"Ser magra não me trouxe um pingo de felicidade", diz Preta Gil

01/08/2012 12:05 - Gente
Por Redação
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Sou Como Sou. O nome não poderia ser mais adequado para um novo álbum da cantora Preta Gil, que lança o novo projeto com um show no dia 8 de agosto, no Rio de Janeiro, dia de seu aniversário. Filha de Gilberto Gil, um dos maiores nomes da música brasileira, herdou do pai o gosto pela música. Rebelde, contou ao Terra que atualmente se aceita como é, depois de muitos percalços pelos quais passou na vida.

"Quis ser magra, fiz de tudo e vi que não me trouxe nem um pingo de felicidade. Só angústia, desequilíbrio. Ser quem você não é, não é fácil, você precisa manter uma postura", explicou Preta, que assim como diz a música que dá nome ao disco, "não quer se encaixar em nenhum padrão".

Com dez anos de carreira, ela celebra a maturidade em Sou Como Sou e traz parcerias de peso, como com o próprio pai, em Praga. "É uma música de pai, uma resposta. É como se ele estivesse dizendo: "a vocês, que zoaram minha filha, falaram que era amarela, alta, baixa, que era gorda, magra, azul. Vocês foram preconceituosos. Eu estou aqui, rogando uma praga para vocês", explica.

Além de Gil, Ana Carolina, parceira de tantos anos, lhe deu de presente Batom, e Thiaguinho, a música Tá Fácil, que passa longe dos pagodes que o ex-Exaltasamba costuma cantar. Apesar disso, o destaque fica por conta de Mulher Carioca, composta por Francisco, seu filho, do relacionamento com Otávio Müller. "Fiquei muito feliz, chorei bastante", disse a mãe orgulhosa.

Confira a entrevista completa:

Terra - Sou Como Sou é seu disco mais maduro?
Preta Gil - Não sei se é essa a questão. É mais maduro pelo fato de eu ter crescido, experimentado muitas coisas, entrado de cabeça na estrada. Então, isso tudo dá um certa maturidade. Mas cada disco meu acaba sendo um estado de maturidade. Para esse repertório, eu acho que estou mais consciente, mais consciente de quem é meu público, depois de ter feito sucesso, conhecido cara a cara quem são as pessoas que me ouvem, que vão nos shows. Esse disco é para eles. Acho que isso é maturidade.

Terra - Na faixa que leva o mesmo nome do álbum, você canta: "não quero me encaixar em nenhum padrão". Em seus shows, entrevistas, você mostra bem que se aceita como é e procura dizer que é importante que todos se aceitem. É realmente assim? Foi muito difícil você chegar a esse grau de aceitação?
Preta Gil - Foi difícil. Não foi nada fácil. Passei por todos os percalços, dificuldades e toda insegurança que toda mulher passa. No meu caso, sendo negra, mais cheinha, o que foi mudando ao longo da vida. Fora as dificuldades mesmo, fui sofrendo quando tinha que sofrer, caindo nas armadilhas quando tinha que cair. Saí de todas elas. Graças à Deus, saí fortalecida. Quis ser magra, fiz de tudo e vi que não me trouxe nem um pingo de felicidade. Só angústia, desequilíbrio. Ser quem você não é, não é fácil, você precisa manter uma postura, seja com remédios ou lipoaspiração. Muita gente vive isso. Eu sou símbolo disso. Vi que devia lutar por outras coisas, por ser saudável, por exemplo. Sou altamente saudável, dou conta do recado. Minha forma física é fruto de quem eu sou, das minhas escolhas. Eu tenho que ser quem eu sou, não adianta lutar, não vai.

Terra - Você canta Mulher Carioca, que é do seu filho, Francisco. Como mãe, qual foi a sensação de gravar a música? Desde sempre ele se interessou? É um "mal de família"?
Preta Gil - É a coisa mais incrível do mundo. É uma coisa que a gente nunca imagina. A gente imagina que vá nos dar orgulho, estudar. Imagina clichês, mas eu nunca imaginei que meu filho fosse herdar o dom da família. É a primeira que eu gravo e eu gosto tanto assim, tem tanto a ver comigo, é tão gostosa. Fiquei muito feliz, chorei bastante. Eu estava no processo de fazer o disco e perguntei: "você não quer fazer uma música para a mamãe?". Ele já cantava as músicas dele, para um projeto futuro. Ele disse que ia fazer. Um dia, fiz um show, ele me ligou. Eu disse que ia para casa só mais tarde e ele pediu que eu acordasse ele quando chegasse, porque tinha um presente. Cheguei umas 4h, acordei ele, ele pegou o violão e cantou para mim. Chorei horrores. Uma semana depois a música estava pronta para o CD.

Terra - As pessoas estão acostumadas a te ver na mídia, animada, falando o que pensa, mas como é a mãe Preta Gil?
Preta Gil - As pessoas que me conhecem sabem que sou uma mãe leonina, chata, que exige que ele tenha regras, foco, responsabilidade, seja educado. Eu tenho muita sorte na vida, mas acho que a maior sorte que tenho é o Francisco, que é exemplar. Quem conhece, quem é amigo dele, sabe que eu e Otávio fizemos um belo trabalho. Ele está na adolescência, não é lá muito amigo da escola, mas a gente vai lidando com muito diálogo, paciência, muita proximidade. Ele me viu crescer, tive ele com 20 anos. Ele cresceu comigo. É muito bacana ver o homem de caráter que ele está se transformando. Eu tenho muito orgulho dele.

