Morreu no fim da tarde de hoje aos 78 anos o ex-governador de Alagoas por três mandatos, Divaldo Suruagy. De acordo com familiares e amigos, o ex-governador teve uma parada respiratória e chegou a ser socorrido, mas acabou falecendo a caminho do hospital Arthur Ramos.
O ex-governador enfrentava um câncer no estômago e chegou a se internar em julho do ano passado no Hospital Sírio-Libanês após ter dois desmaios durante a campanha eleitoral, onde ele tentava voltar à política. O problema de saúde o fez desistir da candidatura a deputado estadual.
A família do ex-governador confirmou que seu corpo será velado no Palácio República dos Palmares. E que por volta das 12h deste domingo será levado para o Campo Santo Parque das Flores, no Tabuleiro dos Martins, onde acontecerá o sepultamento marcado para as 17h.
Vida política
Suruagy foi prefeito de Maceió (1965 a 1970), deputado Estadual (1971 a 1973), deputado Federal (1979 a 1983 e 2001 a 2002), duas vezes senador da República (1987 a 1990 e 1990 a 1995) e três vezes governador de Alagoas (1975 a 1978; 1983 a 1986 e 1995 a 1997).
No último mandato foi eleito com o melhor percentual entre os governadores do Brasil, com 81% dos votos, mas sua vida política sofreu um revés. Filiado ao PMDB , depois de ter passado pelos partidos: Arena, PSD e PFL. Seu terceiro mandato, se estabeleceu dentro de uma crise político-financeira e econômica no Estado.
O setor açucareiro com algumas usinas falindo, a Salgema sem produção, o atraso constante no pagamento do servidor público, o Programa de Demissão voluntária – PDV, as múltiplas greves e os escândalos dos precatório que acabaram causando o afastamento de Suruagy do governo.
Divaldo Suruagy que nasceu em São Luis do Quitunde e era economista e historiador formado na Universidade Federal de Alagoas e deixa quatro filhos.
Veja abaixo a integra da ultima entrevista que Divaldo Suruagy concedeu ao jornalista Davi Soares do Cadaminuto em julho do ano passado, quando era candidato a deputado e fez um balanço de sua carreira politica
O que levou o senhor a retornar à vida pública e se candidatar a deputado estadual?
A consciência das dificuldades que o parlamento alagoano está vivendo. Me senti obrigado, ou quase que obrigado, a entrar nesse processo. Mesmo porque, na 7ª Legislatura, eu e Teobaldo Barbosa fomos eleitos [deputados estaduais em 1970] naquela época e, no término do mandato, sai para governador do Estado.
Qual a lembrança que o senhor tem desses dois primeiros mandatos?
Os dois primeiros é um banho de realizações. Ninguém fez mais do que o que fiz aqui. E eu colocava como desafio permanente. Se alguém fizer mais e melhor do que eu... E ninguém fez mais não.
E como é que o senhor pretende convencer ao eleitor de que o senhor será um bom deputado estadual?
Todo mundo me conhece. Eu não preciso convencer ninguém. Alagoas toda me conhece.
O que o senhor leva de proposta para projeto de lei e o que o senhor deve tentar resolver na Assembleia?
Levo a moralidade e a busca de enfrentar o processo... Essa crises que estão ocorrendo na área da segurança. E também dar um apoio muito grande na Assembleia, na Educação.
Qual o legado que o senhor deixou para o alagoano, com sua vida pública?
A moralidade. Até hoje – temos 50 anos de carreira política – ninguém conseguiu encontrar nada que diminuísse a minha pessoa. É um desafio que eu faço.
Não houve nenhuma denúncia de ilegalidade?
Denúncias surgiram. Mas isso foi uma coisa montada.
A gente lembra que amanhã [hoje] é 17 de julho e faz 17 anos da tumultuada votação do impeachment...
Isso é uma brincadeira. Isso é uma piada, uma piada. Não houve nada de impeachment.
Marcou o senhor, pessoalmente?
Claro que não. Eu tive, por curiosidade... Já estava pensando em transferir [o governo] para o Mano. E eu deveria ter transferido logo após os dois primeiros anos. Era um compromisso que eu tinha assumido com ele. E então, ficou uma crise e eu fiquei temendo deixar o governo numa crise.
O senhor acha que, apesar de ter terminado dessa forma, o senhor ainda conseguiu acertar em algumas questões nesse último mandato como governador?
Eu não. Nesse último mandato, eu não governei, praticamente, Alagoas. No último mandato não. O último mandato foi uma luta contra, assim, as maiores dificuldades, essas coisas todas.
