Aos 63 anos e depois de dezenas de trabalhos marcantes na TV, Antônio Fagundes tem uma queixa de algo que poderia e gostaria de ter feito mais nos folhetins. "A televisão não me chama para fazer comédia", critica ele, em entrevista à série Grandes Atores, em segunda temporada no Starte, da Globo News, no ar na próxima terça-feira (16). E, segundo o intérprete do carrancudo coronel Ramiro de Gabriela, talvez isso tenha acontecido porque determinadas pessoas não viram seu trabalho no teatro e não tenham pensado em seu nome para papéis de humor. "O que faltava fazer nos palcos, fiz no vídeo. E o contrário também", desconversa. "No cinema, você foi até Deus", lembra a apresentadora Bianca Ramoneda, referindo-se ao longa Deus É Brasileiro.
Orgulhoso de sua trajetória artística, Fagundes não fecha a cara nem quando o assunto é sua participação nas históricas pornochanchadas nacionais. Garante, inclusive, que coloca isso em seu currículo sem o menor problema, ao contrário de alguns colegas que preferem esconder essa parte do passado. "Pornochanchada foi um termo pejorativo que deram apenas para o cinema brasileiro. São comédias que muitas vezes nem têm esse peso, mas ganharam pornô no nome", analisa o ator que, entre outros filmes, participou de A Noite das Fêmeas, de Fauzi Mansur, de 1975.
O tempo parece ser uma das maiores preocupações de Fagundes atualmente. Mas não o passar do tempo e a idade avançando. Ele se mostra assustado com o descaso com o qual as novas gerações tratam grandes obras de arte. Em 2000, o ator escreveu o espetáculo Sete Minutos, já que esse era, na época, o tempo médio de concentração dos indivíduos segundo alguns estudos pesquisados por ele. Mas, hoje, Fagundes continua de olho na questão e, infelizmente, os resultados são bem mais desanimadores, como mostra um levantamento do Museu de Arte Moderna de Nova York citado por ele. "Eles descobriram que o tempo médio de cada visitante diante de uma tela é de sete segundos. Isso faz com que esse cara ache uma hora e meia um tempo absurdo para que fique sentado, assistindo a alguma peça", supõe o ator, com um discurso sempre pragmático.
Fagundes foi pontual no dia da gravação e, antes do bate-papo com Bianca Ramoneda, tomou café com a jornalista e também atriz. A partir do "gravando", o papo durou pouco mais de meia hora, com o ator dando respostas muitas vezes curtas se comparadas aos outros entrevistados que passaram pelo programa na temporada anterior: Walmor Chagas, Lima Duarte, Juca de Oliveira e Paulo José. "Ele é um ator claro, mais ágil. E a minha parte é me preparar para isso", avalia Bianca, depois de posar com Fagundes para uma foto que, jura, ficará guardada eternamente em seu tablet.
E foi do tablet de Bianca que saiu o tema que fez Antônio Fagundes se mostrar mais avesso às modernidades e à velocidade atual da informação. Como nos outros episódios, um dos entrevistados da temporada passada foi escolhido para fazer uma pergunta ao ator. E para ele caiu um vídeo de Lima Duarte, que questionou se o colega estaria preparado para ser um ator nessa era virtual, onde a internet ganha cada vez mais força. "Tenho problemas com a internet. Sou um 'analfabyte' declarado. Não tenho computador. Outro dia, um cara abriu um laptop na plateia de um espetáculo e ficou digitando naquilo o espetáculo inteiro", responde Fagundes.
Além de Fagundes, Bianca entrevistou também para essa temporada os atores Marco Nanini - no programa exibido na última semana -, Nelson Xavier e José Wilker. Assim como nas outras edições da série, que já teve também duas levas de episódios com as eleitas Grandes Atrizes, a ideia é lançar um DVD em breve. E todas as gravações foram feitas em alta definição, garantindo a reexibição, em alguns meses, no canal Globosat HD. "Fico feliz que esse material fique disponível para, no futuro, servir de fonte de pesquisa para as pessoas. Cada um dos nossos entrevistados tem muito a dizer e a lembrar", exalta Bianca.