O que dá para comprar com R$ 3? Doze pães, um quilo de feijão ou uma porção de salada de frutas? E para contratar um seguro? Sim, todos esses produtos podem ser adquiridos pelo mesmo valor. O que parecia ser impossível para as classes de baixa renda vem ganhando consistência com o microsseguro. Pessoas que nem imaginavam a possibilidade de ter um seguro de vida e garantir tranquilidade para a família depois da morte já podem sonhar com isso. Ainda em fase “experimental”, o microsseguro é a grande aposta do mercado no Brasil e no mundo. 

O microsseguro contempla ainda mais que o pagamento de valores em caso de morte do segurado, após estudos verificou-se que o mercado pode abranger também o seguro prestamista (baseado no modelo de microcrédito) e assistência funeral. De acordo com o corretor Djaildo Almeida, em algumas localidades do País o microsseguro já está disponível à população em fase de testes. Em Alagoas, a novidade ainda não chegou, mas não deve demorar.Em cidades dos estados do Rio de Janeiro e São Paulo, esse tipo de seguro já está sendo comercializado.

“O mercado viu a situação das camadas da população menos favorecidas, levando em conta questões humanitárias, políticas e econômicas. Essa questão ganhou o mercado e hoje se trabalha com essa tendência”, colocou Almeida.

Para exemplificar o público-alvo desse produto, o corretor citou os vendedores ambulantes. “Quando pensamos em uma pessoa que trabalha vendendo seus produtos que venha a faltar ou precise se ausentar da sua atividade, como fica a família? Vimos que o mercado possuía essa lacuna, já que não existia um seguro para esse tipo de público. Então as companhias pensaram nas classes D e E e notaram que poderiam trabalhar nesses mercados, oferecendo a um valor diferenciado esse tipo de produto. A ideia do microsseguro envolve a vida, com o valor de R$ 3 ao mês e vai englobar também garantias como a residência do segurado”, disse o corretor complementando que a expectativa é de atingir 100 milhões de pessoas até 2020, atingindo 7,5% do Produto Interno Bruto do Brasil (PIB). 

Por ser voltado às Classes D e E, o microsseguro tem outro diferencial do seguro tradicional que vai além do valor. Nessa nova tendência de mercado, os beneficiários recebem o valor segurado em um prazo máximo de até três dias úteis após a apresentação dos documentos solicitados pelas companhias seguradoras.

“Essa ideia de acelerar o pagamento é justamente para tentar suprir a falta do provedor da família, por isso não se pode demorar a pagar o valor do seguro”, explicou o corretor.

Mas, mesmo com o valor para a aquisição baixo, Almeida colocou que apenas com divulgação as pessoas vão conhecer e se interessar pelo microsseguro. “Todo mundo que tem um carro sabe da importância de se contratar um seguro, o que não acontece com outras modalidades desse produto. Quando se fala em seguro de vida, as pessoas encaram como uma despesa, o que na verdade não é. Também com o advento do microsseguro vamos tentar mudar essa realidade, que é uma questão cultural, mas que pode mudar ao longo do tempo”, frisou ele. 

Novos corretores

Mas, essa nova tendência não será positiva apenas para as classes D e E. Com a novidade, começa a surgir a figura do corretor de microsseguro, que será um profissional capacitado para lidar com o público e o produto a ser vendido.

“Com o microsseguro temos uma realidade diferente. Esse profissional irá, em muitos casos, literalmente até o consumidor do produto. Como as classes D e E são o alvo do microsseguro, o corretor terá que ir a comunidades mais carentes para mostrar isso às pessoas”, disse Almeida. O corretor contou também que aconteceu um curso com 30 vagas no Rio de Janeiro e a procura foi altíssima. 

Mas, mesmo com a euforia do mercado em torno desse produto, que começa a crescer, Almeida lembra que é aguardada a regulamentação sobre os pontos de venda do microsseguro. Ele disse que estão sendo estudados os locais para a venda do produto, já que a intenção é fazê-lo estar onde o seu público-alvo frequenta. 

“Se as pessoas estão em lojas de varejos, grandes redes de lojas, é nesses lugares que o corretor tem que estar para oferecer e vender o microsseguro”, reforçou Almeida acrescentando que os interessados em fazer o curso de corretor devem possuir o nível médio como escolaridade mínina. 

Confiança

A auxiliar de serviços gerais Sebastiana Oliveira se encaixa no perfil do público a ser explorado pelos corretores de microsseguro. Ela mostra interesse em adquirir o produto, mas diz que o faria apenas com um profissional de confiança e com a certeza de que as filhas receberiam a indenização.

“Só faria um microsseguro se eu tivesse informações sobre o corretor e percebesse que a coisa é séria. Apesar de ser um valor pequeno, igual ao das saladas de frutas que eu vendo, prefiro fazer as coisas na legalidade com empresas sérias para não perder dinheiro”, ressaltou Sebastiana acrescentando que já foi ludibriada por cartões de crédito com falsos seguros.

É importante que não apenas os interessados em adquirir um microsseguro, mas quem opta por comprar qualquer tipo desse produto, procure profissionais credenciados, o que é indispensável na contratação do seguro.

“Orientamos a todas as pessoas que procurem saber se o corretor está credenciado para o que se destina a vender para que não haja problemas no futuro”, orientou Almeida.

Mesmo não se encaixando no público-alvo do microsseguro, o funcionário público e estudante universitário João Melo comemora a novidade. Ele observa que agora pessoas que antes nem podiam sonhar em pagar um seguro terão esse produto ao alcance das mãos.

“Esta é uma oportunidade para a classe assalariada que é menos privilegiada. Como é um seguro com preço acessível o trabalhador de baixa renda pode assim ter uma forma de garantir conforto material aos familiares num momento de fragilidade emocional, como é a perda de um parente próximo, que muitas vezes é o provedor da família”, disse Melo.