No início da sessão de fotos, Felipe Abib se deparou com um papel que nunca tinha interpretado nos dez anos de carreira como ator: o de modelo.
— Mas é pra eu vender a roupa? — perguntou o carioca, de 30 anos, enquanto tentava, meio sem jeito, algumas poses sérias.
Numa pirueta, de brincadeira, um clique perfeito. Pronto: não era mais preciso ficar estático, no estilo “modelete”, “fazendo carão”. Quando está na mira dos holofotes (seja no palco do teatro, nos cenários do Projac ou no estúdio fotográfico), o ator, que hoje vive o elogiado Seixas do seriado “A mulher do prefeito”, não pode ficar com os pés parados.
Antes de abraçar o teatro, a natureza em movimento de Felipe o tinha levado para caminhos um tanto estranhos para quem é das artes. Ex-integrante de um grupo da renovação carismática católica (hoje, quando assunto é religião, ele diz que pratica de tudo um pouco e anda louco para experimentar ayahuasca), quase formado em Veterinária e gestão de Recursos Humanos, o carioca começou a fazer aulas de teatro sem pretensão, por indicação de uma amiga.
Levou jeito no Tablado, abandonou os cursos e se formou pela Escola Martins Pena, caindo de cabeça na nova rotina, onde conseguiu canalizar toda a energia corporal que mostrou no estúdio.
— Entrei no teatro meio sem saber e, de alguma maneira, fui salvo. Eu não me sentia completo antes disso. Depois comecei a olhar o trabalho de forma mais apaixonada, menos burocrática — ele diz, completando que, no início, sofreu pressão dos pais por causa da escolha. — O pai sempre acaba falando: “como você vai se firmar?”. Mas eu me firmei e eles se orgulham.
A liberdade que sempre teve nos palcos (um de seus maiores sucessos foi ao lado de Marco Nanini, na peça “Pterodátilos”, sob direção de Felipe Hirsch) está sendo testada na televisão há relativamente pouco tempo. Mas o início na TV não podia ser melhor: em “Avenida Brasil”, como o inescrupuloso Jimmy, que deu o golpe no garanhão Cadinho, vivido por Alexandre Borges. Depois veio Leléu, no humorístico “Tapas e Beijos”, e finalmente Seixas, o assessor fiel do prefeito Reinaldo (Tony Ramos, que não se cansa de elogiar o talento do colega de elenco), mas também apaixonado pela primeira-dama Aurora (Denise Fraga). Nos três personagens, o riso do espectador era (e é) objetivo final, mas seria Felipe mais um comediante em ascensão na televisão?
— Eu não sou comediante. Posso me tornar um pela repetição e ficar rotulado. Acho que se eu ficar entrando num circuito de papéis do mesmo gênero, não abrirei espaço para outras coisas. Não é bom para mim e nem para a televisão. Mas se eu for muito ruim no drama, tá bom, eu viro comediante — brinca.
A pressão de entrar diariamente na casa das pessoas ainda não pesou nas costas do ator. Ele continua andando de metrô (e na hora do rush, garante), comprando roupas em brechós (“lá tem peças interessantes e personalizadas”) e planejando passar um tempo no Havaí num quarto compartilhado em albergue de Honolulu assim que os compromissos com a série acabarem.
Felipe parece estar bastante a fim de lutar para manter a aura de “gente como a gente” e, por isso, tem receio de virar figurinha fácil no mundo das celebridades — o que não deve demorar muito, já que foi apontado, nesta semana, como o novo “affair” da atriz Isis Valverde, sua colega de elenco do filme “Faroeste Caboclo”, lançado em maio de 2013.
— Tenho medo de virar personagem de revista. Sei que num momento de evidência em TV ou cinema é complicado evitar, mas essa visibilidade não me apetece — diz Felipe, que, pela primeira vez, apareceu em matérias que não falavam sobre seu trabalho e, sim, sobre sua vida amorosa. — Não me interesso por esse tipo de especulação. A minha vontade é fazer bons trabalhos, contar boas histórias.