Apesar de o Carnaval de Salvador já estar quase na metade do caminho, o mercado paralelo de abadás para blocos e camarotes continua a pleno vapor. Já faz alguns anos que, além da disponibilidade das camisetas nas lojas oficiais e sites da internet, muita gente deixa para fazer as compras de última hora na informalidade. O comércio acontece principalmente em dois bairros, Jardim Brasil e Boca do Rio. Este último acaba de ganhar novidades: virou Villa dos Abadás, e trocou a área externa do Aeroclube pelo estacionamento do Parque Atlântico, que funciona ao lado.

Os vendedores agora trabalham em barraquinhas padronizadas e o local ganhou até uma praça de alimentação. Em nenhum dos dois pontos, entretanto, é possível controlar o que mais aborrece a clientela e quem transita no entorno: os infindáveis engarrafamentos.

Na Villa dos Abadás, que fica na orla de Salvador, o engarrafamento é de cerca de 1 km. Dois agentes da Transalvador estão por lá, mas quem organiza (ou desorganiza) o trânsito mesmo são os ambulantes. Sem o menor constrangimento, eles transitam entre os carros da avenida sugerindo direções e oferecendo produtos. Quem passa pela região já está acostumado. "Estou voltando da praia e não tenho outro caminho, mas não me estresso. Sei que vou sair da confusão em 10 minutinhos", ensina a pedadoga Maria Alice Braga Fortes, 33.

Entre os comerciantes, as opiniões divergem. O vendedor Tiago Vilanova, 22, que pelo quinto ano consecutivo trabalha na revenda de abadás com mais quatro amigos, olha as mudanças positivamente. "Ficou muito mais confortável, estamos na sombra e com mais conforto", disse

Ao todo, o grupo tem cinco barracas na área. Pelas mãos de cada vendedor circulam mais de R$ 20 mil todos os dias. A fonte da maior parte dos produtos é a empresa do pai de um dos garotos, que recebe as camisetas em esquema de permuta por serviços prestados. De lucros, entretanto, ele não fala.

Ao contrário do taxista Carlos André, 40, no mercado há 13 anos. Ele afirma que o lucro no fim do Carnaval é de R$ 4 mil, mesmo com os pequenos prejuízos, como as camisetas vendidas de última hora a preços baixos. "Ontem comprei um de R$ 170 e tive que vender a R$ 110 pra não morrer com ele na mão, mas acho que vale a pena. Tanto que peguei um empréstimo de R$ 10 mil para comprar os abadás e revender", afirmou.

O trabalho, ao lado da mulher e mais um funcionário, é puxado. Desde o dia 2 de fevereiro o trio trabalha das 7h às 19h, no mínimo. André compra as fantasias de gente que trabalha nos blocos. "Eles ganham 10, 20 (abadás), como forma de pagamento, e não querem ter o trabalho de vender. Então, fazem um pacote para a gente, e nós pegamos aqui no pesado".

O professor pernambucano Myron Galvão, 40, está está no Carnaval de Salvador pela terceira vez, mas é a primeira em que aposta na compra dos abadás fora de lojas. Do Recife, ele comprou pela internet um pacote do bloco Coruja, pagando R$ 1,2 mil por três dias de festa. Chegando aqui, mesmo com o medo das falsificações, se motivou pelo preço. "Nem ia sair hoje, mas encontrei o Cocobambu com Claudia Leitte por R$ 100, e comprei. E peguei também o Yes para amanhã por R$ 130. Tinha visto na loja por R$ 220", comemora. Há algumas semanas, os abadás para o Cocobambu, que terá nesta sexta-feira (8) a presença do rapper coreano Psy, custavam R$ 300.