Com o olhar de menina, a fala delicada e o sorriso de menina, Paloma Bernardi se encaixa perfeitamente no rótulo de garota boazinha. Personagens ingênuas faziam parte do repertório da atriz desde 1996, quando ela estreou na TV com a novela "Colégio Brasil", do SBT. E foi na pele da mocinha virgem Mia, em "Viver a Vida" da TV Globo, que Paloma começou a ter visibilidade. "Nunca fiquei preocupada em ficar estereotipada. Tudo tem seu tempo", disse ela, em entrevista exclusiva aoiG Gente.
Agora, na pele da prostituta Rosângela, da novela " Salve Jorge ", Paloma começa a marcar uma virada em sua carreira. A atriz vem sendo elogiada pela maneira que expõe seu lado vilã, com pitadas de sensualidade, e já comemora a quebra de uma imagem. "Nunca gostei tanto de ser odiada", brinca ela, que interpreta uma garota que sonhava em ser modelo e, deslumbrada com as promessas de dinheiro fácil e vida promissora no exterior, acaba caindo nas mãos do tráfico de pessoas.
Diferentemente das outras mulheres escravizadas do bordel, Rosângela não se revolta contra os traficantes. Na verdade, resolve se unir a eles. "A Rosângela está dando a volta por cima para ter uma vida um pouco mais digna. Até aí não acho que ela está errada. É a lei da sobrevivência", defende. Para o papel, Paloma pintou os cabelos de ruivo e tem um figurino mais ousado, o que tem chamado a atenção do público. "Toda mulher tem seu lado sensual. É só saber onde e como ligar o botão", diverte-se.
Namorando há um ano o também ator Thiago Martins , Paloma afirma que ele não tem ciúmes de suas cenas mais ousadas. "Da mesma forma que estou feliz com a personagem, ele também está. O Thiago sabe que é importante para mim e me apoia." No entanto, ela confessa que, às vezes, se incomoda com o assédio exagerado das mulheres com ele: "Algumas são bem assanhadas e me desrespeitam. Elas agarram, apertam a bunda. Acho um pouco desnecessário".
Confira abaixo a entrevista com Paloma Bernardi:
iG: A sua imagem sempre foi associada com a de boa moça, ingênua. Com a Rosângela, acha que conseguiu mudar esse rótulo?
Paloma Bernardi: As pessoas estão me olhando diferente. Esse personagem me deu oportunidade de mostrar uma outra faceta. Mas eu, Paloma, não mudei em nada. Sou uma mulher comum: boazinha, brincalhona, divertida, mas também sou mulher formada, dona da minha própria casa, com defeitos. Fiquei feliz que a Glória Perez (autora de “Salve Jorge”) e oMarcos Shetman (diretor) enxergaram isso.
iG: Ficou preocupada em ficar estereotipada?
Paloma Bernardi: De forma alguma... Tudo vem em sua hora certa. Profissionalmente, a Rosângela veio em um momento ótimo. Claro, os outros personagens que fiz foram bons. Principalmente a Mia de "Viver a Vida", que me abriu portas. Mas estou vivendo um desafio totalmente diferente. Hoje, acho que as pessoas acreditam mais em mim como atriz. A Rosângela tem pitadas de vilania, de sensualidade, mas também sofre.
iG: Como está sendo fazer sua primeira vilã?
Paloma Bernardi: Nunca gostei tanto de ser odiada. As pessoas me param nas ruas e falam: "Ah, como você é nojenta!", "Você é bonitinha, mas ordinária", "Você é bonita, mas tenho vontade de dar um soco na sua cara" (risos). Mas são brincadeiras, depois eles me parabenizam pelo trabalho. Só teve um caso que eu senti uma raiva verdadeira. Quando estava no carnaval de Salvador, uma mulher olhou para mim, mostrou o dedo do meio e me chamou de puta. Na hora bateu forte em mim. Mas faz parte. A Rosângela não é uma vilã fria como a Livia Marine. Ela vai de acordo com as circunstâncias e passa por cima das pessoas quando necessário. Ela tem coração, é uma vilã humana.
iG: Como assim?
Paloma Bernardi: Ela ainda é vitima do tráfico humano, mas está tentando sobreviver. E acho que ela está sendo muito esperta em comparação com as outras que transam com 20 caras por dia, bebem e se destroem aos poucos - moralmente e fisicamente. A Rosângela está dando a volta por cima para ter uma vida um pouco mais digna. Até aí não acho que ela está errada. É a lei da sobrevivência. Mas também acho que ela está gostando de estar neste lado, neste trabalho. Porque ela é muito ambiciosa. Já viu que não tem como sair dali, então quer ser alguém ali.
iG: Como se preparou para o papel?
Paloma Bernardi: Assisti a vários filmes e li livros voltados para a prostituição e para o tráfico humano. Mas me aproximei mais da realidade, mesmo, quando participei de palestras com famílias que perderam mulheres que foram traficadas, delegadas que falaram da dificuldade de chegar até esse núcleo. Chorei muito. Além desse laboratório, visitei algumas casas noturnas do Rio e São Paulo. Foi uma experiência muito bacana. Nunca tinha entrado em uma, só imaginava o que via nos filmes. Mas vivenciar aquilo tem uma carga.
iG: Esperava outra realidade?
