Todos os dias, milhares de pessoas circulam no calçadão do Comércio de Maceió. Entre as idas e vindas, um homem com o corpo pintado de prateado e de pé em cima de um banco chama a atenção. Algumas pessoas param, outras tiram fotos e outras, simplesmente, passam pelo “Homem estátua”.

A estátua é Leonardo Nunes Magalhães Silva Santana, 20. Com uma história de vida marcada pela força de vontade e superação, Leonardo é ex-usuário de drogas, passou dois anos internado na Fundação Estadual para o Bem Estar do Menor de Alagoas (Febem/ AL) por porte ilegal de arma, mas, hoje tem dois trabalhos, que ele classifica como honesto e digno.

“Se eu não estivesse trabalhando aqui, provavelmente, já estaria no cemitério. Fui usuário de drogas e passei dois anos na Febem. Naquela época, tinha muitos inimigos, inclusive a Polícia, mas hoje tudo mudou. Eu decidi mudar de vida. Hoje, eu não tenho coração mau com ninguém e a Polícia é parceira. Engraçado é que como eu trabalho durante muito tempo em pé e no sol, quando eu estou muito cansado, os policiais perguntam: Tá tudo bem, estátua? Hoje eles são amigos”, relatou Leonardo.

Decidido a mudar de vida, o jovem, em liberdade, passou a trabalhar vendendo chips de uma operadora de telefonia móvel no Centro da cidade. Em seguida, deixou o emprego para trabalhar como “estátua humana” no calçadão do Comércio. Durante a noite, complementa a renda trabalhando como professor de capoeira em um colégio e nos finais de semana se apresenta como estátua nas praias da Pajuçara, Ponta Verde e Jatiúca.

Leonardo chega ao centro às 8 horas e saí às 17h. Em um estacionamento, o processo de transformação dura apenas dois minutos. Maquiagem e roupa prateada, e Leonardo passar a ser o Homem estátua. Conheça a história de vida de Leonardo.

CadaMinuto: Como você começou a trabalhar como estátua viva?

Leonardo Santana: Eu estava no Centro quando observei um homem que trabalhava como estátua. Fiquei olhando e ele perguntou se eu queria trabalhar para ele e ganhar R$ 20 por dia. Fiquei três dias pensando na proposta, mas aceitei. Passei um tempo trabalhando pra ele, mas depois decidi trabalhar por conta própria. Hoje eu fico feliz em dizer que eu consigo me sustentar e que estou em paz. Hoje, verdadeiramente, estou bem.

CM: A que horas você trabalha?

LS: Chego às 8h e vou embora às 17h. Durante todo o tempo fico em pé, em cima de um banco e no sol. Para mim, também não há horário para almoçar, então, só bebo água. Durante a noite, ensino capoeira a alunos de um colégio e nos finais de semana me apresento nas praias da Pajuçara, Ponta Verde e Jatiúca.

CM: Como é o processo de transformação para o homem estátua?

LS: (risos) É simples. Eu uso uma roupa que eu pintei com tinta prata e no rosto, pescoço, mãos e pés eu uso maquiagem prateada. O processo leva dois minutos. Para retirar, é que eu demoro mais, 30 minutos. Só preciso chegar mais cedo porque me arrumo em um estacionamento aqui no Centro.

CM: Quais as dificuldades encontradas no trabalho?

LS: No começo é difícil, mas aos poucos você aprende e ganha mais resistência. Antes eu não conseguia ficar sem piscar os olhos, mas hoje eu já não pisco. Ah, e pra não ficar o tempo todo como estátua, há momentos que faço movimentos que lembram robô ou esportes como capoeira, judô e outros.

CM: Qual a reação das pessoas ao te verem?

LS: Varia muito. Tem crianças que ficam admiradas, outras que ficam me triscando, outras correm. Algumas pedem para os pais fotografarem e algumas vezes os pais também pedem pra tirar foto comigo. As pessoas gostam, inclusive, eu recebo alguns convites para me apresentar no interior de Alagoas e em outros estados. Já participei de eventos em Santana do Mundaú, como no dia da Independência do Brasil, além de municípios como, por exemplo, Arapiraca, São José da Lage, e nos estados do Ceará, Bahia e Sergipe.

CM: O que você fazia antes de trabalhar como estátua e professor?

LS: Durante certo tempo eu fui usuário de drogas e depois fiquei preso na Febem, por dois anos, por causa de arma. Nesta época fiz muitos inimigos e perdi a minha paz, mas hoje, graças a Deus, decidi mudar de vida e estou aqui, trabalhando honestamente com arte e cultura. O trabalho é cansativo, mas é digno.

CM: Muitos jovens hoje estão envolvidos em drogas. O que você tem a dizer a eles?

LS: Não vale a pena. Saiam dessa vida. Se esforce, busque fazer alguma atividade honesta. Aprenda a fazer algo digno. Viva uma vida de paz.