O futebol imita a vida e o CSA está morrendo
Até hoje o som do rádio ecoa nos meus ouvidos. Resenha, jogos do CSA, tava lá ele, o meu avô, sintonizado nas Rádios Gazeta ou Difusora. A narração de uma partida era pura emoção, como ainda é hoje. Locução esportiva é uma arte, sempre achei, ao perceber a diferença entre o jogo real e o jogo contado pelo narrador.
Tomei gosto pelo futebol. Acompanhava o CSA e os times do Rio de Janeiro, levemente encantado pelo Botafogo. Quando meus tios retornavam de Maceió para Mata Grande, e não havia jogo do CSA, eu perdia o direito de escutar as resenhas do futebol carioca na Rádio Globo, Tupi, ou na Nacional. Aquilo era irritante.
Passado o tempo, vim pra Maceió. Final de 1980. Eu havia feito uma prova para ser aceito pelo colégio Marista. Alguns amigos me levaram para assistir a uma importante partida entre CSA e CRB.
Fiquei encantado ao subir a rampa que dá acesso à torcida do azulão. De um lado o mar de bandeiras e camisas azuis. Do outro, uma multidão de vermelho e branco. O barulho era ensurdecedor. O encantamento maior foi pela beleza plástica das cores das torcidas, o som da massa, o cheiro vivo do ambiente, da arena.
Todas as vezes que o meu avô vinha para Maceió íamos para o Trapichão ver o CSA jogar. Claro, mais do que torcendo por um time, eu preferia assistir a uma boa partida de futebol.
O CSA era glorioso. Mas, de uns tempos pra cá, tem se apequenado de maneira assustadora. Parece não ter percebido as mudanças impostas pelo mercado do futebol e os poderosos empresários donos de supermercados de atletas.
A derrota de ontem para o Coruripe impõe que o ano terminou para o azulão, pois está fora da disputa pelo título do alagoano e de uma vaga na série D do brasileirão. Dessa forma, segue sem conseguir aumentar sua torcida, perde receita e importância dentro do cenário futebolístico.
Culpados existem? Sim, claro. Uma série de dirigentes incapazes e interessados em política levou o clube à derrocada. Eles olharam apenas para o interesse imediato, não para o futuro, para as mudanças que o tempo obriga.
O Trapichão chora sem o grito da massa azulina. O torcedor deseja que o ano passe rápido. Afinal de contas, quem ama o seu time sempre tem esperanças que dias melhores virão. Esse é o alimento da paixão, do amor pelo clube.
O futebol imita a vida. Ou será o contrário?
O meu rádio está desligado já faz um tempão.
O CSA está morrendo, assim como os seus torcedores.
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