Preservação. Conscientização. Sustentabilidade. Palavras ainda mais discutidas desde 1972, quando em 05 de junho, a Organização das Nações Unidas (ONU) instituiu a data como sendo o Dia Mundial do Meio Ambiente. O objetivo era discutir a degradação que o homem causa a biodiversidade e traçar soluções para diminuir os efeitos dessas ações.
Mais de quarenta anos depois, o cenário encontrado em Maceió está composto por uma enorme quantidade de copos, garrafas e sacos plásticos; papéis e papelões; vidros e alumínios, diariamente descartados em qualquer lugar. Os danos são perceptíveis: problemas de saúde, enchentes, deslizamentos e a morte de várias espécies de animais. No Estado, não há nenhuma política publica voltada para a área e sem apoio resta confiar no trabalho daqueles que lutam diariamente para socorrer a natureza.
Um dos trabalhos desenvolvidos sem qualquer financiamento é o realizado pelo Instituto Biota de Conservação. Desde 2009 a Organização Não Governamental (ONG) enfrenta problemas diários para realizar o resgate de animais marinhos. Ainda assim, atendeu a mais de cento cinquenta encalhes de tartarugas e mais de trinta de dezesseis espécies de mamíferos aquáticos.
“Nosso maior problema é que não temos como salvar um animal sem ter gasolina para ir resgatar, sem ter medicamentos para tratá-lo e nem mesmo sem ter equipe disponível para fazer todas essas ações", disse o presidente do Biota, Bruno Stefanis.
Mesmo com os registros de encalhes, o trabalho de investigação que apontaria a causa das mortes é praticamente inviável, já que a maioria dos animais chega à costa em óbito e o Instituto não possui equipamentos para realização dos exames de necropsia. No entanto, algumas prováveis causas são identificadas pelos biólogos. As maiores incidências são as relacionadas às redes de pesca, quando os animais acabam se enroscando nelas e ficam sem possibilidade de voltar à superfície para respirar; e a ingestão de lixo, principalmente o plástico, um material de alta durabilidade, com capacidade para absorver substâncias tóxicas.

Além do resgate de animais marinhos, o Biota se preocupa e atua ensinando os moradores da região de Riacho Doce, onde se localiza sua sede, a importância de cuidar do meio ambiente. Ações importantes, mas que são restritas, isso por que ONG não consegue se manter sozinha e os voluntários necessitam buscar empregos que lhes gerem renda. O diretor do Instituto lamenta a situação e diz que os obstáculos os impedem de contribuir ainda mais com a biodiversidade.
“Infelizmente não existe no Estado uma lei que beneficie a área ambiental. Tudo é um faz de contas. Os órgãos ambientais muitas vezes se omitem e não se responsabilizam pela fauna. O Biota realiza o trabalho, mas não possui um acordo, um convênio ou qualquer outra coisa que o apoie. Sobrevivemos do que injetamos no Instituto e de doações. No nosso caso, ao que parece, é entregar a sorte", finalizou Bruno Stefanis.
O lixo que não é lixo
Outro grupo que desempenha um papel fundamental na preservação da natureza sem apoio é o formado pelos catadores do antigo lixão. Há cerca de cinco anos eles fundaram a Cooperativa de Catadores da Vila Emater (Coopvila) e desde então recolhem materiais que para muitos não passa de lixo, mas para eles são fonte de renda. Só que o sustento não é o único motivo que move os cooperados, eles sabem bem a importância do trabalho que realizam para a biodiversidade.
“Eu tenho a certeza que a gente está contribuindo para o meio ambiente. A cidade está crescendo, nossos filhos e netos também, nós temos o dever de preparar um ambiente limpo para eles”, disse a presidente da Coopvila, Eliene Silva.

Lembra de todos aqueles materiais descartados incorretamente na natureza, citados no início da reportagem? Os copos, garrafas e sacos plásticos; papéis e papelões; vidros e alumínios? Todos eles são reaproveitados pelos cooperados. Grande parte deles, após passar por um processo de triagem, é vendida para empresas que os reaproveitam. Outra é utilizada nos Núcleos Produtivos da própria cooperativa.
“Aqui nós temos oficinas de costura, serigrafia, vassoura e lustres peti. Tudo com materiais recicláveis. O problema é que não temos onde comercializar. Nossos produtos são bons, não me recordo muito de tempo, mas há uns dois anos fomos responsáveis pela ornamentação de um grande réveillon particular na cidade. Hoje estamos com as máquinas paradas, falta apoio para prepararmos o local onde realizaremos o trabalho e depois para vender”, contou Eleine Silva.
Para desenvolver e estruturar, na medida do possível, o projeto foi preciso superar alguns obstáculos, como a falta de um local para guardar o que era recolhido e realizar a triagem dos materiais, a descrença e até o abandono de alguns cooperados, o pouco dinheiro arrecadado no início, a escassez de doações de recicláveis e a quase total falta de apoio do poder público. Uma história de gente simples, que busca o sustento com a consciência que é preciso olhar com carinho para o meio ambiente.
Algumas empresas privadas também atuam com ações para aconservação da biodiversidade. Próximo ao Centro da cidade de Maceió uma área verde com 150 hectares, sendo 20 abertos a visitação, com 200 mil espécies vegetais e mais de 300 mil mudas plantadas, além de 400 mil animais introduzidos e reproduzidos é um dos exemplos.
Cerca de 1.500 pessoas visitam por mês o local que é mantido pela Braskem. A Estação Ambiental Cinturão Verde existe há 25 anos e os investimentos nela não param, tanto que existe um projeto de transformá-la no primeiro Jardim Zoobotânico de Alagoas.
"Estamos ainda em fase de estudo. O projeto prevê a expansão desse terreno de 20 hectares abertos ao públicopara os 130 que permanecem fechados. O Jardim Zoobotânicoseria construído no mesmo patamar dos que existem em grandes cidades", explicou o coordenador da reserva, Mário Calheiros.
O Cinturão Verde recebe diariamente dois grupos de visitantes, um no período da manhã e outro no da tarde, geralmente são excussões de colégios. Na Estação os estudantes passam pelo Centro de Educação e aprendem lições de sustentabilidade e consciência ambiental. Além disso, outra importante contribuição é dada para a população do entorno com a formação de um centro profissionalizante. A oportunidade fez com que eles modificassem suas vidas e enxergassem a natureza de uma outra forma.
"Um pescador me disse uma vez que era fácil eu falar em proteção do ambiente enquanto estava de barriga cheia. Mas em 2006 implantamos o projeto de apicultura, os Pescadores de Mel, profissionalizamos quem sobrevivia do que pescava e proporcionamos a eles uma atividade rentável para que em tempos que não pudessem retirar a renda da lagoa tivessem condições de sobreviver. O projeto deu certo e os pescadores acabaram revelando que quando não podiam pescar desmatavam áreas no meio dos manguezais e no mesmo lugar construíam uma espécie de carvoaria e então transformavam a vegetação em carvão para vender no mercado. Era necessidade, agora eles são produtores e atuam com consciência ecológica” revelou Mário Calheiros.

ONG´s, Cooperativas e empresas privadas realizando trabalhos que no mínimo deveriam ter o apoio do poder público, contribuindo sozinhas para a limpeza da cidade, proteção de áreas florestais e animais. Alagoas segue sem nenhuma política pública voltada para a área, opções não faltam. Em 2009, a Secretária da Fazenda de Alagoas chegou a discutir a implantação de uma lei estadual que não custaria R$ 1 e repassaria de parte do Imposto Sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) a ações de conservação da biodiversidade, mas o projeto foi abandonado.













