Além do drama de longas filas de espera, os usuários do SUS em Maceió ainda enfrentam outro drama: a falta de médicos especialistas. Para a marisqueira Maria José da Silva, vários especialistas estão em falta na rede pública.
“O problema não é apenas no Pan Salgadinho, todos os Postos de Saúde enfrentam o mesmo problema que é a falta de médico. Fui ao posto do Dique Estrada e só consegui marcar ginecologista para novembro, ou seja, daqui a quatro meses, é um absurdo. Tive que ir a vários postos para tentar conseguir mais perto”, afirmou a marisqueira.
Na semana passada, a reportagem do CadaMinuto recebeu uma denúncia que a unidade de emergência João Fireman no bairro do Jacintinho, em Maceió, estava sem médico. A ausência gerou um início de tumulto, mas que logo foi solucionado pela administração e os atendimentos seguiram normalmente. De acordo com a Juliana Malta, tudo não passou de um mal entendido, por conta de um atraso de uma médica.
“A médica se atrasou um pouco como qualquer pessoa, mas não teve nada demais. O problema, é que muitas pessoas sabem que devem ir para outras unidades, mas preferem vir para cá, acumulando e em alguns casos, criando problemas”, disse.
A diretora se refere à necessidade de uma triagem feita pelos próprios pacientes. Em casos mais simples, postos de saúde do município, casos de urgência, nas unidades como o João Fireman que é 24 horas e em casos mais graves, o atendimento deve ser feito no Hospital Geral do Estado (HGE).
Mas de acordo com uma paciente que preferiu não se identificar, os atrasos e a falta de especialistas são constantes. “Não foi apenas nesse dia, mas quase todos os dias os médicos chegam atrasados ou não comparecem. É uma falta de respeito”, afirmou.
Colírio para glaucoma
Este ano os usuários que dependem do colírio para glaucoma enfrentaram um grande drama: a distribuição foi suspensa. No dia 1° de março deste ano, o Ministério da Saúde suspendeu o repasse do dinheiro para as clínicas credenciadas, após uma auditoria apontar um desvio de quase R$30 milhões no programa que contemplava a entrega de colírio para glaucoma.
O impasse durou mais de dois meses até que fosse regularizado. Em Alagoas, o Instituto da Visão, Hospital de Olhos Santa Luzia, Seoma, Oculares, Instituto de Olhos de Maceió (IOM) e Instituto Oftalmológico de Alagoas (Iofal) foram “visitados” pela Polícia Federal (PF).
Muitos usuários dos SUS tiveram que comprar o colírio do próprio bolso, outros ficaram entregues a própria sorte, como foi o caso da aposentada Maria de Lourdes, que não têm condições de comprar o medicamento.
“Fiquei esse tempo todo sem meu colírio. O médico disse que eu não poderia ficar um dia sem colocar. Meus pais tiveram glaucoma e eu estou com grandes chances de desenvolver, o colírio é um paliativo. Mas o poder público não ver isso. É um desrespeito”, afirmou a aposentada.
Outro drama enfrentado pelos dependentes do programa do glaucoma foi o novo cadastrado. “Estava com minha cirurgia marcada para o dia 8 de março, ou seja, uma semana após a suspensão do colírio e do atendimento. Tive que esperar. Fui informada que uma equipe do CRAS iria ligar para todos os usuários para realizar um novo cadastro. Minha cirurgia agora ficou para agosto”, afirmou a aposentada Maria Neilsa Carvalho.
De acordo com a gerente técnica do Centro de Reabilitação Visual (Cervi), Paula Reis, após a suspensão dos atendimentos, a marcação de consultas passou a feita pelo Complexo de Regulação de Serviços de Saúde (CORA). “O CORA está ligando para os usuários para fazer a avaliação, os pacientes podem ficar tranquilos que todos serão chamados para fazer a reavaliação”, afirmou Reis.
Ainda segundo Paula, o maior problema são as faltas dos pacientes. “Temos cerca de dez faltas diárias de pacientes. Agora é tudo no sistema e não temos como atender em outro dia porque o próprio sistema bloqueia. Se o paciente não vem na data marcada, ele tem que esperar para o próximo mês”, frisou a gerente.
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