Atualizada às 14h38

Após a sustentação do Ministério Público, chegou o momento para os advogados de defesa fazerem uso da palavra para tentar mostrar aos jurados que os quatro militares réus no processo são inocentes no caso que apura as mortes do empresário Paulo César Farias e Suzana Marcolino. O advogado José Fragoso iniciou a defesa afirmando que Suzana estava obstinada a comprar a arma e que laudos atestaram que havia vestígios de pólvora nas mãos de Marcolino.

Acompanhe ao vivo a fase final do julgamento sobre as mortes de PC Farias e Suzana Marcolino

Em sua tese, Fragoso começou justificando o questionamento feito pela promotoria sobre a troca de delegados e disse que o fato por ser de grande repercussão, necessitava de um delegado com nome de peso. Á época, foi designado o delegado Cícero Torres.

Sobre a arma que Suzana comprou, o advogado disse que a namorada de PC estava obstinada a comprar arma e queria fazer tiro ao alvo. A arma, segundo a defesa, pertencia a Polícia Civil. No dia da aquisição do revólver, Suzana ligou para mãe de Joaquim André Toledo, de quem ela comprou a arma em Atalaia. O exame residuográfico apontou que tinha existência de vestígios de pólvora nas mãos de Suzana. Ele contestou as versões passadas que alegam erro no procedimento. "Se Suzana e PC fumavam, porque o reagente só acusou resíduos nas mãos dela", questionou.

Fragoso afirmou que o teste elaborado pelo médico Domingos Torchetto errou e que o Ministério Público Estadual, na época, atestou como questionável o exame de Griess feito nas vítimas. Ele continuou afirmando que os exames de microscopia foram feitos dias depois quando os corpos foram lavados. O advogado completou que querer encontrar antimônio depois desse procedimento, "seria querer encontrar pêlo em ovo".

Quanto ao teste feito nas armas, ele também contesta a versão apresentada pelo Ministério Público e diz que em apenas um ou dois porcento de armas que são usadas em suicídio, são encontradas as impressões digitais. Já sobre o nódulo na testa, fissura nos lábios e outras marcas encontradas no corpo de Suzana, Fragoso disse que a primeira perícia não constatou nenhuma lesão no corpo, afirmando que "isso nunca aconteceu". Durante a explanação, a defesa mostrou fotos do corpo de Suzana, alegando que não apresentam sinais de agressão, como a família chegou a denunciar.

Fragoso ainda contestou o laudo de Daniel Munõz afirmando que ele adotou a estatura errada de Suzana Marcolino. "Ele mediu Suzana dentro do caixão e usou o peso dela que estava em uma ficha de academia. No laudo, o médico da Unicamp afirmou que depois de morto, o cadáver pode ter uma distensão, dando um alongamento ao corpo", disse.

O advogado ainda questionou se a estatura dela em pé seria importante, mostrando uma tabela feita pelo médico da equipe paulista afirmando que a altura não é importante, dizendo que o médico se equivocou ao produzir o laudo da trajetória da bala. "Ele se equivocou. O laboratório não consegue reproduzir a vida real", afirmou.

A defesa também contestou a tese do médico-legista Munõz sobre a trajetória da bala ao atingir Suzana Marcolino. Ele afirmou que o legista usou uma figurante que não condizia com a vítima e que ele errou nos números ao detectar a entrada e saída da bala. "Antes de ser advogado eu também sou engenheiro. Para me enganar com números, tem que ser muito bom", afirmou. 

Quanto a ausência de sangue na arma, Fragoso disse que no tiro de Suzana, o sangue poderia estar jorrando em uma direção, já que ela poderia ter tido um deslocamento em virtude do tiro. Ele contestou os testes feitos pela equipe de Minõz afirmando que o teste realizado no porco é falho pelo fato de haver a demora de 30 minutos para o sangue começar a jorrar, e no teste feito com a Madeira, o objeto fica estático, não se moveria após ser atingido.

Ele continuou afirmando que Munõz agiu de má fé e que por conta de uma briga pessoal, queria "desmascarar" Badan Palhares. "Ninguém nunca quis usar essa tese de crime passional porque queriam fazer um crime fora da realidade", disparou

 

Indícios

O advogado de defesa dos réus, José Fragoso começou a fazer as considerações finais de sua defesa de forma acalorada. Em seu discurso para os jurados mostrou documentos de trabalho dos peritos Badam Palhares e Leonardo Rodrigues e destacou que fotografias da cena do crime foram enviadas para três institutos internacionais. O material continha 14 fotografias e outras  fotocópias. Ao avaliar o material concluiu-se ser  improvável que alguém tenha entrado na casa. O laudo também descreveu a posição de Suzana na hora do suicídio e reforçou que não houve indícios de luta corporal”.

Quanto à falta de impressões digitais na rama Fragoso afirmou ser esta uma cena incomum. “A natureza do desenho da arma de fogo e as condições ambientais afetam a marcação de impressões digitais”, afirmou o magistrado.

A cena diz mais do que qualquer testemunha, a interpretação das manchas de sangue são imutáveis e permitem ver a projeção, o movimento da pessoa e tudo mais. Destacando que as manchas na cena do crime foram produzidas quando do suicídio. “O censo comum costuma interagir com a polícia através de novelas e filmes, vamos ser mais profissionais. Não existe no Brasil crime organizado para cometer um crime com tamanho know how para fazer parecer crime passional. Falar que houve duplo assassinato demonstra grande despreparo”, constatou Fragoso.

“O que separa a fantasia da realidade são os fatos. Podemos transformar este  numa história hollywoodiana mas neste caso as pegadas de Suzana estão do começo ao fim”, afirmou Fragoso.

Os empregados estão há 17 anos dizendo as mesmas coisas. “Se não fosse verdade então seria o caso de  acreditar num pacto coletivo, numa conspiração entre os empregados envolvendo a polícia, os peritos e a família Farias. Tenho agora a certeza de que estou fazendo o possível para evitar que se cometa contra estes quatro inocentes uma tremenda injustiça. Tenho convicção do que estou falando. Acompanho o caso há 17 anos. Durmo com a consciência tranquila”, destacou Fragoso.

Num discurso emocionado o advogado de defesa disse que Alagoas precisa dar uma resposta aos peritos locais que foram os que tiveram o primeiro laudo e colocar a história nos eixos para que não se passe algo que não aconteceu. “Quem entrou lá? A casa estava fechada? Quem foi que deu o tiro em Paulo César se não foi a Suzana?”, questionou Fragoso

Eu só posso dizer que alguém está mentindo quando conheço a verdade. “Não há dúvida que a causa morte de Paulo César e Suzana foram os disparos daquela arma”, disse o magistrado. Argumentando ainda que se um assassino profissional estivesse no local não atiraria daquela maneira.

“É preciso saber que são quatro pessoas de ficha limpa, de conduta ilibada. Com certeza saio daqui e dormirei o sono dos justos porque tenho certeza que contribui para se evitar essa tremenda injustiça. Peço a absolvição de todos”, concluiu José Fragoso.