População deixa de ser desnutrida e passa a ser obesa,aponta pesquisa da Ufal

10/09/2012 22:10 - Saúde
Por Redação

Nos últimos 20 anos o quadro se inverteu. Os números da desnutrição crônica em crianças caíram, de 35% para 10,3% em Alagoas, alcançando, atualmente, patamar semelhante ao ocupado pela obesidade, que segue ascendente, atingindo os 9,7%. Esses dados foram resultado das pesquisas realizadas pelo professor Haroldo Ferreira, da Faculdade de Nutrição (Fanut) da Universidade Federal de Alagoas.

O estudo, iniciado em 2005, foi realizado por meio de dois inquéritos. O primeiro analisou amostra representativa de mães e crianças do Estado, obtida em 1.500 famílias distribuídas em 20 municípios aleatoriamente selecionados. De acordo com o professor Haroldo, muitos fatores contribuíram para a redução da prevalência da desnutrição infantil. “Não podemos deixar de reconhecer a influência econômica resultante dos projetos sociais, sobretudo do Bolsa Família; o aumento da cobertura e da qualidade nas ações de atenção à saúde; e a consolidação das campanhas de vacinação, reduzindo de forma drástica a incidência das doenças imunopreveníveis”, explica.

Por outro lado, a prevalência da obesidade que era irrelevante, vem se tornando um dos mais graves problemas de saúde pública. Em crianças, no período de 1989 a 2005, saltou de 1,5% para quase 10%, como retratou a pesquisa após coletar dados antropométricos e aplicar questionários para traçar o perfil socioeconômico das famílias entrevistadas. “O problema é ainda maior na população adulta. Cerca da metade das mulheres alagoanas estão com excesso de peso, condição que predispõe a uma série de agravos à saúde, especialmente, às doenças cardiovasculares de um modo geral”, ressaltou o pesquisador.

A segunda etapa do trabalho, financiado pela Fapeal e pelo CNPq, reproduziu o primeiro inquérito utilizando amostra representativa do grupo materno-infantil da região semiárida. Para isso, foram sorteados 20 municípios daquela região e, nestes, 1.500 famílias foram entrevistadas. A equipe do professor Haroldo constatou que, mesmo com a implantação do Programa Nacional de Suplementação de Ferro, há mais de 10 anos, a prevalência da anemia em crianças foi mais alta (60,2%) do que a média encontrada para o estado (45%). Além disso, uma em cada duas gestantes tinha anemia, situação que, além dos danos causados à saúde materna, pode prejudicar de forma importante a saúde da criança, contribuindo para o baixo peso ao nascer e aumento da mortalidade infantil.

“Esse é um problema que requer atenção prioritária porque a anemia se associa a diversos efeitos adversos, como diminuição da produtividade no trabalho; diminuição da capacidade de aprendizado; baixa resistência a infecções; déficit de crescimento; apatia; baixo peso ao nascer e mortalidade nos primeiros anos de vida. Além disso, pode ser a causa primária de uma entre cinco mortes de parturientes. Portanto, combatê-la, significa reduzir os coeficientes de mortalidade de mães e crianças, não só em Alagoas, mas em qualquer lugar do mundo onde o problema seja de alta prevalência”. Para a Organização Mundial de Saúde (OMS), 40% é a prevalência para estabelecer a anemia como grave problema de saúde pública. Em Alagoas, essa marca tem sido facilmente ultrapassada.

Outro problema preocupante constatado entre as crianças da região semiárida foi a hipovitaminose A: 44,7% das crianças receberam esse diagnóstico. Neste caso, 20% é o critério da OMS para estabelecer a carência de vitamina A como grave problema de saúde pública. “A hipovitaminose A reduz o crescimento da criança, sua capacidade imunológica, predispõe à cárie e, entre outros danos, pode levar à cegueira e à morte. Em interação com a anemia, os danos decorrentes das duas condições são potencializados”, completou o professor Haroldo.

Novos projetos estão em andamento

A partir de 2013, o professor da Faculdade de Nutrição da Ufal, Haroldo Ferreira, fará o caminho de volta, realizando o chamado II Diagnóstico Estadual de Saúde Materno-Infantil, projeto que, aprovado pelo CNPq, já conta com recurso financeiro garantido. A realização dessa investigação permitirá comparações com os resultados anteriores, possibilitando estabelecer a linha de tendência dos diversos indicadores utilizados, fato este de grande relevância para a gestão pública por permitir não apenas conhecer a realidade epidemiológica, mas também medir o impacto das ações de prevenção e controle que estão sendo empreendidas, favorecendo um melhor planejamento.

Neste momento, o professor Ferreira e sua equipe está iniciando um grande projeto para ser desenvolvido nas escolas de Maceió. A ideia já foi apresentada para os gestores das escolas públicas e privadas contempladas por sorteio para participar da pesquisa e conta com a parceria da Secretaria Municipal de Educação de Maceió (Semed), Secretaria de Estado do Desenvolvimento e Ação Social (Seads), Associação Alagoana de Nutrição (ALNut) e Conselho de Segurança Alimentar e Nutricional (Consea-AL).

A pesquisa tem por objetivo investigar a realização do direito humano à alimentação adequada entre alunos do ensino fundamental de Maceió. Oito dissertações de mestrado serão realizadas a partir dessa pesquisa. Alunos do Mestrado em Nutrição, juntamente com alunos de cursos de graduação da Ufal, Cesmac, Uncisal e Faculdade Maurício de Nassau visitarão 80 estabelecimentos de ensino fundamental do município, sendo 40 públicos e 40 privados. A expectativa é de iniciar o trabalho de campo ainda este mês e concluir a pesquisa até o final do ano que vem.

 

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..