Uma via sem placa de identificação dá acesso à localidade que deu início a história da indústria têxtil em Alagoas, em 1858. Em uma parte isolada de Maceió foi construída uma fábrica de tecido, que gerou empregos, renda e proporcionou o surgimento de um bairro. Do alto da ladeira, na Rua Pontes de Miranda, a bela paisagem da lagoa mundaú ganha uma riqueza com os traços culturais e a preservação da mata atlântica de Fernão Velho.  As residências, que pertenciam aos donos da Fábrica Carmem, continuam da mesma forma de quando foram construídas: estreitas com paredes baixas e coloridas.

Andar pelas ruas de Fernão de Velho é como voltar no tempo em que tudo era festa e produtividade. No antigo prédio da fábrica, ainda preservado, uma placa fixada na parede com a frase: “Fábrica Carmem produzindo em Fernão Velho e vendendo para todo o Brasil”, dá dimensão da importância da produção que era feita e distribuída para os quatros quantos do país. Dos imóveis ao redor dela, poucos ainda são ocupados por antigo trabalhadores, que foram indenizados com os imóveis, durante o fechamento da indústria, após mais de 140 anos de funcionamento.

Tudo em Fernão Velho cresceu ao redor da fábrica de tecidos. A igreja católica no início da ladeira, a estação ferroviária, e o Recreio Operário são alguns patrimônios históricos do bairro conservador pelos moradores mais antigos e seus descendentes. Lá, todos se conhecem e criaram seus filhos e netos como uma única família. O apito do primeiro trem do dia continua sendo o despertar de muitos moradores. Com uma vasta história de desenvolvimento e cultura, Fernão Velho se tornou uma “parte esquecida”, lembrada apenas pela memória do seu povo, que se orgulha dos “velhos tempos”.

Aos 87 anos, sentando em um banco à espera do transporte público, o aposentado Cícero Batista da Silva relembra para a reportagem do CadaMinuto Press à época em que foi para Fernão Velho, ainda conhecido como Distrito Industrial, para trabalhar na Fábrica Carmem. O bairro cresceu, e segundo Batista, mudou muito seu aspecto ao longo dos anos.  “Aqui antigamente tinha tudo que se podia imaginar. Tinha a fábrica que funcionava e vendia para todo o país, tinha banco, farmácias, feira livre e até um mercado de peixe. Hoje não tem mais nada”, recordou o aposentado.