Conspiração, Aécio Neves, Furnas e Janot

06/03/2015 11:43 - Voney Malta
Por Voney Malta

Teorias conspiratórias surgem de todos os lados. Uns dizem que Renan e Cunha apareceram na lista de Janot por articulação do governo petista. Outros explicam que se isso fosse possível os petistas não estariam na lista.

Dos dois lados citados, petistas e aliados do PMDB, em comum há reclamações contra o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, especialmente pelo fato de ter livrado o senador Aécio Neves de inquérito na Lava Jato.

O tucano presidente do PSDB foi citado na delação premiada do doleiro Alberto Youssef por receber dinheiro do caixa 2 de Furnas, empresa do setor elétrico.

E Janot teria contrariado os procuradores responsáveis pelo caso, que teriam recomendado que fosse pedido ao STF abertura de inquérito contra o senador mineiro.

Por outro lado, o pedido de investigação contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), estaria relacionado ao depoimento de um ex-policial que entregava propinas a mando do doleiro Youssef. Além de Cunha, o ex-policial citou que entregou propina ao senador Antonio Anastasia (PSDB-MG).

Caso confirmado tal informação, por qual motivo teria havido tratamento diferenciado, ou seja, Cunha será investigado, Anastasia e Aécio Neves não?

Por isso teorias da conspiração surgem constantemente. A última diz que o procurador-geral foi seletivo nas escolhas e teria blindado alguns políticos.

Insatisfeito com a suposta seletividade de Rodrigo Janot, um deputado estadual de Minas Gerais disse que tem provas suficiente de caixa 2 em Furnas. “Em Minas, todo mundo sabe que Aécio fazia caixa 2 em Furnas”. Aécio continuará impune, Janot?”, questiona o deputado estadual Rogério Correia (PT-MG).

Assim, o dia e as noites passam na capital federal com um forte cheiro de confronto. É claro que cadáveres serão deixados para trás. Agora é hora de sobreviver politicamente. Coisas do ofício.

Leia abaixo reportagem sobre o caso de Furnas e Aécio Neves:

DEPUTADO MINEIRO DIZ TER ENTREGUE A JANOT PROVA DO CAIXA 2 EM FURNAS

Por Conceição Lemes, do Viomundo

Nessa terça-feira 4, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, livrou Aécio Neves (MG) de inquérito na Lava Jato, apesar de o senador e presidente do PSDB ser citado na delação premiada do doleiro Alberto Youssef.

Janot contrariou os procuradores responsáveis pelo caso que teriam recomendado que se pedisse ao Supremo Tribunal Federal (STF) abertura de inquérito contra o tucano.

Segundo O Estado de S. Paulo, na delação premiada à qual teve acesso, Youssef afirmou “ter conhecimento” de que Aécio, na época em que era deputado federal, estaria recebendo recursos desviados de Furnas “através de sua irmã”.

O jornal prossegue:

O doleiro disse que recolheu dinheiro de propina na empresa Bauruense cerca de dez vezes. Em uma delas, o repasse não foi feito integralmente e faltavam R$ 4 milhões. Youssef afirmou aos investigadores ter sido informado de que “alguém do PSDB” já havia coletado a quantia pendente.

Indagado pelos procuradores, Youssef declarou não ter conhecimento de qual parlamentar havia retirado a comissão, mas afirmou que o então deputado federal Aécio Neves teria influência sobre a diretoria de Furnas e que o mineiro estaria recebendo o recurso “através de sua irmã”, segundo o texto literal da delação, sem especificar a qual das duas irmãs do senador ele se referia. O delator disse ainda “não saber como teria sido implementado o ‘comissionamento’ de Aécio Neves”.

Na delação, o doleiro descreve que de 1994 a 2001 o PSDB era responsável pela diretoria de Furnas. Yousseff declarou que recebia o dinheiro de José Janene nas cidades paulistas de Bauru e de São Paulo e enviava o valor para Londrina ou Brasília.