O que o senhor lembra de ter enfrentado como maior desafio?
Digamos assim, a incredulidade, né? Mas eu acho que não tem nada que me desabone na minha vida pública.
O senhor se arrepende de alguma coisa?
Nada. Mas nada mesmo! Eu faço esse desafio para você: Procure em Alagoas alguém que encontre um deslize meu.
O fim do seu último governo...
Não foi no meu governo, não, rapaz! Eu transferi para o Mano.
Mas não foi por um processo de impeachment?
Impeachment! Que negócio de impeachment! Não foi não! Eu transferi para o Mano!
Mas o senhor lembra que houve uma crise...
Não teve crise nenhuma!
...com salários atrasados.
Salários atrasados, sim. Houve.
Qual foi a dificuldade que o senhor enfrentou?
É claro! Porque eu encontrei já três meses em atraso.
Do mandato anterior?
Do mandato anterior, do Geraldo Bulhões. Três meses de atraso. E a moeda estabilizou. Porque no regime inflacionário, com três meses, a gente pagava a folha. Mas eu imaginei que teria uma força junto ao governo federal e não consegui. Mesmo porque também havia seis estados vivendo esse mesmo momento.
Por que o senhor escolheu a Assembleia para retomar a carreira política?
Acho que ninguém fez mais por Alagoas do que eu. Mas ninguém mesmo.
Qual a avaliação que o senhor faz da gestão do governador Teotonio Vilela Filho?
Ele está com dificuldades. Mas é um homem sério, respeitável. E eu tenho muito respeito por ele.
Ele costuma citar o que ocorreu em seu último mandato, quando nega a concessão de reajustes aos servidores públicos. Porque o senhor concedeu reajuste e não pôde pagar...
Exatamente. Porque, quando eu aumentava, naquele período... Quando eu aumentei, tinha a perspectiva de que poderia crescer [a inflação]. Mas o ângulo não foi possível. Mas eu já tinha deixado... A folha já estava pronta. Mas isso é coisa da política.
O que o senhor acha que mudou na forma de fazer política, desde o tempo que o senhor era político?
Permaneço um homem sério, que se preocupa com o povo alagoano e tenho a consciência de bem servir ao povo alagoano. Ninguém fez mais em Alagoas do que eu. Mas ninguém mesmo. Mande juntar todo mundo e ver meus governos. Eu dou um banho.
Como o senhor lidava com a Assembleia Legislativa?
Na última Assembleia? Na última já estava um quadro impressionante das coisas.
Qual foi a dificuldade na relação?
Nenhuma.
Mas com relação a lidar com os deputados?
Era o contato... Eram aquelas coisas. Mas não tenho mágoa de ninguém. São os fatos políticos. E eu me dou bem com todos. Eu não tenho uma pessoa em Alagoas que diga que eu sou feio. E olhe que eu sou feio (risos). Não tenho um inimigo.
Qual a sua perspectiva de ser eleito?
Imagino que tenho uma perspectiva bastante sensível. Porque, do povo, onde quer que eu me encontre, recebo agradecimentos. Aonde eu chego, é aquela alegria.
O que o senhor diria diretamente ao seu eleitor para convencê-lo a votar no senhor?
Acho o seguinte... É o que eu sempre fiz: o bem, ajudar o povo, dentro das minhas possibilidades. Me sinto um perfeito político, dentro desse ângulo. Voltando para a Assembleia, me sentirei muito realizado.
Porque o senhor não escolheu disputar mandato de deputado federal ou senador?
Eu não queria mais sair de Alagoas. Quero morrer em Alagoas.
Seria uma prova de amor pelo Estado?
Sim. (com lágrimas nos olhos, a tentativa de conter o choro interrompe a entrevista)
O senhor tem mais alguma observação a fazer sobre sua eventual atuação como deputado estadual?
Primeiro, darei todo o apoio para que tenhamos uma secretaria de segurança dentro dos padrões da moralidade e da sagacidade.
Alagoas hoje é o Estado mais violento do Brasil, segundo dados oficiais. Como o senhor observa esse quadro, comparado à situação vivida em seus governos?
Naquele período, dos dois governos... No terceiro, não governei o Estado. Considero que aquele ali foi um erro. Mas, no aspecto positivo, você pode somar os dois primeiros governos e você não conseguirá um volume de recursos... Inclusive a Braskem. Está aí a Braskem, que fui eu que trouxe. Na segurança, não vou ter força, como deputado. Naquele período, o coronel Amaral [ex-secretário] estabeleceu um padrão de moralidade e foi um homem que enfrentou todo mundo.