Admiro o cientista político Marco Aurélio Nogueira, professor titular da Unesp, desde o final da década de 1970, nessa época um jovem e influente intelectual da esquerda paulista. Essa admiração cresceu mais ainda com o tempo.    

Entrei em sua página no facebook, como de costume, e li um dos seus textos, com o qual tenho total concordância: “Uma coisa é quando a direita ataca a esquerda e os democratas com grosserias e infâmias. É da cultura dela fazer isso. Outra coisa é quando a esquerda se vale dos mesmos procedimentos fascistas para atacar, não a direita, mas as esquerdas e os democratas. A questão não é de mais ou menos vitimização, mas sim de mais ou menos honestidade, critério e fidelidade às próprias tradições. É uma questão que tem a ver com o método de fazer política e explicitar diferenças. Dizer que bato nos outros porque eles bateram antes em mim e por isso tenho o direito de mentir e difamar não é coisa de gente de esquerda. Nem de gente séria”.

 

        As campanhas eleitorais há muito tempo não são dirigidas pelos partidos políticos e menos ainda se inspiram em ideias dos seus intelectuais orgânicos, nem os acadêmicos, como era a tradição dos partidos de esquerda, centro ou de direita, até 1990. Esse marco temporal pode ser um pouco antes ou um pouco depois. Fica na margem de erro ou margem de segurança.

        As diretrizes das campanhas, os temas, as falas dos candidatos são emanadas dos marqueteiros e principalmente do que se apura nas pesquisas de opinião pública, as chamadas pesquisas qualitativas ou “qualis”, como são tratadas na intimidade.

        A disputa da presidência da República esta acontecendo entre duas mulheres, ambas com trajetórias de esquerda, e entre dois partidos com histórias que se cruzaram nos últimos 29 anos, para ficar nesses dois pontos, aparentemente convergentes.

        Mas quando o centro da campanha é a desconstrução da adversária, como faz Dilma Rousseff contra Marina Silva, tudo que se havia criticado e combatido, que a direita fazia de maldade, baixarias e mentiras, até bem pouco tempo antes da chegada ao poder, agora é natural, é parte da estratégia de campanha.

        Vergonhoso é perder, mas para ganhar vale tudo, até golpe abaixo da linha da cintura.

        Aguardemos o próximo round.