O pesquisador Enio Buffolo (SP) prevê para as próximas décadas a reconstrução de órgãos - entre eles o coração humano - por meio de células-tronco, o que se tornará a grande alternativa aos transplantes. No momento, Buffolo vê as pesquisas nessa área ainda no começo e pouco produzidas no Brasil. 

“O que temos de mais novo está vindo de estudos conduzidos na Coreia. Aqui no nosso país a pesquisa mais notada é a de Paulo Broffman, destinada à regeneração de vasos sanguíneos do sistema cardíaco”.

 - Os avanços – disse ele - ainda são poucos. Nenhum estudo conseguiu ainda, por exemplo, mostrar que é possível regenerar o músculo cardíaco usando celélulas-tronco. Os grandes benefícios dessas pesquisas só virão nas décadas seguintes.

Enio Buffolo foi um dos palestrantes ontem (14) do XXIV Fórum Científico, megaevento que congrega mais de dez congressos, seminários e simpósios das diversas especialidades envolvidas com cirurgia cardíaca e que está sendo realizado em Maceió, no Hotel Radisson.

 Buffolo é considerado um dos grandes mestres da cirurgia cardíaca mundial – criou a modalidade de cirurgia com o coração ainda batendo, a técnica endovascular para aneurisma da aorta e o método de implantação de válvulas cardíacas por meio de cateter, sem necessidade de abrir o paciente.

Fantasma do passado - Sua palestra foi sobre a evolução da cirurgia cardíaca nos últimos 25 anos. “Os avanços nesse período foram bastante significativos. Cirurgia cardíaca não é mais aquele fantasma do passado, em que muitos pacientes até chegavam a fazer testamento antes de se submeter a ela”, disse.

A segurança hoje é absoluta, garantiu. “A operação e recuperação de um paciente agora são agora muito mais rápidas e seguras. Os riscos são abaixo dos 5%. Tudo isso se deve aos avanços da tecnologia em todos os campos da ciência e pesquisas”.

Mas em algumas áreas há ainda muito a se avançar e até se comprovar a eficácia. Uma delas é a construção de válvulas cardíacas artificiais. Apesar dos modelos mais eficientes e duradouros fabricados hoje em todo o mundo, segundo Enio Buffolo elas não atingiram ainda a sobrevida ideal em funcionamento nos pacientes.

A vida útil de uma válvula cardíaca é projetada em 15 anos. “Mas acredito que as últimas gerações durem mais. Isso veremos nos próximos anos”, acrescentou. Por essa circunstância, alguns procedimentos sofrem limites, como a colocação dessas próteses em jovens.

- Quando colocamos a válvula cardíaco num paciente com 80 anos de idade, sabemos que terá duração compatível com sua expectativa restante de vida. Mas em um jovem ela precisará futuramente ser trocada.

Por isso, explicou, há um grande esforço dos cardiologistas em postergar ao máximo a implantação de válvulas cardíacas nesse grupo etário. “Investimos esforços em conservá-las (as válvulas cardíacas do paciente) para só em último caso substituí-las pela válvulas artificiais”, disse.

A expectativa da comunidade científica é de que nas próximas gerações as novas válvulas artificiais tenham maior durabilidade. Vários estudos, inclusive no Brasil, estão sendo feitos nesse sentido.

Robótica e cirurgia - Uma outra área que na opinião de Enio Buffolo ainda não “emplacou” na cirurgia é a da robótica. “Até agora não passou de show tecnológico, com poucos resultados concretos. O que temos visto tem sido apenas puro marketing para hospital”, criticou.

Para Buffolo, “nenhum robô demonstrou até hoje capacidade para substituir um cirurgião habilidoso. Não trouxe concretamente nenhum benefício à cirurgia cardíaca”. Ele ressalvou, porém, que ao menos em uma especialidade – na urologia – a robótica demonstrou ocupar um melhor espaço: em cirurgia da próstata.

Para ele nem mesmo a tecnologia desenvolvida para a realização de cirurgia à distância até agora se mostrou eficiente. “E pela mesma razão: ainda que o cirurgião esteja no comando, é feita por robô...” – disse.

Enio Buffolo ainda participará hoje (15) do encerramento do Fórum Científico, debatendo novas técnicas cirúrgicas e se integrará às recomendações finais  dos eventos aos governos, de maior investimento na saúde e maior estrutura para captação de órgãos e realização de transplantes.

acesse>twitter@Bsoutomaior

Email:Bernardinosm01@hotmail.com