Na última terça-feira, cerca de 20 fiscais da Superintendência Municipal de Controle e Convívio Urbano (SMCCU) realizaram uma operação ostensiva para organizar o reposicionamento dos ambulantes no Centro de Maceió. Desde o dia 03, a via principal está proibida. Também delimitaram o espaço máximo a ser ocupado por cada um e não mais será permitido que os vendedores se encostem nas frentes das lojas. Contudo, a iniciativa, não tem surtido o efeito esperado. Pelas ruas do comércio o que se escuta são lojistas reclamando dos camelôs, ambulantes insatisfeitos com o shopping popular e comerciantes do shopping decepcionados com todo o sistema.
É praticamente impossível saber ao certo quantas pessoas trabalham irregularmente nas ruas da capital já que, todos os dias, novos mercadores esticam suas esteiras ou montam mesas ao longo de toda a cidade. Em bairros como Farol, Jacintinho e Bebedouro, os lugares tomados dificultam a travessia de pedestres, congestionam o trânsito e são pontos fáceis para pequenos crimes. Entretanto, nenhuma dessas áreas recebe a mesma quantidade de pessoas que passam pelo Centro de Maceió cotidianamente.
O Shopping Popular
Em julho de 2012, 425 camelôs foram cadastrados pela Prefeitura Municipal de Maceió passando a fazer parte da categoria de micro empreendedor individual, o que lhes garantiu saírem da informalidade. Esses trabalhadores foram instalados no Shopping Popular Nossa Senhora de Fátima, prédio com mais de 400 boxes, banheiro, escada rolante, praça de alimentação, dentre outros benefícios estruturais. Os ambulantes que não conseguiram espaço no edifício foram transferidos para um estacionamento próximo à Praça Palmares, tudo isso com o intuito de desocupar as vias públicas do calçadão do comércio e imediações.
A promessa era de que, em média, 20 mil pessoas circulariam mensalmente pelo novo espaço, aumentando as vendas de todos em mais de 80%. Menos de dois anos se passaram, as ruas e alamedas foram novamente apoderadas, os boxes da parte superior do prédio estão praticamente vazios, a escada rolante e o único caixa eletrônico do local estão quebrados, o ambiente não tem ventilação adequada (o que o torna quase insalubre) e a divulgação prometida para atrair os clientes não tem acontecido. “O shopping não tem nenhum tipo de serviço que possa gerar propaganda espontânea. O Detran, que foi inaugurado dia desses, é um anônimo aqui dentro, assim como todos nós. A promessa de trazerem um Já (serviços) nunca foi cumprida. Maceió, ao contrário do que acontece na maioria das capitais, incentiva a atividade de camelô, talvez porque bagunça dê lucro”, desabafa José Carlos Cerqueira.
É evidente o descontentamento de todas as categorias envolvidas, por isso associações e sindicatos cobram a continuidade dos projetos do segmento, iniciados pela gestão anterior. O comerciante Enoque Correia trabalhou por nove anos na Praça Palmares até o dia em que foi convencido a se mudar para o local adequado. “Me alertaram sobre uma notificação vinda do Ministério Público que exigia que todos saíssemos das ruas. Eu vim pro shopping desde a inauguração e nunca saí daqui mesmo sem a menor estrutura. Perdi as contas de quantas vezes fui à reuniões com a Semtabes e com o Sebrae mas é óbvio que somos vítimas da omissão política que nem cogita prosseguir com o trabalho iniciado em outra gestão, como se os projetos fossem do governo e não do município. Estou muito decepcionado mas ainda não perdi a esperança. Não quero voltar pra rua. Quero poder fidelizar minha clientela, garantir bom atendimento e cumprir com meu dever, embora a prefeitura não tenha cumprido com o dela” disse.
Os comerciantes do Nossa Senhora de Fátima denunciam que a secretária do trabalho, Solange Jurema, foi apenas uma vez ao espaço desde que fora implantado. Relatam também o medo que sentem da insegurança. “Fui assaltada anteontem às 16h por dois homens armados. Levaram 25 mil reais em mercadorias e é por essas e outras que há muito tempo ninguém paga a taxa de locação, mas nem pra cobrar o governo aparece por aqui”, afirma Luzilma de Araújo, vendedora.
Impasse no Centro
No Centro da cidade os problemas seguem um viés diferente. O fato mais perceptível é o embate entre lojistas e ambulantes. Em um ambiente sem divisórias, com pessoas vindas de diversas partes do país e até de fora dele, nem sempre o dia termina apenas com hostilidade e provocações sem importância. Gerentes e proprietários se irritam com a concorrência desleal e relatam o medo que sentem de represálias caso surja uma divergência. “O conceito de vendedor ambulante traduz um micro comerciante que vende uma quantidade limitada de mercadorias, leves o suficiente para que eles consigam carregá-las sem dificuldades. Tem camelô que traz de 10 a 12 sacolões. É uma pequena loja, eles deveriam estar formalizados e trabalhando em local apropriado. Aqui, em frente às lojas, impedem o tráfego de pedestres, sem contar que qualquer desavença, entre eles mesmos, já gera um conflito assustador. A secretaria tem deixado correr solto, numa mentalidade retrógrada de que dar continuidade às obras do outro conta pontos apenas para o antecessor”, relata A.M., proprietário de loja.
Na operação de terça-feira, o diretor de postura e fiscalização da SMCCU, Dorgival Ferreira, esteve presente e advertiu que aquela era uma medida temporária. “Nosso trabalho, hoje, é de conscientização. Estamos alertando que esse espaço está sendo ocupado indevidamente e que eles serão retirados daqui o quanto antes. O shopping está sendo revitalizado e assim que as obras terminarem eles deverão ir para lá” explica.
O problema não deveria ter o tamanho que tem. A atividade é ilegal e se apenas isso não fosse o suficiente, tem acontecido um retrocesso na tentativa de solucionar o empasse. Da maneira que está, uma visão otimista sobre o modelo atual é quase utópico. “Minha localização lá no shopping ficou muito ruim. Meu box era bem escondido e em três meses vendi 10 reais. Com minha mulher doente em cima de uma cama, eu não tinha condições de ficar passando por isso, daí voltei pra rua”, afirma Luís Veríssimo.
Longe do que os cidadãos comuns enxergam, existem relatos de crescimento do tráfico de drogas em plena luz do dia nas ruas do comércio de Maceió. A maioria dos ambulantes faz suas necessidades fisiológicas no antigo prédio do IBGE, que não oferece condição alguma de higiene, já que não está ali para isso. São pais e mães de família subsistindo, mas sem engrossar as estatísticas de desemprego, dando a falsa impressão de que está tudo bem.
Os problemas estruturais vêm atrelados ao descaso com que são tratadas as leis de direitos autorais, anti-pirataria e de sonegação fiscal. Fazer o Shopping Popular funcionar como se deve, não soluciona apenas um problema estético, mas auxilia na projeção do futuro que se sonha para a capital Alagoana.