As Alagoas de Teotônio Vilela pai

24/09/2012 09:00 - Geral
Por Candice Almeida

A história nos conta que certa vez, ao sair de um presídio paulista, o senador Teotônio Vilela teria sido abordado por uma jornalista que lhe questionou sobre os terroristas visitados. Nosso menestrel teria enfaticamente respondido que não encontrou nenhum terrorista, mas apenas jovens idealistas que entregaram a vida pela liberdade do Brasil.

Lutaram pela liberdade do país brasileiros dos mais distantes e diversos rincões, e essa liberdade almejada ultrapassava a “derrubada” do regime militar vigente à época, o que desejavam era o simples poder de votar, de escolher seus representantes pela forma mais digna e cidadã conhecida, o voto.

Aqueles que viam na sua pátria o ultraje da cidadania roubada foram às ruas para pedir o reconhecimento de seus direitos e o pronto restabelecimento da democracia em nosso país. O sonho era de liberdade, mas também de consciência política, pois o país só seria mais justo com a participação do povo.

Teotônio ao se dar conta das injustiças e desesperança que assolavam os “calabouços” do Regime pediu perdão. “(...) rogou ajoelhado: ‘perdão por não ter visto antes essa barbárie’”.

O movimento das “Diretas Já”, idealizado por nosso Menestrel, contou com a participação de intelectuais, artistas e do povo, juntos percorreram o país e forçaram o retorno da democracia, ainda que não diretamente, uma vez que as “Diretas Já” não foram aprovadas pelo Congresso. Entretanto, foi esse o movimento que despertou boa parte da população que se mantinha longe das discussões políticas, procurando manter seu dia a dia sem maiores “problemas”.

Toda essa luta já conta com trinta anos, e depois de todo esse tempo que democracia é vivida pelo brasileiro? O voto não é só um direito, mas uma obrigação, com ele veio não só a consciência política por representação do povo, mas também o voto de cabresto, a compra de voto e a troca de favores políticos. Teria sido essa a democracia desejada por intelectuais de esquerda, de direita descontentes com o Regime Militar, pela população e pelo “Peregrino da Democracia”?

Indubitavelmente não!

Teotânio Vilela pai acreditava que "A Democracia não é coisa feita. Ela é sempre uma coisa que se está fazendo. Daí porque ela é um processo em ascensão. É a experiência de cada dia que dita o melhor caminho para ela ir atendendo às necessidades coletivas. O que há de belo nela é isto. É que ela tem condições de crescer, segundo a boa prática que fizermos dela".

Também creio nisso, acredito que apenas com políticas públicas de qualidade, a começar pela educação básica independente dos vícios doutrinários e superficiais que forma cidadãos individualistas e preguiçosos, poderemos gozar, enfim, da democracia sonhada pelos brasileiros durante as décadas de repressão.

Teotônio Vilela, orgulho alagoano que emprestamos aos brasileiros, teria hoje orgulho de nossas Alagoas? Campeã em todos os índices – desde a maior violência até a pior educação?

Certamente não!

Alagoas hoje é administrada por um homônimo daquele destemido político brasileiro – Teotônio Vilela Filho. Nosso governador muitas vezes relembra a memória de seu pai para invocar ações públicas. Traz consigo mais que um nome e um sobrenome de respeito nacional, mas toda responsabilidade de representar a continuação de um homem que lutou pela cidadania do povo brasileiro.

Em proporções locais e históricas bem diferentes, o que vemos é um povo que não tem o direito de nascer, pois as maternidades não dispõem de leitos suficientes, e nem de morrer, pois o Instituto Médico-Legal não existe. Um povo que não pode adoecer, pois plano de saúde é coisa de rico e a saúde pública carece de tudo; que não pode estudar, ter acesso a livros, aprender a pensar por si, pois assim darão fim ao cabresto e aos currais eleitorais.

Como muitas vezes alertado nesta Pensata, Alagoas precisa de muito mais do que justificativas rasas de uma história de exploração política, precisa de ações efetivas de mudança social, valorização do ser humana e prioridades públicas. Abrir estradas é essencial para a economia local e geração indireta de emprego e renda a longo prazo, assim como a construção de aeroporto internacional e centro de convenções, mas tudo isso não tem valor se o povo não tiver consciência política, moral, educação para pensar com independência e tomar decisões pensando no coletivo.

As eleições se aproximam, mais uma vez o povo terá a oportunidade de exercer o voto e sua cidadania, depois de tantos anos de amadurecimento dificilmente veremos alguma consciência política com visão coletiva. As eleições municipais são o primeiro passo para a mudança de nossa realidade, mas enquanto o eleitor não aprender a votar com independência e visando um futuro de igualdade de oportunidades nosso futuro permanecerá igual ao nosso passado.

O jornal Folha de São Paulo, em 1983, homenageou Teotônio Vilela por ocasião de sua morte com as seguinte palavras: “Sua ação deslocou-se paulatinamente da realidade das classes, dos partidos e dos interesses datados, para atingir outro terreno, o dos sentimentos perenes. A política precisa de Teotônios como os povos precisam de artistas. Parece-nos ser esta a pior das perdas que sua ausência nos inflige".

"Os Governos temem errar, e erram; muito mais porque não ousam acertar". (Teotônio Vilela)

 

 

*Este texto tem por base extratos do artigo “Quem foi Teotônio Brandão Vilela”, de autoria de Roberto Ramalho. Veja Aqui

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