Minha Carta de Desfiliação ao DEMOCRATAS

31/03/2015 10:00 - Omar Coêlho
Por redação

Ontem, 30, encaminhei meu pedido de desfiliação ao DEMOCRATAS.

Segue seu inteiro teor:-

 

Estimado Presidente José Thomaz Nonô,

 

Há dez anos ingressei no Democratas, único partido no qual militei até hoje. Quando optei por filiar-me, o fiz em razão da experiência adquirida em seis anos de atuação no Congresso Nacional, lutando em prol da Advocacia Pública. Por conta de uma atuação tida por bem sucedida, vários companheiros daquela caminhada classista entenderam que deveríamos ter um representante no campo da política partidária, para não ficar apenas na mendicância de apoio perante parlamentares, nem sempre obtido.

 

Naquela época, tive a honra e o prazer de conversar com todos os partidos, que abriram espaço para a nossa participação, mas resolvi escolher o Democratas, por nosso bom laço de amizade, por ser seu eleitor e por reconhecer no então PFL o grande responsável pela abertura política, quando da criação da Frente Liberal, fato esse que, a meu ver, foi muito pouco explorado pelo partido, que preferiu ser coadjuvante e deixar o PSDB na condição de protagonista.

 

Quis a generosidade do destino que eu viesse a presidir a OAB/AL por dois mandatos consecutivos (2007/2012), com excelente índice de aprovação atestado pelas pesquisas da época, mas me deixou um pouco afastado da vida partidária, vida esta que me parece ser algo distante da nossa entidade, um partido que não vive ativamente no seio da sociedade, fazendo isso de modo temporário, apenas nos períodos das eleições.

 

Completados meus mandatos, voltei-me para a política partidária, contando com seu considerável incentivo para disputar o cargo de deputado federal ou estadual, o que terminou não acontecendo; tendo havido ainda uma cogitação para o cargo de vice-governador na chapa do senador Benedito de Lira, mudada às vésperas da convenção, na qual fui indicado para disputar a vaga ao Senado Federal.

 

Nesse processo, nem todos os planos pensados se materializam, a exemplo da sua candidatura ao governo, tão esperada por muitos de nós, cuja não-consolidação deu à minha primeira incursão no espaço eleitoral público um ar de solidão e de consequente abandono. Esperava do partido, que se apequena a cada eleição, um mínimo de interesse em ter mais um representante no Senado da República ou, ao menos, uma demonstração robusta e incondicional de solidariedade.

 

Não tive, nem do partido; nem da coligação, o apoio necessário para disputar uma eleição majoritária contra dois oponentes já escolados da política nacional, figuras expressivas e há tempos na vida pública. O que poderia ser uma tragédia, no entanto, graças a Deus e à bondade de milhares de alagoanos (57 mil em Maceió e 80 mil no interior), tive uma votação significativa (137.237 votos), isso sem haver posto um mísero cavalete nas ruas, sem bandeiras e com apenas dez placas, disponibilizadas na última semana de campanha, somadas a alguns cartazes em lona com o candidato Aécio Neves, sem a menor estrutura para colocação, em razão dos altos custos de uma eleição.

 

Percebi, com tristeza, que partido político e coligação, infelizmente, são meios ilusórios de se pensar ideologicamente, pois o que prevalece são interesses financeiros e pessoais. O jogo nocivo de interesses é a tônica que move as peças no tabuleiro político, enquanto fica em último plano o que deveria ser o essencial: a busca do bem comum, conduzida por propostas de valor e factíveis.

 

Ademais, essa noticiada fusão com o PTB é pra mim algo impensável,de impossível aceitação, demonstrando não haver identidade ideológica na questão, mas apenas interesses menores, inconfessáveis e condenáveis.

 

Não quero transformar minha Carta de Desfiliação em um mar de lamentações, muito menos em um manual de como deve ser a política com P maiúsculo. Mas não posso deixar de frisar que sou um idealista, e de reafirmar que continuo acreditando que poderemos mudar essa realidade pautada por atos que revelam pobreza de bons propósitos e de espírito público, o que segue acarretando frustração aos cidadãos e cidadãs de bem deste nosso Brasil.

 

Por acreditar que é possível lutar por um novo tempo, uma nova realidade, peço-lhe formalmente meu desligamento do Democratas, requerendo que sejam tomadas as medidas administrativas cabíveis para a devida baixa de minha ficha de filiação, junto ao TRE/AL, bem como do cargo que ocupo na executiva municipal, para que eu possa definir novos rumos para minha vida política, a fim de seguir lutando contra os “moinhos de vento” que porventura surjam adiante, com a serenidade dos que acreditam que “o caminho se faz ao caminhar”.

 

Agradeço com extremas gratidão e sinceridade a todos os integrantes do Democratas, desde a Dona Rita, com seu cafezinho, até o nosso presidente José Thomaz Nonô.

Cordialmente,

Maceió, 30 de março de 2015.

Omar Coêlho de Mello

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..