi submetida: ao desprezo e paulatinamente ao desmonte físico, como se fosse a terraplanagem da sociedade da ignorância – sem escola pública para os filhos da classe média e para os filhos dos trabalhadores de baixa renda.

        O espaço público que é a escola transforma-se num enclave, sendo também uma vitima da violência. A incivilidade e a agressão recorrente no interior e no entorno da escola têm sido motivos de esgarçamento dessa tão importante instituição.       

        Recortemos os tipos de manifestações de violência que há em outras localidades e passemos a trabalhar com o que atinge frontalmente o caso alagoano. Logo veremos que estamos num ponto intermediário entre as regiões conflagradas do Sudeste e do Nordeste brasileiro.  

 

 

 

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