Nos últimos anos, a polarização das análises tornou-se quase que uma regra, quando o assunto é o desenvolvimento econômico de Alagoas. Se de um lado, o governo dá visibilidade à chegada de novos empreendimentos; de outro, há uma corrente de especialistas que derruba totalmente a versão de qualquer avanço nessa área e que ainda defende a tese retração na industrialização e nos empregos.  Mas, afinal de contas, a economia alagoana avançou ou não?

Para o professor da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade Federal de Alagoas, Francisco Rosário, que também integra o Grupo de Estudos em Tecnologia, Inovação e Competitividade (GETIC), há um equívoco quando se relaciona processo de industrialização com um volume grande na geração de empregos diretos. Ou seja, mais indústria não significa, necessariamente, muitos novos postos de trabalho. Assim como o fechamento de unidades fabris pode representar um impacto mínimo no saldo de empregos.

“Apesar do senso comum, o processo de industrialização atualmente não significa empregos diretos em grande volume, haja vista que as empresas industriais que estão se instalando no Nordeste, e em Alagoas particularmente, o fazem com tecnologias mais avançadas e economizadoras de mão de obra”, explica. Um exemplo é a planta de PVC da Braskem, de capital intensivo,  que leva as indústrias satélites a gerar mais empregos e a promover um efeito multiplicador em outros setores da economia.

Nesse sentido, o setor industrial contribui para gerar um maior número de postos de trabalho no setor de comércio e serviços, que mantém um crescente estoque de empregos segundo as informações do Ministério do Trabalho para Alagoas. “A ressalva que se faz aqui é a qualidade do emprego no comércio e serviços, pois são setores que absorvem grandes quantidades de mão de obra com pouca qualificação. De toda forma, não podemos determinar que esse crescimento é fruto apenas do Bolsa Família, mas é preciso considerar o aumento do estoque de emprego formal no estado”, observa o economista. 

Para Rosário, os debates sobre industrialização e consequente abertura de postos de trabalho são inócuos, pois o setor não é parâmetro para geração de empregos diretos. “Tem que se levar em conta a capacidade de articular as cadeias dessas indústrias no estado”, argumenta.

Especialista reconhece avanço no setor industrial

Sobre avanços no setor, a resposta do economista é positiva. Houve, sim, aumento no número de indústrias que contrataram mão de obra em Alagoas, de acordo com os dados do Ministério do Trabalho e Emprego. O crescimento do número de unidades que apresentaram contratação entre 2008 e 2012 registrou uma média de 6% ao ano. Ainda segundo os dados do MTE, em 2008, o Estado tinha 1509 empresas industriais informantes a RAIS; em 2012 esse número saltou para 1965.

Em recente entrevista, o secretário do Desenvolvimento Econômico, Luiz Otavio Gomes, disse que a maior prova do crescimento econômico de Alagoas em termos de geração de empregos, de receita própria e melhoria da renda foi o crescimento acima da média nacional do PIB local. Segundo ele, em 2012, o Brasil cresceu 0,9% e Alagoas 4,4%. Gomes disse ainda que “só os incrédulos e de má fé não querem aceitar essa realidade”.

Francisco Rosário afirma que o crescimento econômico que se mostra pelo crescimento do PIB “é sempre bem-vindo”, mas que é preciso pensar em desenvolvimento, e não só em crescimento. “O desenvolvimento está relacionado com a qualidade de vida do território, e nesse quesito Alagoas precisa caminhar um bocado. Mas, só há desenvolvimento com crescimento, logo, crescer o produto é condição necessária para melhorar a situação do povo alagoano”, afirma.

Contribuição para o PIB

No entanto, o economista chama a atenção para um dado importante - a indústria passou a contribuir mais com o Produto Interno Bruto de Alagoas de 2007 pra cá com um percentual foi realmente acima da média nacional.

“Os dados das contas regionais do IBGE mostram que há um crescimento no valor adicionado da indústria entre 2007 e 2011. A indústria contribuiu para o PIB alagoano de 2011, em valores reais de 2007 (portanto, antes da crise de 2008), em 20%, em 2007 contribuiu 18%. Pode parecer pouco, mas no Brasil esse percentual é de 16-17%, em média”, explica.

Apesar do avanço da participação da indústria no PIB, Rosário ressalta que a dinâmica da economia alagoana ainda permanece ancorada no setor público, comércio e serviços. A participação desses setores juntos é de quase 70% do PIB alagoano, o que significa, segundo ele, que as atenções para a geração de emprego no curto prazo tem que estar voltadas para esses setores.

“A indústria alagoana está em fase de transformação e os impactos esperados só ocorreram no médio prazo. De toda forma, se olharmos de forma mais analítica os dados sobre o estado é possível perceber que a indústria está tomando uma nova trajetória”, diz.

Cana, química e futuro

Em relação ao impacto da crise do setor sucrooalcooleiro, o economista afirma que demissões em massa decorrentes da mudança de modelo industrial baseado em tecnologia devem afetar, sim, as estatísticas de emprego no Estado.

“Na verdade, crise e setor sucroalcooleiro são quase sinônimos, pois parece existir uma constância de problemas conjunturais. Mas, nesse caso, o problema é estrutural. A tecnologia utilizada pelas usinas alagoanas está ficando defasada, além de haver sérios problemas de gestão e financiamento da produção. A falta de investimentos nas empresas locais está tirando várias delas do mercado e causando desemprego em massa no estado. Infelizmente esse fenômeno já era previsto. Em minha tese de doutoramento em 2008 eu já apontava esse cenário”, observa.

Por outro lado, o novo padrão de industrialização do setor químico vem gerando um impacto extremamente positivo na atração de empresas menores e na geração de empregos. “O setor químico vem aumentando o número de empresas instaladas no Estado, com um crescimento de 25% no número de micro e pequenas empresas e 43% no de médias empresas nesse setor. Boa parte das médias e MPEs da química estão estruturadas no entorno da produção da Braskem e isso é um novo modelo de industrialização que chega em Alagoas. Contudo, os impactos reais disso só saberemos daqui a alguns anos”, afirma Francisco Rosário.

Nova perspectiva

Para Francisco Rosário, essas mudanças pelas quais passam o setor químico-plástico podem delinear um novo caminho para a economia local, mas é necessário pensar também numa estratégia de valorização dos pequenos negócios. “A aposta de criar âncoras de desenvolvimento baseadas na grande empresa é uma política inteligente, contudo, é preciso olhar para a pequena empresa de forma mais efetiva e também na trajetória/tipo de industrialização que está ocorrendo no Nordeste”, argumenta.

O que falta para a consolidação de uma lógica econômica que contemple crescimento e desenvolvimento, na sua visão, é a integração de Alagoas com as cadeias produtivas nordestinas. Rosário acha que isso é condição fundamental para que as indústrias que estão se instalando aqui deem certo. “Para tanto, não é só perceber essa integração na grande empresa, mas principalmente, na pequena e média empresa, pois são essas que historicamente geram a maior parte dos empregos no Brasil e no mundo”, explica.

Grupo de estudos

A análise do professor Francisco Rosário exprime o que pensa o Grupo de Estudo em Tecnologia, Inovação e Competitividade (Getic) da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade da Universidade Federal de Alagoas (Feac/Ufal). Esse grupo é o único da área de economia com pesquisas registradas na universidade federal. São oito professores envolvidos diretamente em pesquisas sobre o desenvolvimento econômico regional numa perspectiva mais moderna, que é a de tecnologia e território.