A multidão delinquente

27/05/2014 12:21 - Welton Roberto
Por Welton Roberto
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Linchamentos públicos, saques, depredações, quebra-quebra, turbação da paz e do sossego, roubos, furtos, invasões, lesões corporais, mortes. E pasmem, tudo isso em nome de mais segurança, mais saúde e mais educação. 

O contrasenso tem alguma explicação em teorias freudianas quando se trata das atitudes humanas realizadas por uma massa, por um contingente de pessoas reunidas, agrupadas sem maiores propósitos soberanos, por uma "manada" que perde o equilíbrio e a razão acerca dos limites entre o certo e o errado, o justo e o injusto e eleva sua conduta à máxima potencialização da  irracionalidade do grupo social.

Perdendo a sua identidade o ser humano enxerga na manada o seu espelho e passa a agir de forma instintiva, liberando seus freios inibitórios e fazendo aquilo que, por lei, seria logicamente impedido a fazê-lo.

Políbio ensinava que o homem era mau por natureza e só faria o bem quando fosse compelido a realizá-lo por lei. Enxergava na lei um obstáculo ao mal, uma forma de enquadramento de conduta que possibilitaria o convívio em comunidade.

De repente, em lugares diferentes do Brasil a teoria polibiana vai se comprovando. Guarujá, Recife, São Paulo, Maceió, ou em qualquer outro canto, a massa passou a ser violenta, sem uma maior razão, mas pelo simples fato de protestar "contra tudo isso que está aí".

A generalização da podridão só serve aos podres, e todos, indistintamente,  passaram a sê-lo. 

No direito penal chamamos isso de multidão delinquente.

E não é fruto de uma invenção brasileira.

E também não é culpa da Copa ou da Dilma, alto lá!

O problema é que o ser humano perdeu a noção de convívio social e tenta encontrar seu espaço no tecido esgarçado de valores que se transformou a sociedade moderna. A sociedade líquida, no dizer de Baumann, de valores morais relativizados, de hipocrisia em alta, passou a condenar os atos que ela mesma produz, mas finge não ser dela a responsabilidade por tais atos.

O inimigo é sempre o outro. 

Condena-se tanto que se esqueceu porque tantas condenações. Acusa-se tanto que se esqueceu a razão de tantos dedos em riste prontos para apontar para o outro os recalques de suas frustrações.

De tudo isso, tiramos algumas lições, e quase sempre estimuladas pelo lugar comum do senso midiático plástico e instantâneo. A mídia comanda a manada perdida que reproduz de forma instintiva aquilo que ela mesmo assiste.

É autofagia pura!  

Perdemos a guerra para o nosso maior inimigo.

Estamos nos suicidando.

E o inimigo, ao final, percebe que mesmo ganhando a guerra, perdeu a razão e se vira para você e te pergunta: "e você aí, por que não me impediu de fazer tudo isso?"

 

 

 

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