Terra - Assim como você cantou uma música de seu filho, também canta Praga, que é do seu pai, Gilberto Gil. Foi um pedido seu? Ele acompanha seu trabalho de perto? Faz críticas?
Preta Gil - Ele, como qualquer pai, no começo, não passou a mão na minha cabeça, não. Pedi uma música para ele dez anos atrás e ele disse que eu tinha que procurar a minha turma, eu fui e cresci. Depois, convidei ele para gravar meu DVD. Ele foi e ficou impressionado com meu público. Começou a ir nos meus shows, ver o amor que as pessoas tinham por mim e a legião de fãs que eu tenho. Isso tudo foi deixando ele muito orgulhoso, do mesmo jeito que eu tenho dele. Ele tem muito orgulho e agora, nesse último ano, quando eu disse que estava trabalhando no novo CD, ele disse: "vou fazer uma música". E ele fez por livre e espontânea vontade, sem eu pedir. Me deu esse presente, essa música que é linda. É uma música de pai, uma resposta. É como se ele estivesse dizendo: "a vocês, que zoaram minha filha, falaram que era amarela, alta, baixa, que era gorda, magra, azul. Vocês foram preconceituosos. Eu estou aqui, rogando uma praga para vocês".

Terra - Você tem parcerias com Thiaguinho, Naldo e Ana Carolina nesse novo CD. Ana Carolina é sua amiga, não é a primeira parceria com ela. Você procura se juntar sempre com músicos que são seus amigos, que se identifica ou não tem uma regra?
Preta Gil - A Ana é minha primeira grande parceira, meu talismã. Tenho quatro discos e esse é o terceiro disco de estúdio. Em todos discos, têm música dela. No primeiro, Sinais de Fogo, meu primeiro grande sucesso. No segundo, Estéreo, e, agora, Batom, que ela fez para mim com a Chiara Civello. É uma música diferente e tão boa quanto todas as da Ana. Eu falo para ela: "não existe a chance, não vou gravar um disco sem você". É um xodó. Gosto tanto dela como compositora, é uma amiga tão íntima, tão zelosa e querida, que é bom ter por perto. O Thiaginho é novo. Fiz amizade com ele de um ano para cá. Era fã do Exaltasamba e prestei mais atenção nele. Comentei com ele pelo Twitter, que tava fazendo um disco novo, se ele tinha alguma música. Ele disse que não tinha, mas que ia fazer. Cobrei duas vezes. Na terceira, chegou Tá Fácil, que eu adoro e mostra isso, um compositor novo, atual. O Naldo, a mesma coisa. Parceiro, absolutamente novo. Não conhecia até me convidar para gravar Meu Corpo Quer Você, que virou o sucesso e é executada em todas as rádios. Eu fico feliz e pedi para ele, porque eu adoro as músicas dele e tem tudo a ver comigo. Sem ser necessariamente um funk, um pagode, gravei um soul swingado, um soul funkeado. Acho que é isso. Essas parcerias são preciosas.

Terra - O Noite Preta é um grande baile. Agora você vai sair em turnê com o Show da Preta, que leva muito da turnê anterior. Quais são as principais mudanças? Já pensou em fazer algo mais intimista?
Preta Gil -É uma fusão. Vai ser esquizofrênico. Tenho três shows diferentes. Um mais focado no repertório do disco, Sou Como Sou, que tem um público grande que quer ouvir as músicas autorais e que me cobra muito até. Um para divertir, o Noite Preta. Eu criei esse formato de show, que é copiado e eu adoro. Sou eclética e amo cantar tudo e tudo o que eu gosto. Criei para atender as demandas, faço muitos shows corporativos, casamentos. Mas agora terá outro nome, será o Show da Preta. Não importa se é noite ou dia, sei que vai ser sempre divertido. E tem o Bloco da Preta, que é mais Carnaval. Eu amo os três, acho incrível. Para mim, como artista, é ótimo, não cai em uma mesmice. Traz muita riqueza, muita experiência.

Terra - Você tem um grande público gay. Você se sente responsável em batalhar ainda mais contra o preconceito? Como é sua relação com eles? Eles cobram uma certa postura de você?
Preta Gil - Não me combram nada. Eles sabem que nossa relação é verdadeira, é natural. Tenho sim um público GLS muito grande, sem fazer a menor força para isso. Me surpreendi com isso. Não faço show especificamente para gays, faço show para pessoas. Vem gente de todos os tipos e de todos os segmentos. Quero que no meu show exista uma comunhão. A minha ideia de vida é a inclusão, não a segmentação, sou contra a exclusão, contra essa coisa de gueto. Fiz shows na The Week e iam muitos héteros também, o que acontece até hoje em todos os meus shows. Em qualquer lugar, eu vou ver casais de mulheres, de homems, de homens e mulheres. Isso me faz muito feliz, saber que as pessoas se sentem à vontade, se sentem protegidas. Quero que elas possam ser felizes. Isso é quem eu sou, é a minha personalidade. Defendo de qualquer tipo de preconceito, seja qual for. Acabei de fazer com meu pai a campanha Ser diferente, é normal, que fala justamente isso. A pessoa com deficiência, sofre preconceito. A pessoa tatuada, sofre preconceito. Acabei de voltar do Japão e aprendi que lá é natural ser diferente. Lá, você pode ser quem você quiser, ninguém te olha diferente, ninguém te aponta na rua. Cada um tem que ser o que quiser, desde que a gente não agrida o outro. Temos que ir crescendo nesse movimento. Seja gay, negro, amarelo, se você está sofrendo preconceito, pode contar comigo. Nasci e fui criada, exatamente para isso.

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