Eleições no Brasil têm Emoção, Perda da Noção e Ódio

11/09/2014 05:48 - Geraldo de Majella
Por redação

O fenômeno das redes sociais é revelador do quanto as pessoas podem se despir no mundo virtual. O impulso em curtir, compartilhar e opinar sem a preocupação mínima em fazer a leitura, rápida que seja, no caso do texto, escutar o áudio ou prestar atenção no vídeo, tem levado ao absurdo, ao trágico e também ao hilário.

A campanha eleitoral está em curso e todo tipo de crítica – fundada ou infundada – é veiculada pelas redes sociais. Se faço a crítica na internet, em maior ou menor grau, não há como retroceder e muito menos como domesticá-la. Essa é outra discussão.  

Há empresas especializadas em postar conteúdos sérios, programáticos e inteligentes. Há também o lado B. Esse lado é o da maldade. A empresa que posta conteúdos sérios e inteligentes também pode inundar as redes sociais de difamações e calúnias, que muitas vezes atingem a honra das pessoas, candidatos a cargos eletivos ou não.

Diante da realidade cruel das campanhas no Brasil, me socorro de uma licença poética para usar um verso da música “Pois é”, do grande compositor mineiro Ataulfo Alves: “[...] a maldade dessa gente é uma arte [...].”

Tenho evitado entrar em polêmicas eleitorais; nem sempre consigo, mas pego leve. Acontece que amigos fraternos, gente com quem tenho convivido nas últimas décadas, estão vivendo um alto nível de excitação eleitoral. Algo que beira o descontrole. Não os acho fundamentalistas, pois não é caso, pela complexidade da afirmação.

Eu os definiria como fanáticos torcedores de futebol. Se os denominasse de holligans das redes sociais não estaria, creio, exagerando na classificação. O ímpeto belicoso tem sido até o momento retórico, mas nada garante que num acesso de fúria ajam com violência física, até.

Essas pessoas com quem convivo e de quem sou amigo(a), quando são contrariadas em seus “argumentos” revelam uma face autoritária, malcriada e deselegante. Alguns, claro; outros até escutam, mas não conseguem realizar uma reflexão sobre o tema tratado.

A ameaça eleitoral é fator de ira e ódio explícitos. Nada que não entendamos com racionalidade, afinal está em jogo a presidência da República.

As sentenças acusatórias são peremptórias. Marina Silva é contra o Brasil. Está a serviço dos banqueiros nacionais e internacionais. É uma evangélica fundamentalista. É tutelada pelo pastor Silas Malafaia. Quando se trata da assessoria econômica de Marina Silva, o economista Eduardo Giannetti da Fonseca é identificado como neoliberal.

E a mais hilário até o momento: Marina Silva está sendo apoiada pelo Clube Militar, organização de oficiais direitistas e de extrema direita. O Clube Militar através de uma nota oficial desanca o pau em Marina e Dilma e anuncia o apoio a Aécio Neves. Não fiz outra coisa: ri.

Li na minha página no Facebook uma série de “análises”, sempre com um recorte de “esquerda”. O apoio do Bispo Edir Macedo, proprietário da Rede Record de Televisão e Rádio. Não vejo nada de anormal nesse apoio e aliança política; Edir Macedo tem uma sigla partidária, tem bancada no Congresso Nacional.

Nem sou daqueles que ficam estupefato com a ida da presidente-candidata Dilma Rousseff ao Templo de Salomão. E também nunca me senti traído pelo ex-presidente Lula, quando nomeou o tucano e banqueiro Henrique Meireles para presidir o Banco Central.

Lula não cometeu crime de lesa-pátria também ao nomear o representante do agronegócio Roberto Rodrigues para o Ministério da Agricultura.

O presidente Lula tinha como ministros Roberto Rodrigues, Dilma Rousseff e Henrique Meirelles. O ex-presidente formou um grupo de conselheiros econômicos de amplo espectro político e ideológico. E o célebre economista da ditadura militar Antônio Delfim Netto pontificou e continua sendo, no governo Dilma, ouvido e considerado.

Finalizou com a mais estonteante aliança realizada nos últimos anos: Lula, Dilma x Maluf. Confesso que me senti incomodado. Mas como não sou petista, nem voto em Dilma Rousseff, constato que há um nivelamento por baixo.

Delfim Netto era uma espécie de secretário do demônio para a esquerda de um modo geral, e o Paulo Salim Maluf, a encarnação do demônio.

Usei aqui a expressão demônio propositalmente, já que o maniqueísmo tem predominado e a perda de noção é uma evidência clara. Eleição não é jogo de futebol. E os meus amigos e companheiros não são holligans, apesar de se comportarem como tais.

 

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