A justiça que não lê

28/05/2014 05:00 - Welton Roberto
Por welton roberto
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Recentemente fomos surpreendidos com notas máximas no ENEM para candidatos que escreveram receitas de bolo, hinos de times e coisas desse tipo, demonstrando assim que os professores (não todos, lógico) não realizavam a contento seu trabalho de correção.

Na justiça parece que a moda pegou. Um advogado, querendo demonstrar que os juízes não liam suas petições, mesmo sentimento que nos assola diariamente, pois parece que estamos falando de situações diferentes quando recebemos as decisões para aquilo que está sendo pleiteado, resolveu copiar os estudantes. 

Na sua peça inicial escreveu nada mais nada menos que uma receita de PAMONHA. Não quero aqui aproveitar o trocadilho, mas de certa maneira conseguiu, ao menos desta forma, demonstrar que o seu sentir se refeltia realmente nas contendas judiciais.

 Através de sua ousadia rebelde podemos tirar várias reflexões e indagações. Algumas com repercussões sérias e graves. Juizes não leem os pleitos? De que forma então estão decidindo as causas? O que faz da justiça um enigma para os destinatários dela?

Aqui adiante um pequeno reflexo disso no que compreendo por justiça dentro do seio atual, sem minimizar, contudo a responsabilidade de todos os atores que estão nela contextualizados: juízes, promotores, advogados, defensores, servidores etc. 

A justiça se tornou burocrata. Um funcionário público com crachá e cartão de ponto. Como carimbadora de pleitos, esqueceu que seus feitos atingem seres doentes, carentes, gente, enfim.

As dores não importam mais. A liberdade, mera quimera. A responsabilidade irresponsável.

A justiça não se importa em ser injusta, desde que esteja em dia com as metas do CNJ. A justiça não lê mais os clamores que pesam nas palavras, o acumular das páginas se tornou o peso pesado para os ombros cansados dos mortais que se descobriram não divinos. A justiça não ficou somente cega. Ela ensurdeceu. Emudeceu.

E agoniza... agoniza... agoniza...

Grita aos píncaros só quando lhe é oportuna, pois ainda que não seja mais justa, ela ainda precisa do ibope para a manutenção do seu status de sábia e poderosa.

E desfila trôpega, cambaleante para uma plateia de ignorantes que reprisa sua verborragia em latim e aramaico, mas não sabem para o que aquilo realmente serve e a quem serve.

A justiça dos milhares de feitos por dia julga sem julgar, a justiça perdeu seus destinos e seus planos estão rascunhados em algum lugar sem ponteiros.

A justiça de todos nós, a justiça somos todos nós...a justiça que faz de todos nós (in)justos...

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