Janot, segundo o Estadão, pediu ao STF o arquivamento das investigações por considerar insuficientes as informações fornecidas pelo doleiro.

“Se realmente o Janot mandou arquivar o caso por falta de provas sobre o envolvimento de Aécio no caixa 2 de Furnas, eu tenho provas suficientes”, afirma o deputado estadual Rogério Correia (PT-MG). “Em Minas, todo mundo sabe que Aécio fazia caixa 2 em Furnas.”

“Eu posso encaminhar tudo para o Janot assim como para o ministro Teori  Zavascki, que está cuidando da Lava Jato no STF,  para que o Aécio não saia impune mais uma vez”, observa.

“Aliás, o Janot  não pode dizer que não tem elementos para abrir investigação contra Aécio”, atenta Correia. “Há elementos de sobra, inclusive os trabalhos feitos pela Polícia Federal e pela procuradora federal Andrea Bayão, que agora trabalha na Procuradoria-Geral da República (PGR), em Brasília. Nós fomos até lá e entregamos pessoalmente no gabinete do Janot as provas do envolvimento de Aécio no caixa 2 de Furnas.”

De fato, em  13 de fevereiro de 2014, os deputados estaduais Rogério Correia, Pompílio Canavez e Adelmo Leão e o deputado federal Padre João, todos do PT de Minas, entregaram no gabinete do procurador-geral o pedido para análise da Lista de Furnas, a partir da denúncia feita em janeiro de 2012 pela procuradora Andrea Bayão.

“Nós pedimos também que levassem para o Supremo a Lista de Furnas, pois ela possui o nome de 156 políticos”, frisa Correia. “Se examinar a Lista de Furnas (na íntegra, no final deste post), vai ver que eles operaram no Brasil inteiro, a partir de Minas. Operaram pro Serra, Alckmin, Aécio…;”.

“O  desvio de recursos públicos de Furnas foi para campanha tucana e aliados em todos os níveis: deputados, senadores e governador”, diz Rogério Correia. “O próprio Aécio recebeu  R$ 5,5 milhões, conforme consta da lista. É bom lembrar que, em 1998, ele já tinha recebido 110 mil de mensalão tucano de Marcos Valério, que hoje significariam em torno de R$ 400 mil.”

O ofício foi dirigido ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, com cópia para o ministro Luís Roberto Barroso, do STF e relator do processo do mensalão tucano.

A Lista de Furnas é de 2002 e diz respeito à eleição de Aécio Neves. Esse caso de corrupção irrigou, através de processos licitatórios fraudulentos em Furnas e empresas que fizeram “caixinha”, a campanha tucana daquele ano não só em Minas, mas também em São Paulo, Bahia e outros estados.

A Lista de Furnas já teve sua veracidade comprovada pelo Instituto Nacional de Criminalística da Polícia Federal (na íntegra, abaixo). E posteriormente o caso de corrupção foi atestado pelo relatório de 2012 da doutora Andrea Bayão, na época procuradora do Ministério Público Federal no Rio de Janeiro (na íntegra, abaixo).

“É um absurdo o  Janot, mesmo sabendo disso tudo, não ter aberto  inquérito contra o Aécio”, condena Correia. ” É muita má vontade de investigar um tucano, de novo.”

A propósito. Em 2011, o tucanos em conluio com a revista Veja disseram que Rogério Correia tinha falsificado a Lista de Furnas. Tentaram inclusive cassar o seu mandato. O deputado petista foi absolvido pelo Ministério Publico Estadual de Minas Gerais que comprovou  a veracidade da lista.

Também por denunciar Furnas e os tucanos o jornalista Marco Aurélio Carone e o controvertido lobista Nilton Monteiro amargaram cadeia.  O primeiro ficou preso quase dez meses e por pouco não morreu de ataque cardíaco. O segundo permaneceu dois anos em prisão preventiva sem nenhuma condenação.

Por tudo isso, sem rodeios, o deputado Rogério Correia põe o dedo na ferida: “Aécio continuará impune, Janot?”

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