Revolução se faz com ideias, líderes e a massa – III (Final)

28/01/2015 12:54 - Geraldo de Majella
Por redação

 

O sociólogo argentino Julio Jacobo Waiselfisz criou o Mapa da Violência dos Municípios Brasileiros, trabalho que se tornou uma ferramenta para os estudos da violência no Brasil. Os indicadores dão o estado de Alagoas, de 1991 a 2014, como a unidade da federação que se destaca com o crescimento da violência homicida em todos os grupos estudados.

Esse fenômeno tem sido tratado por Julio Jacobo e outros pesquisadores como uma epidemia, mas as autoridades responsáveis pela segurança pública dos governos anteriores pouco se importaram no sentido de estabelecer estratégias de enfrentamento do problema crescente.

        A epidemia tem impactado diretamente a escola pública e privada. Nem mesmo assim a Secretaria de Educação tem se mobilizado no intuito de pensar sobre a realidade que lhe bate à porta e tem adentrado no ambiente escolar.

O estado catatônico em se encontra a rede pública de educação tem relação direta com a incompreensão dos gestores e dos governadores. A reação esperada talvez seja o encaminhamento da discussão do problema e os seus reflexos devastadores em sala de aula, na gestão das escolas e nas famílias.

As marcas da devastação no ambiente escolar e social podem ser lidas através das estatísticas policiais. Os homens são as principais vítimas de crimes violentos letais intencionais; entre janeiro e outubro de 2014, o percentual foi de 93,7% (homens) e 6,3% (mulheres).

As crianças, adolescentes e jovens lideram o ranking dos crimes violentos letais e intencionais, nas duas faixas etárias: de 12 a 17 anos são 12,8%, e de 18 a 29 anos o percentual sobe para 48,3%. O somatório dos dois grupos alcança 61,1% dos homicídios em Alagoas. A totalidade dos homicídios, nesse período, 82,1%, foram praticados por armas de fogo.

Em 2013, os homicídios nos dois grupos de 12 a 17 anos, 12,52%, e de 18 a 29 anos, 49,73% dos homicídios, o que equivale a 62,25% dos homicídios, somados. São números espantosos em quaisquer circunstâncias, até quando se trata de uma guerra convencional.

Esses dados estão disponíveis no site da Secretaria de Defesa Social (SDS) e fazem parte do trabalho do Núcleo de Estatísticas e Análise Criminal (NEAC).

O avanço do tráfico nos bairros de Maceió e nas cidades do interior há muito tempo é percebido pelas famílias e pela polícia. As populações pobres que vivem em áreas vulneráveis da periferia da capital e nas cidades do interior de Alagoas são vítimas do tráfico e do Estado que, ausente, permite o domínio do território e dos equipamentos públicos pelos traficantes e seus aliados.

        A escola é um dos ambientes usados pelo tráfico para recrutar crianças e adolescentes, tornando-os consumidores e varejistas das drogas, entre elas o crack.

        A Revolução a ser realizada na educação pública terá de ter um foco nessa questão, por meio da Secretaria de Educação, da Defesa Social e das demais.

        A violência, o tráfico e a exclusão são matrizes da evasão, da desestruturação das redes de ensino e provocam o pânico entre os funcionários e as famílias. É a causa do império da “lei do silêncio” nas escolas.

        Aguardemos o secretário Luciano Barbosa tornar públicas as ideias que irão transformar a educação em Alagoas nos próximos quatro anos. Há uma expectativa positiva, pelo menos de minha parte, na implantação de um projeto sério na educação. Nenhum povo merece viver no obscurantismo ou ser condenado à miséria.

         O povo alagoano tem sobrevivido na exclusão e historicamente segregado; a libertação só acontecerá através da educação de qualidade.

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