“É pau para comer sabão, e pau para saber que sabão não se come!”, disse o deputado estadual reeleito Dudu Hollanda (PSD), durante a sessão desta terça-feira (7) da Assembleia Legislativa do Estado de Alagoas. As últimas palavras da expressão que faz apologia à violência foram cortadas pelo presidente do Legislativo, Fernando Toledo (PSDB), que tentou desde o início da sessão evitar mais manifestações indecorosas do colega que apresentava sinais de embriaguez.
A frase que encerrou a sessão de ontem mostrou um parlamentar menos “eufórico” do que o Dudu que distribuiu beijos e abraços antes de começarem os trabalhos. Tapas na bancada sinalizaram para um tom equivocadamente agressivo do deputado, e seus últimos olhares dirigidos para a sala de imprensa demonstraram claramente de que lado o parlamentar imagina ter inimigos.
Àquela hora, Dudu já havia sido abordado em plenário pela jornalista Vanessa Alencar, antes da sessão, para ouvi-lo sobre reclamações de vizinhos de sua chácara, na Serraria.
Lá, o deputado do PSD comemorava sua vitória, entre o sábado (4) e a madrugada do domingo (5), antes mesmo de ser eleito. E perturbou o sossego alheio, mas não apenas com músicas de gosto duvidoso e em volume além do aceitável. Ele dirigiu impropérios para a vizinhança, afirmando "ter licença para fazer de sua casa um cabaré”.
Dentro do plenário da Assembleia, respondeu para a jornalista com desdém: “Minha festa está apenas começando. Será uma semana de festa. Os vizinhos que quiserem participar estão convidados e os que não gostarem mandem prender o deputado Dudu Hollanda”.
E ao virar as costas para a repórter do CadaMinuto que – ao contrário de alguns privilegiados – precisa trabalhar sóbria para manter seu emprego, Dudu Hollanda comentou para alguns colegas de parlamento: “Tá pensando que eu tenho medo da imprensa ou da polícia!”
Logo em seguida, um policial da Assessoria Militar da Assembleia ainda procurou a jornalista e disse: “Releve o que ele disse, viu? Ele está fora de si”. Uma postura que, além de inadequada e fora da competência deste policial militar, pode ser traduzida como uma clara intimidação ao trabalho da imprensa.
Quando Dudu leu a ata com tom de discurso e fala desarticulada, um misto de constrangimento e de galhofa se espalhou pelo plenário, que estava pronto para ser palco de pronunciamentos de agradecimentos pelo votos. Por isso, apenas o deputado Judson Cabral (PT) usou a tribuna, enquanto colegas de Dudu se revezavam para aconselhá-lo a não utilizar mais a palavra.
Nada adiantou, nem mesmo o esvaziamento providencial do plenário, que resultou na falta de quórum.
"Questão de ordem!"
A matéria do CadaMinuto sobre as reclamações dos vizinhos contra a farra de Dudu Hollanda já estava publicada, quando o deputado pediu a palavra no final da fala de Judson Cabral, para elogiar o petista. Em seguida, mesmo sem quórum, recorreu à posição de líder do PSD para usar a palavra, elogiar a eleição do filho do presidente da Assembleia, Bruno Toledo (PSDB) e lamentar a derrota de seu irmão, Fernando Holanda (PSD), na disputa pela Câmara Federal.
Emendou a fala com um autoelogio, com direito a versos que rimavam com “o deputado do povão”. E apesar de ter o microfone cortado pelo presidente da Assembleia, sua ameaça final foi bem entendida, por trás do vidro sujo da sala de imprensa. Infelizmente, as imagens que podem ser assistidas abaixo não registram os olhares raivosos de Dudu em direção à sala de imprensa, ao se levantar da cadeira, após o discurso.
"Não era eu!"
Três jornalistas seguiram Dudu Hollanda até os corredores dos gabinetes, para colher mais explicações a respeito da ocorrência em sua chácara. Ele chegou a cumprimentar o Blog, mas logo entrou no gabinete do colega Marcelo Victor, acompanhado de perto por dois policiais da Assessoria Militar da Assembleia.
Saiu após cinco minutos sem falar com a imprensa, que ainda insistiu em procurá-lo em seu gabinete, onde seus assessores sugeriram que os repórteres o entrevistassem somente no dia seguinte, hoje, porque ele estaria com “problemas pessoais”.
A pergunta que o Blog esperava fazer ao parlamentar era: quem merece “pau” para comer sabão e, depois, apanhar ainda mais para aprender que sabão não se come? A imprensa? Seus vizinhos? Ou a polîcia? A fala em tom de ameaça é preocupante, principalmente por ter sido dita por quem já arrancou parte da orelha do seu então colega vereador Paulo Corintho, numa nada abençoada noite de Natal, em 2009.
Talvez, na sessão de hoje, Dudu possa utilizar os versos de um forró que ele adora cantar ao envergonhar os alagoanos, como fez em outro vídeo que viralizou na internet, para tentar explicar os seus vexames dos dias anteriores e diga: “Não era eu, não era eu! Confundiram o meu carro, minha roupa e meu sapato, te juro, não era eu!”.
Mas não vai adiantar. Era ele, sim, e mais uma vez. Era bom se fosse a última. Mas certamente, não será. Pois contará com a omissão e o apoio de seus colegas e da inutilizada Comissão de Ética da Assembleia.