Paloma Bernardi: É um clima muito pesado e são mulheres que estão ali simplesmente por dinheiro. Eu até perguntei: você está aqui por obrigação? Você apanha? Elas me responderam que não, que estavam ali pelos mais variados motivos: desde sustentar a família até montar um escritório de direito. E é algo automático: elas iam para o pole dance, a cara vazia, sem alma nenhuma, dançavam e depois iam com o cara para o reservado. Já em outra casa, vi meninas que gostavam até porque tinha uma performance, elas se achavam bonitas...
iG: O que mais te impressionou?
Paloma Bernardi: Foi a abordagem dos homens. Para eles, as meninas parecem animais, um produto. Fiquei indignada porque eles vão lá para satisfazer suas fantasias sexuais mais bizarras. Nem quero falar o que me contaram porque é muito pesado. Mas desde fingir que são algo muito estranho até passar coisas nojentas nelas. E quando elas estão no pole dance, nuas, os caras querem tocá-las. O Dj fala: "para tocar, tem de pagar". Me senti em um zoológico. Fiquei horrorizada como os homens tratam as mulheres como se fossem uma coisa, nem um ser humano. E se for pensar, o tráfico humano só existe porque tem procura. Eles querem te comer e pronto. Tem de mudar essa cabeça do homem.
iG: O assédio masculino aumentou? Como lida com a sensualidade da Rosângela?
Paloma Bernardi: Toda mulher gosta de soltar a libido, mas com o personagem é até mais fácil (risos). Mas confesso que a sensualidade dela está em segundo plano. Não estou sendo mais assediada por isso. O que me ajudou muito nessa personagem foi a dança. Sempre fiz jazz, balé. Foi tranquilo encontrar a sensualidade. Toda mulher tem seu lado sensual. É só saber onde e como ligar o seu botão (risos).
iG: Você se acha sexy?
Paloma Bernardi: Não me acho sexy. Acho que sou naturalmente sensual. Quando não quero ser, eu sou. Porque quando você quer, você pode exagerar e se tornar vulgar. A sensualidade está no mistério, na naturalidade, é um olhar, um toque, uma risada... Você nem percebe quando está sendo sensual. É legal quando o homem descobre a sua sensualidade, quando ele não entende porque está tão intrigado com a mulher.
iG: Posaria nua?
Paloma Bernardi: Sei que me sondaram na época de Mia, que era uma virgem. Aí, claro, queriam colocar esse imaginário na revista. No início da novela, ligaram para minha empresária e tentaram de novo: já que ela vai fazer uma prostituta, que tal? Não, gente. Nem virgem, nem prostituta... eu não posaria. Adoro fazer ensaios sensuais, mas não preciso me expor 100% para uma revista para me realizar profissionalmente. Toparia ficar nua se fosse para algum trabalho, dentro de uma personagem.
iG: O Thiago fica com ciúmes das cenas mais ousadas?
Paloma Bernardi: Nada! Da mesma forma que estou feliz com a personagem, ele também está. O Thiago sabe que esse personagem é importante para mim e me apoia. Ele é ator. A gente conversa e troca muitas ideias sobre tudo. Tanto com os trabalhos dele, como os meus.
iG: E você com ele? É ciumenta?
Paloma Bernardi: Não, acho que sou normal. Claro, se me der motivo, vou ter. Mas quando se tem certeza do que está vivendo, não tem por que criar situações. O que me incomoda é o jeito que as mulheres o abordam. Algumas são bem assanhadas e me desrespeitam. Pô, sabe que ele namora, respeita, né? Elas agarram, apertam a bunda. Acho um pouco desnecessário, mas tudo bem também. Músico tem essa abordagem mais fervorosa, eu entendo. Mas quando passa de um limite, quando faz coisas que desrespeitam a minha relação com ele, não gosto.
iG: Vocês estão morando juntos?
Paloma Bernardi: Vamos fazer um ano de namoro. Tá tudo muito cedo e ele é muito novo. Ele tem a casa dele e eu a minha.
iG: Sonha em casar e ter filhos?
Paloma Bernardi: Claro, como toda mulher quero entrar na igreja, ter filhos. Mas também não quero ter uma bateria, quero ter dois filhos. Mas tem muito tempo para isso acontecer (risos).
iG: Como quer que a Rosângela acabe?
Paloma Bernardi: Gostaria que ela desse a volta por cima. Que toda a quadrilha fosse presa e ela chefiasse o tráfico. Não queria que acontecesse isso na vida real, mas infelizmente este é o cenário. Podem destruir uma máfia aqui, mas tem outra ali... Vai ter sempre alguém renovando esse mercado. É o que digo: o primeiro passo é mudar a cabeça do homem que procura. Se os homens buscassem uma relação com as suas esposas, namoradas ou até mesmo os solteiros, mas tivessem respeito com as mulheres, isso não seria assim.
Créditos
Maquiagem: Sérgio Baia
Produção: Camilla Viana
Agradecimentos : camisa Alfaiataria: Drambuie, Cropped; top: Alphorria; saia: Kodifik; brincos e maxi Colar: Claudia Arbex