O trabalho não é fácil, mas, de casa em casa, psicólogos e assistentes sociais tentam salvar a vida de centenas de dependentes químicos. Fazendo jus ao nome Anjos da Paz, os profissionais – que fazem parte do projeto Acolhe Alagoas, da Secretaria da Paz (Sepaz) – conversam com famílias, aconselham e agilizam a internação voluntária, auxiliando a recuperar jovens e adultos.
As idas às residências são solicitadas por familiares e oferecem suporte técnico e emocional, acolhendo usuários de álcool e outras drogas que buscam ajuda e realizando encaminhamentos para as comunidades acolhedoras. De acordo com a psicóloga Cristiane Dias, são aproximadamente 65 visitas por mês e uma boa parte dos visitados acaba aceitando o tratamento.
“A quantidade de atendimentos varia bastante de acordo com a demanda que chega à Sepaz, mas temos realizado muitas visitas e com um bom percentual de aceitação por parte dos dependentes. Durante esse momento que estamos na casa deles, também levamos uma reflexão para a família e repassamos informações importantes”, explica.
Nem todos, porém, aceitam a internação. É o caso de B.M.S, de 18 anos e usuário de álcool, maconha e noia. Apesar dos pedidos da avó e da mãe – também dependente química –, o adolescente não pode acompanhar a equipe até uma das comunidades acolhedoras. O motivo foi uma dívida com tráfico e, em casos como esse, os profissionais tentam agendar uma nova visita.
“Isso acontece com certa frequência e os que possuem dívidas acabam não aceitando ir para o tratamento, pois ficam com medo do que os traficantes podem fazer com sua família. Quando isso acontece, sempre damos um tempo para que eles resolvam a situação e combinamos de voltar algum tempo depois”, afirma o assistente social Antônio Trindade.
No caso de B.M.S, que já chegou a ser preso enquadrado pela Lei Maria da Penha, a volta ficou agendada para dois dias depois. O apelo para que ele aceitasse foi feito pela avó. “Vá, meu filho. Você precisa se curar e curar nossa família. Nossa vida ficou muito difícil. Ele quebra os objetos dentro de casa, quer dinheiro a todo custo, rouba nossas coisas”, disse.
Ela destaca que todas as mudanças aconteceram depois do uso das substâncias tóxicas. “Ele era um menino muito bom, estudioso. Nunca havia recebido nenhuma reclamação dele. Depois, foi mudando, ficou diferente, agressivo. Chegou até a ameaçar a gente de morte para conseguir o dinheiro da droga. O grupo de amigos dele quase todo já foi internado”, acrescentou.
De acordo com Antônio Trindade, todo o processo de acolhimento deve ter o consentimento do usuário, já que as internações só podem acontecer de maneira voluntária. Também é necessário ter um perfil adequado para a comunidade e, conforme o caso, o encaminhamento pode ser para outros órgãos responsáveis, como os Centros de Atenção Psicossocial (Caps).
Para que a recuperação seja eficaz, a permanência nas clínicas é de no mínimo seis meses e, depois disso, o dependente é reinserido na sociedade – muitas vezes trabalhando justamente com os Anjos da Paz. “Com a reinserção, eles são encaminhados para o mercado de trabalho. Muitos deles trabalham como motoristas das equipes”, expõe Cristiane.
Além da Sepaz, o projeto é desenvolvido também pela Secretaria de Saúde (Sesau) e, em Maceió, as famílias podem solicitar uma visita para orientação pelos telefones 0800-280-9390 e 3315-1913 ou diretamente na Casa de Acolhimento, que centraliza as ações do Acolhe Alagoas e fica localizada na Rua Silvério Jorge, 500, no Centro de Maceió (próximo à Praça Sinimbu).