Atualizada às 18h32

Novo relatório publicado pela Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) aponta a operadora Oi como a pior prestadora de serviços de internet banda larga em Alagoas. Os dados se referem ao último mês de junho e avaliam seis indicadores de qualidade. Em três deles, a prestadora Oi não atingiu as metas mínimas estabelecidas pela Entidade Aferidora de Qualidade (EAQ), órgão autônomo e independente criado pela Anatel para medir a qualidade da banda larga no país, que divulga os resultados das medições mensalmente.

O quadro é o mesmo em todos os estados do Nordeste, onde a Oi aparece como a operadora que menos atinge as metas. Em Alagoas, a prestadora deixou a desejar nos quesitos velocidade média da banda larga móvel – onde a meta é alcançar no mínimo 70% da velocidade contratada – e latência e perda de pacotes da banda larga fixa. As demais operadoras atingiram todas as metas nos seis indicadores, com exceção da Vivo quanto à velocidade instantânea.

Outro dado chama atenção em relação à internet fixa no estado: a velocidade média das conexões dos planos com mais de 2Mbps (megabits por segundo) da Oi é a menor entre as três operadoras pesquisadas. Enquanto a GVT registra 20.36 megabits por segundo e a Net Vírtua marca 16.00 Mbps, a Oi aparece em último lugar com 6.88 Mbps.

A universitária Ana Flávia Machado, 22 anos, é usuária da internet móvel da Oi e sente na pele, ou melhor, na tela do smartphone os efeitos da baixa qualidade do serviço apontada pela pesquisa. Ela relata que tem dificuldades, todos os dias, para acessar a rede devido à lentidão da conexão. “A internet é péssima, lenta demais. Leva muito tempo para enviar fotos ou áudios e também para baixar algum arquivo. Até para abrir um navegador e acessar qualquer site é complicado”, afirma Ana Flávia, que se diz totalmente insatisfeita com o serviço.

As mesmas queixas fizeram a estudante cancelar o plano fixo da Oi Velox e contratar outra operadora. “Além de lenta, a conexão caía muito. Cheguei a passar dias inteiros sem internet e só à noite voltava a funcionar. Daí resolvi mudar e hoje estou satisfeita”, conta.

Os problemas relatados pela usuária podem ser explicados pela deficiência da Oi em alguns dos fatores medidos pela EAQ, segundo o professor doutor Heitor Ramos, do Instituto de Computação da Ufal (Universidade Federal de Alagoas). O especialista em redes afirma que a velocidade média implica, justamente, na lentidão sentida pela estudante ao acessar a internet pelo celular.

Já as quedas de conexão da internet fixa podem estar relacionadas ao fator perda de pacotes, no qual a Oi também não atingiu o limite mínimo estabelecido. “Na internet, a informação é dividida em ‘pacotinhos’. Se um desses pacotes de dados se perde e não chega ao usuário, ele tem que ser reenviado para que a informação chegue completa ao seu destino. Isso reflete em lentidão, pois o pacote perdido tem que ser

retransmitido, então é como se o processo começasse todo de novo”, explica Heitor. “E se o índice de perda de pacotes for muito alto, a sensação para o usuário é de que não há internet”, completa.

A latência, terceiro indicador em que a Oi foi reprovada, significa o atraso na chegada dos dados. “É o tempo que a informação que você solicitou leva para chegar ao seu receptor. Se a latência for alta, isso atrapalha uma chamada no programa Skype, por exemplo. Você vai sentir atraso nas falas. É aquela demora para responder, que atrapalha a comunicação”, explica o professor.

Setor público é o que mais sofre

O mercado corporativo e o setor público são os mais prejudicados quando o assunto é internet. De acordo com o professor Heitor Ramos, são poucas as opções de operadoras que ofertam os serviços de banda larga para esses públicos. A falta de concorrência faz com que essas empresas, entre elas a Oi, usem infraestruturas de décadas atrás e cobrem preços altos por um serviço de baixa qualidade.

“Sabendo que o setor público tem dificuldade em mudar de fornecedor, por depender de licitações, as operadoras nos vendem infraestrutura de décadas atrás. Elas vendem internet a preço de ouro, com baixíssima qualidade. E a gente tem que engolir, já que só elas prestam o serviço. Nesse sentido, o setor público e corporativo sofre mais que as pessoas físicas, que podem cancelar o plano a qualquer hora e mudar de operadora”, afirma Heitor.

“Algumas grandes operadoras herdaram a infraestrutura da época das privatizações e relutaram muito em investir em tecnologia. Se as operadoras menores não tivessem surgido no mercado, estaríamos usando tecnologia ainda mais antiga, porque as grandes [operadoras] não faziam a mínima questão de investir. Foi a concorrência que forçou o investimento em infraestrutura”, finaliza.

Investimentos em infraestrutura poderiam resolver problemas, diz especialista

Uma gestão planejada e mais investimentos em infraestrutura melhorariam a prestação do serviço, na opinião do professor Heitor Ramos. O problema da perda de pacotes, por exemplo, seria resolvido com mais infraestrutura para evitar falhas no circuito ou aguentar a sobrecarga de usuários simultâneos.

“Os técnicos sabem, em média, quantos usuários a rede pode suportar simultaneamente. As exceções são aqueles dias em que ocorre uma tragédia que chama a atenção de todo mundo, como o ataque às torres gêmeas nos Estados Unidos. Mas num dia normal, eles sabem a capacidade média do circuito. Só que as empresas vendem mais planos do que podem suportar e acabam não conseguindo dar conta da demanda”, afirma o especialista.

O doutor defende sanções mais duras às operadoras, como multas altas. “Teria que haver sanções mais pesadas para esse tipo de comportamento. Porque quando atinge o bolso, eles repensam se não valeria mais a pena investir em tecnologia e infraestrutura do que gastar com as multas”, opina Ramos.

Posicionamento da Oi

Em nota encaminhada à redação do CadaMinuto no final da tarde desta sexta-feira (05), por meio de assessoria de imprensa, a Oi afirmou que as metas estipuladas que não foram alcançadas já "foram mapeadas e estão sendo cuidadosamente analisadas" e destacou o investimento que tem feito para melhorar a oferta de serviços aos usuários.

Confira na íntegra:.

"A Oi informa que está priorizando investimentos em suas redes de telecomunicações, com foco no tripé Operações, Engenharia e TI, para melhoria da qualidade do serviço aos clientes em todas as regiões.  No primeiro semestre do ano, a Oi investiu em Alagoas R$ 13 milhões, visando à expansão e melhoria da qualidade da rede móvel (3G e 4G) e da rede fixa para serviços de banda larga e TV paga. A Oi acrescenta que complementou sua cobertura de banda larga móvel com o lançamento da rede Oi WiFi, com mais de 800 mil hotspots disponíveis no país. Em Alagoas, a rede Oi Wifi registrou crescimento de 70,17% de janeiro a julho deste ano, alcançando mais de 5.800 mil pontos de acesso.  A rede Oi WiFi é um investimento da companhia para proporcionar melhor experiência de uso da internet móvel aos seus clientes, complementando as estruturas 2G, 3G e 4G. Sobre os resultados da medição de qualidade de banda larga feita pela Anatel, a Oi esclarece que as situações em que as metas estipuladas não foram alcançadas já foram mapeadas e estão sendo cuidadosamente analisadas".