Em boa hora, o Museu Théo Brandão de Antropologia e Folclore recebe a mostra “Real Alagoas”, do artista visual, pesquisador e escritor Francisco Oiticica, inaugurando, no âmbito da instituição, um espaço para produções artísticas contemporâneas que estabeleçam diálogo com temas e questões de interesse para a investigação antropológica. No caso do trabalho exposto, entre outras, é ainda a questão da identidade alagoana que está sendo problematizada.

A “Real Alagoas” (ou Alagoas real) do artista, longe de imaginada como uma realidade definida, acabada e pronta para ser evocada e exaltada, é desvelada em suas linhas tortuosas, pelas curvas e acidentes de um caminho sempre  incerto, repleto de desafios,  perigos e revelações.

A construção proposta se distancia dos discursos e narrativas oficiais sobre alagoanidade (que a define, de modo abstrato, fazendo menção às suas riquezas naturais e ao seu rico folclore), e passa a observá-la desde as suas margens, brenhas, brechas e aberturas. É justamente desses pontos liminares (e estratégicos) que o artista localiza a “Real Alagoas” – marcada por contradições, medos, tabus, magias e violências.

Atravessando o real por dentro, em seus dilemas e paradoxos, Oiticica revela como objetos e pessoas, vida e morte, tradição e modernidade, natureza e cultura não são domínios apartados, mas sim realidades em interação permanente. Distanciando-se das respostas acabadas e reconfortantes, ao final, Francisco Oiticica está nos convidando a pensar a própria vida como uma constante travessia, em que se caminha por uma estrada aberta, mas sem começo nem final definidos.