A arquiteta Jordânnya Silva definiu como alvos da pesquisa três bairros de diferentes regiões de Maceió. A escolha dos locais foi baseada em pesquisa de campo, uma vez que no Benedito Bentes, no Vergel do Lago e no Jacintinho foi constatada a maior incidência de doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado, de acordo com dados da Secretaria Municipal de Maceió. Durante um ano e meio, ela fez levantamentos para avaliar a falta de qualidade de vida da população em decorrência das deficiências no saneamento.

A pesquisa, realizada durante o mestrado em Dinâmica do Espaço Habitado, do Programa de Pós-graduação em Arquitetura da Universidade Federal de Alagoas, contestou alguns dados da Companhia de Saneamento e Abastecimento de Água (Casal). Segundo as informações oficiais, 85% da população tem acesso à água potável. Mas o levantamento feito pela arquiteta aponta que apenas 65% das residências contam com esse serviço.

Com relação ao tratamento de esgoto, o trabalho aponta uma distância ainda maior entre os números fornecidos pela companhia e os que a pesquisadora detectou in loco. A Casal forneceu dados indicando que 40% dos moradores têm acesso ao esgotamento sanitário, mas Jordânnya destaca que estão incluídos neste quantitativo as escolas e outros estabelecimentos. Segundo ela, apenas 5% dos domicílios permanentes de Maceió tem canalização para tratamento de esgoto.

Jordânnya explicou que durante a realização do levantamento fez várias entrevistas com técnicos da companhia, para conhecer melhor os sistemas utilizados e as áreas atendidas. Ela também esteve na Secretaria Municipal de Saúde para avaliar as ocorrências das doenças notificadas no município. "A pesquisa demonstra que a deficiência da oferta dos serviços de abastecimento de água e esgotamento sanitário são fatores de risco para a população no que se refere à incidência de doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado em Maceió", relatou a pesqusiadora.

Para a arquiteta, a importância do saneamento básico para a saúde coletiva já é bem conhecida, mas novos estudos e comprovações científicas vieram reforçar a necessidade de investimentos neste setor. "A deterioração do meio ambiente nas regiões em que inexiste a oferta dos serviços de saneamento básico compromete o abastecimento de água, aumenta a incidência das doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado, além de interferir na paisagem do lugar e no lazer da população", destacou na dissertação de mestrado.

A pesquisadora aponta ainda no trabalho que esse não é um problema encontrado apenas na capital alagoana, mas é comum e tem relação com o crescimento desordenado das cidades. "Serviços básicos foram negligenciados por gestores públicos a exemplo dos serviços de abastecimento de água potável e esgotamento sanitário, sendo este último um dos serviços urbanos mais deficientes do país", denunciou a arquiteta.

Segundo os dados da pesquisa, as regiões Norte e Nordeste são as que apresentam os menores índices de atendimento da população quanto à oferta destes serviços. “Por causa da deficiência da oferta dos serviços de saneamento básico, o Brasil gastou com despesas hospitalares, por conta de doenças relacionadas ao saneamento ambiental inadequado, quase 200 milhões de reais, em 2009", constatou a pesquisadora, que foi orientada pela professora e arquiteta Verônica Robalinho, diretora da Faculdade de Arquitetura da Ufal.

Vetores de doenças

Percorrendo os bairros escolhidos, Jordânnya percebeu que, além da deficiência no esgotamento sanitário, questões como acúmulo de lixo e drenagem insuficiente formam um quadro propício para a proliferação de vetores causadores de doenças infecciosas. “É a paisagem que vemos na periferia: crianças brincando nas ruas, descalças, em meio ao esgoto que corre a céu aberto”, contou a pesquisadora.

Segundo a arquiteta, as desigualdades sociais detectadas na capital alagoana levam a um crescimento vertiginoso da periferia. Maceió possui, de acordo com a pesquisa, 135 assentamentos precários. "A situação se agrava porque a maioria da população destas áreas utiliza fossas rudimentares, que podem comprometer o solo e o lençol freático. Isso é preocupante principalmente na região do Tabuleiro do Martins, onde temos importantes reservas subterrâneas de água", alertou Jordânnya.

Doenças e ausência de saneamento

Ao analisar a relação entre a incidência de doenças e o saneamento deficiente, a pesquisadora constatou que, das onze doenças de notificação compulsória, constatadas em Maceió, duas destacam-se no número de ocorrências: as diarreicas agudas e a dengue, com mais de dois mil casos notificados, cada uma delas, em 2009. "Os bairros que têm deficiência do serviço de abastecimento de água potável ou não possuem rede coletora de esgoto foram os que apresentaram as maiores ocorrência dessas doenças", apontou a pesquisa.

Dos três bairros analisados, por apresentarem o maior índice de doenças, só o Benedito Bentes possui uma rede coletora de esgoto, ainda que deficiente. Nos outros dois, a situação é ainda mais grave. "A população do Vergel do Lago e do Jacintinho utiliza soluções individuais para o seu esgoto doméstico. Onde deveriam ser construídas fossas sépticas são usadas fossas negras, problema que se repete em toda a cidade e põe em risco o abastecimento de água de Maceió", relatou a pesquisadora na dissertação.

Crescimento urbano e cidadania

O objetivo da pesquisadora foi alertar para a necessidade de investimentos na infraestrutura urbana, para garantir melhor qualidade de vida à população. "Definir como prioridade o bem-estar da população pode ser a melhor alternativa para um processo efetivo de desenvolvimento da sociedade. Assim, a implementação de políticas públicas que tenham como objetivo a promoção à saúde apresenta-se como uma proposta para os municípios e cidades que tenham o ideal da promoção da qualidade de vida para todos os seus concidadãos", concluiu Jordânnya.