Segundo pesquisa do Instituto Brasileira de Geografia e Estatística (IBGE), a maternidade entre adolescentes no Brasil reduziu entre os anos 2000 e 2010, saindo de 14,8% para 11,8%, na faixa etária dos 15 aos 19 anos. Entre as capitais do país, o índice teve a menor média em Belo Horizonte (MG), com 6,5%, e maior em Boa Vista (RR), com 16,9%. Entre os Estados, Roraima e Acre têm os maiores índices (20,1% e 19,9%, respectivamente); Distrito Federal e São Paulo, os menores (8% e 9,1%).

Essas estatísticas divulgadas no último dia 31 de outubro são de extrema relevância para um mapeamento sociológico e da saúde brasileira. É que a gravidez na adolescência traz sérias implicações biológicas, familiares, psicológicas e econômicas, limitando ou adiando as possibilidades de desenvolver o engajamento dessas jovens na sociedade. E, na prática clínica, associa-se a gestação precoce à probabilidade de aumento das intercorrências e até morte materna, assim como, aos índices elevados de prematuridade, mortalidade neonatal, baixo peso dos recém-nascidos, entre outras consequências.

Ginecologista e obstetra da rede Hapvida Saúde, Adriana Maciel não percebe a diminuição dos índices levantados pelo estudo do IBGE na rotina dos consultórios em que atende. “Ainda existem muitas meninas gestantes. E isso é muito grave, pois, essas garotas, que ainda não completaram o crescimento, têm dificuldade de satisfazer as demandas nutricionais do feto, prejudicando o seu estado nutricional. Se o corpo da garota for pequeno, pode haver dificuldade na passagem do feto durante o parto normal”, citando apenas algumas das complicações.

Além dos riscos das doenças sexualmente transmissíveis (DST’s), a gravidez pode trazer não somente complicações à saúde da mãe e do bebê, mas ainda riscos sociais, com a perda do projeto de vida, da educação e de inserção no mercado de trabalho. O Ministério da Saúde considera de risco toda gravidez em que a mãe tem idade inferior (ou igual) a 17 anos, quando, como um fator dependente dessa faixa etária, pode ocorrer aumento nos índices de toxemia (distúrbios metabólicos como eclampsia, perda de albumina pela urina, vômitos incontroláveis).

Para Adriana Maciel, os problemas orgânicos estão intimamente ligados à tentativa de esconder a gravidez dos familiares, especialmente no primeiro trimestre, gerando uma baixa frequência de consultas ao pré-natal. “Sem contar com o lado emocional, com a queda da autoestima dessas meninas. E isso aumenta a dificuldade de vinculação com o filho, o que origina sentimentos de censura, negação, regressão, introspecção e medo”, enumera a especialista.