Uma das danças que marcam os festejos juninos - e talvez a mais conhecida- é a quadrilha. Segundo historiadores, ela foi trazida para o Brasil pelos europeus, ainda no período colonial. Com traços portugueses, chineses, espanhóis e franceses, a quadrilha incorporou elementos nacionais e se consolidou na região Nordeste do país.

Aos passos coreografados, cores e glamour que conhecemos nas apresentações atualmente, é a atribuída a denominação de “quadrilha estilizada”. Com a presença de zabumba, triângulo e sanfona, esse seguimento recebe maiores atenções nos meses de junho e julho, porém, para quem faz parte desses grupos, o trabalho é constante.

Kássia Pontes, de 23 anos, é profissional de Relações Públicas e se apresenta com a quadrilha “Amanhecer do Sertão” desde 2009. Ela conta que o trabalho de preparação e produção das apresentações acontece bem antes do mês junino.

“Uma quadrilha junina não envolve apenas dançarinos e músicos, envolve também costureiras, bordadeiras, cabeleireiros, coreógrafos, maquiador, figurinista, diretor musical, roteirista, pessoas que trabalham arduamente na produção, seja na montagem do cenário ou mesmo nas apresentações, onde podemos executar tudo que é trabalhando durante praticamente um ano inteiro, existe uma pré produção que começa sempre que um São João termina.” observa Kássia.

No ano passado foram 25 grupos a disputar o concurso “Forró e Folia”, promovido anualmente em Maceió. Emerson de Oliveira é da assessoria da quadrilha que levou o segundo lugar do concurso de 2014, “Amanhecer do Sertão”, e chama atenção para o crescimento das quadrilhas do Estado.

“No ano passado, a representante alagoana (Luar do Sertão) conseguiu os principais prêmios do Brasil. As quadrilhas têm a responsabilidade de reforçar e continuar a destacar Alagoas lá fora, acho que os trabalhos realmente tão cada vez mais superiores, a Amanhecer é uma quadrilha que consegue manter sua essência de sempre com uma forma contagiante de construção do trabalho e ser uma das principais do estado desde o começo de sua trajetória” salienta Emerson.

O grupo, que tem mais de 13 anos de apresentações, foi fundado no bairro Benedito Bentes e já foi duas vezes campeã do “Forró e Folia”; Em 2011 foi campeã alagoana pela primeira vez, também concorreu no Concurso de Quadrilhas Juninas do Nordeste, organizado pela Federação das Quadrilhas e Festejos Junino Ceará (FEQUAJUCE) - O “Nordestão” - onde obteve o vice-campeonato nordestino e é a única quadrilha de Alagoas a possuir o tri-campeonato no concurso de Caruaru, em Pernambuco.

Gastos x Recompensa

Como nem tudo são cores na vida de quem se dedica à arte, no meio artístico junino não é diferente. Os grupos precisam levantar uma quantia considerável para que o espetáculo aconteça.

“O trabalho custa mais de 80.000 reais e o dinheiro investido no movimento junino ainda é muito pouco em Alagoas, conseguimos a verba através de patrocinadores e parceiros, eventos e ações de marketing. Os componentes pagam sua própria roupa e os destaques (Noivos, Reis e Marcador) na maioria das vezes têm que desembolsar muito mais. Tentamos sempre participar dos concursos lá fora também, assim convivemos com as outras formas da cultura junina e tentamos sempre reforçar o nosso jeito Amanhecer.” explica Emerson.

Para dançar é preciso disposição e não somente a física, além dos gastos das organizações das quadrilhas, cada componente é responsável pelos custos do seu próprio traje.

“Fazemos diversos tipos de investimentos para que o espetáculo venha acontecer, além do investimento financeiro que varia entre R$1.000 até R$4.000, dependendo do cargo que você ocupe na quadrilha, investimos também nosso tempo, nossa energia, sacrificamos os nossos finais de semana com a família e os amigos para que possamos fazer um espetáculo de São João junto com a nossa segunda família” conta Kássia.

A recompensa, no entanto, fica por conta da satisfação de cada grupo, já que as premiações nos concursos dificilmente ultrapassam a barreiras dos R$ 15 mil, a exemplo do ano passado. E as entregas dos prêmios, muitas vezes, não ocorrem de maneira imediata. “Até o início deste ano diversas quadrilhas e entidades juninas lutavam por premiações e incentivos que não haviam sido pagos desde 2014” conta a dançarina.