Quebrar o silêncio e superar os traumas são as barreiras enfrentadas por crianças e adolescentes vítimas de violência sexual. Mesmo com campanhas educativas e orientações, o número de casos vem aumentando em todo o País. Em Maceió, segundo o conselheiro tutelar, Arildo Alves Souza, responsável pela região do Tabuleiro dos Martins, no primeiro semestre deste ano, o número de denúncias e casos comprovados cresceu cerca de 100%, com relação ao ano passado.

Uma situação recente chamou atenção da população. Uma menina de cinco anos foi violentada pelo vizinho, um menor de 17 anos. O fato ocorreu no início deste mês, no bairro do Jacintinho, quando a mãe da criança precisou deixar a garota na casa da vizinha para resolver alguns problemas na rua. Ao chegar para buscar a filha, a criança estava sangrando, desconfiada a mãe levou-a ao Hospital Geral do Estado (HGE), quando foi constatado o estupro.

O acusado, conhecido como Jô Pequeno, continua foragido deste o dia do crime. A vítima passou por uma sutura de lesão perineal, reconstrução da vagina, devido à violência do ato, e vem recebendo acompanhamento psicológico em sua recuperação. O trauma vivido pela menor M.L chegou ao conhecimento da população pela indignação e revolta dos pais.

Denúncias

Porém, muitas crianças ainda sofrem no silêncio com medo de tornar público o drama vivido. Segundo Alves, no mês de junho o Conselho Tutelar recebeu 12 denúncias de violência sexual, onde mais de 50% dos casos as crianças apontam o pai ou tio como o agressor. “Nós recebemos a denúncia e vamos até o local notificamos a mãe a comparecer ao Conselho Tutelar, junto com a vítima, onde colhemos os depoimentos e darmos início ao acompanhamento”, afirmou.

Mesmo tendo contado diariamente com casos de abandonos de crianças, os relatos das vítimas de violência sexual chocam os conselheiros. “Uma garota de 12 anos afirmou para nós que sofre abuso sexual desde oito anos cometido pelo pai. Inclusive quando ele (o pai) foi intimado para depor, a criança afirmou na sua frente e ainda contou detalhes como aconteciam os atos, mas mesmo assim a mãe tentava intimidar a menina e afirmava que imaginação da sua cabeça”, disse Alves.

O conselheiro relata que além do trauma, muitas crianças vivem anos no silêncio por causa da omissão de sua genitora, que em muitos casos tem conhecimento do abuso sexual sofrido pelo filho, mas com medo de perder seu companheiro ficam “caladas”. “Alguns casos de abusos sexuais não são facilmente resolvidos por causa das mães que por motivo de dependência financeira ou até mesmo por medo, não denunciam o caso”, disse.

Recuoeração depende de ambiente

A psicóloga Tâmara Pinheiro acompanha casos de vítimas de abuso sexual e afirma que traumas existem, mas a recuperação da vítima depende do ambiente em que ela vive. “É uma situação muito delicada. Cada criança reage de uma maneira diferente, mas o ambiente que ela encontra depois do trauma é fundamental para sua recuperação”, disse Tâmara.

Segundo a especialista, a personalidade da criança influencia muito durante o tratamento, já que algumas pessoas têm tendência de se retrair ou acreditar em uma saída para aquela situação. “Tem que uns reagem, se aquela dor não me mata ela me fortalece”, completou.

Sobre a reação das mães ao descobrir que o filho foi vítima da violência sexual dentro de casa, Tâmara afirma que em alguns casos, a negação das genitoras é reflexo da dor que elas sentem. “Para a mãe é sempre mais difícil admitir estar passando por aquela situação. Ela tem uma dificuldade maior de encarar uma realidade que não quer”.