“Não há nada de errado com aqueles que não gostam de política, simplesmente serão governados por aqueles que gostam.” Há mais de 2300 anos Platão já exortava as pessoas sobre as consequências da falta de interesse na política e naqueles que a exercem.
A máxima de Platão é incontroversa. Afinal, a política é o meio encontrado pelos líderes sociais com a finalidade de legitimamente assumir administração pública.
Ainda que atualmente a descrença seja generalizada e que muitos não encarem o processo eleitoral com a relevância que merece, não podemos negar que a política é exercida por políticos, e estes são os que se interessam por assuntos públicos, são aqueles que se entregam à política com finalidade social – sem maneirismos.
Entretanto, assim como qualquer outra atividade que envolve pessoas, ou seja, todas, haverá sempre aqueles que se valem da Res Publica (coisa pública) em proveito próprio. Isso é indignante, causa náuseas e revolta, principalmente porque os mais desvalidos são sempre os mais enganados e explorados.
Como dizia o filósofo francês monarquista Joseph de Maistre: “Todas as nações têm o governo que merecem”. E em sua afirmação Maistre combatia a forma de governo republicana.
Alguns séculos depois vivemos numa sociedade que passou por vários momentos históricos e contextos sociais. Somos fruto de uma geração que lutou pela democracia, cujo sonho maior era o reconhecimento do direito de escolher livremente seu representante político.
O Brasil e várias nações do mundo passaram por períodos ditatoriais e foram administrados por grupos políticos que se afirmaram no poder por meio da truculência. Em resposta, a sociedade pediu a democracia e o direito ao voto, que veio pela forma da obrigatoriedade e do sigilo, duas máximas que são combatidas por alguns setores.
A obrigatoriedade do voto dá aos cidadãos que preferem abster-se do processo político a desculpa da afronta a tudo o que lhes é imposto, enquanto o sigilo, que é a maior garantia individual no dia do pleito eleitoral, por vezes é burlada (tentada) em proveito próprio, contrariando as finalidades democráticas.
Alagoas é fruto de uma história de coronelismo, pistolagem, grande concentração de renda, altos índices de analfabetismo e total ausência de políticas públicas preventivas. Hoje somos campeões em todas as pesquisas que tratam sobre a falência das instâncias públicas. E, se houvesse uma pesquisa, também lideraríamos entre os povos mais acomodados e silentes, o que nos transforma em coniventes com nossa situação atual.
Em Maceió, nossa capital, o número de abstenções e de votos nulos e brancos foi abissal. Foram mais de cem mil pessoas que optaram por não participar do pleito. Exatamente! Em 1968 cem mil foram às ruas para manifestarem-se contra a ditadura, quarenta anos depois os mesmos cem mil renegam o direito pelo qual lutaram e morreram.
Trágica ironia.
Enquanto o povo se abstém da discussão política taxando-a de suja, mais enlameada ela é. Quanto mais se abstiverem dos processos eleitorais, mais eles serão tomados por aqueles que deles se servem.
Não adianta reclamar e não participar. Não será decretando a falência dos processos democráticos e das instituições públicas que eles serão modificados. O sistema vigente não será mudado só porque não goza de credibilidade e confiabilidade.
“Nós somos a geração, não podemos nos dar ao luxo de esperar. O futuro começou ontem e já estamos atrasados. (...) Nós não precisamos esperar pelo destino, nós podemos ser a mudança que queremos ver no mundo”*.
*John Legend em If You’re Out There, inspirado pela campanha de Barack Obama e pela famosa frase de Gandhi. Veja Aqui.