“Die young, stay pretty”, já cantava Debbie Harry, da banda Blondie. A frase, que em português quer dizer “Morra cedo, permaneça linda”, não faz o menor sentido para Karina Bacchi. Aos 35 anos, a modelo, atriz e apresentadora – nessa ordem cronológica – está mais linda. Ela assume uma única intervenção cirúrgica: a lipoaspiração aos 19 anos, quando ainda era modelo. “Se tivesse feito outras plásticas, também não falaria. Cada um tem a liberdade de divulgar o que quiser”, defende ela.
Sua experiência nas passarelas começou cedo, aos 4 anos de idade, em desfiles para a confecção da mãe. Em 2004, aos 27 anos, Karina fazia sucesso como atriz da Globo, na novela “A Cor do Pecado”. Mas, mesmo tendo talento cômico e identificação com a personagem, percebeu que atuar não era sua praia. “Acho até que foi um ato de coragem sair do ar e optar por um caminho meu”, reconhece a paulista, que hoje se arrepende de algumas decisões tomadas na euforia, como posar para a “Playboy”.
“Foi um ato de rebeldia porque tinha aquela imagem de boazinha, de ‘nhenhenhén’, e isso me incomodava”, afirma ela. Deu certo: ela mostrou seu lado mais mulher e ele sobressaiu. Agora o processo é o contrário: para o ensaio fotográfico, escolheu looks intencionalmente bem comportados, uma forma de desconstruir essa imagem de mulher fatal que ela alimentou.
Após ganhar o reality “A Fazenda 2”, em 2010, e faturar um prêmio de R$ 1 milhão, Karina não mudou de casa ou trocou de carro. Em vez disso, doou todo o dinheiro para sua ONG, Florescer, que ajuda a comunidade carente de Paraisópolis, em São Paulo, tirou o time de campo e foi morar um ano e meio na Espanha. “Precisava ir para um lugar onde fosse anônima”, explica ela, que hoje apresenta um programa sobre celebridades em um canal a cabo. “O que eu gosto mesmo é de ser eu mesma”, diz. Confira o bate papo com o iG:
iG: Você está há dois meses no ar com o programa “Pop Up”, na Mix TV. Como tem sido essa experiência?
Karina Bacchi: Estou muito feliz e realizada. Eu fiquei um tempo fora da televisão por opção, porque eu quis. Saí da “Fazenda” e fui morar na Espanha. Nesse tempo eu tive convites para voltar e fazer novela, mas é uma opção profissional de não querer mesmo. Estava esperando uma oportunidade para apresentar, então veio em ótima hora esse convite.
iG: Você tinha um ótimo timing cômico na novela “Da Cor do Pecado”(2004). Por que abandonou a carreira de atriz?
Karina Bacchi: Eu adorei fazer a novela, mas nem sempre a gente consegue fazer os personagens de que a gente gosta. A gente precisa estar disponível, aberta a uma diversidade de cenas, de papéis, e com o tempo vi que estava julgando demais: ofereceram alguns personagens que eu amei, outros que eu não gostaria de fazer. Durante essa transição, pude fazer o quadro “Um Baque com Karina”, no Domingo Espetacular, na Record, e logo depois veio “Simple Life”, e daí me encontrei mais. O que eu gosto mesmo é de ser eu mesma. E “Da Cor do Pegado” tinha uma pegada muito parecida com a minha personalidade: positiva, alegre e brincalhona. Então, foi por isso que me identifiquei tanto, mas com os outros personagens eu não me identifiquei.
iG: Por isso desistiu?
Karina Bacchi: Acho que tudo que eu faço procuro fazer com entusiasmo, e a carreira de atriz não estava mais me entusiasmando. Muita gente, atores, ou quem gostaria de estar mais em novelas e procura papel, veio me falar que eu era louca. Mas a gente tem que se respeitar e respeitar as nossas vontades. Eu percebi que assim estava mais feliz.
iG: Como foi participar de "Simple Life"?
Karina Bacchi: Foi maravilhoso, sinto saudade. Tanto eu quanto a Ticiane (Pinheiro), a gente sempre fala que se tivesse outro “Simple Life” a gente participaria. Havia planos, mas a Tici acabou engravidando e eu entrei na “Fazenda”, e esse projeto foi ficando meio de lado. Foi divertidíssimo, uma grande experiência.
iG: Comentou-se na época que a Ticiane e você brigaram.
Karina Bacchi: Não teve conflito nenhum, nunca! Poderia ter acontecido, mas não teve mesmo. Para acontecer isso comigo é difícil, com a Ticiane, então, mais ainda. Ela é de boa, boazinha demais. A gente deu força uma pra outra mesmo. Mais do que amigas, éramos irmãs. Uma ajudava a outra e sempre tivemos uma ótima relação.
iG: Você sempre esteve no topo dos rankings de revistas masculinas e sempre foi rotulada como loira, linda e sexy. O fato de você ter ficado afastada tem a ver com a desconstrução dessa imagem?
Karina Bacchi: Não tem nada a ver, o querer ficar afastada foi algo pessoal e não profissional. Eu precisava respirar depois da “Fazenda”, ir para um lugar onde ninguém me conhecesse, ficar como anônima era importante para o meu equilíbrio, porque acho que lá dentro a gente segura muita coisa, é muito tempo. Apesar de ter procurado estar equilibrada, fiquei muito tensa no confinamento, precisava respirar outros ares. Fiquei à disposição da Record, porque estava contratada, inclusive fiz algumas coisas para a Record internacional em Portugal, mas eles deram esse tempo para mim.
iG: Você disse recentemente que a única coisa de que se arrepende foi ter posado para a “Playboy”. Por quê?
Karina Bacchi: Porque hoje eu não gostaria de ver essas fotos expostas. A gente vai amadurecendo, e hoje acho desnecessário. Não fiz pela grana - foi um ótimo dinheiro que eu ganhei com a “Playboy” (sua edição vendeu 278 mil exemplares e é uma das dez mais vendidas entre 2005 e 2010), mas eu já tinha mais do que isso guardado, sempre fui uma pessoa de poupar meu dinheiro. Então foi um ato de rebeldia, porque tinha aquela imagem de boazinha, de ‘nhenhenhé’, e isso me incomodava. Eu posso ser ousada também, queria que me vissem mais como mulher do que menininha. Eu fiz por impulso e me arrependo de tudo que faço por impulso. Hoje penso dez vezes antes de fazer, até porque a vontade passa. Sou muito mais cautelosa para tomar as decisões.
iG: Mas por que se arrepender? O que você é hoje não daria para você ser ontem. É tudo uma questão de amadurecimento.
Karina Bacchi: Sim, tem coisas de que a gente pode se arrepender e trocar de atitudes, e se você abrir a internet ninguém está vendo. Quem não é pessoa pública tem essa vantagem. Mas uma pessoa pública sempre terá essas marcas na história, abertas para quem quiser ver e não pra quem conviveu com você, te conhece, sabe da sua essência. As pessoas julgam de outra forma, e a gente paga o preço.
iG: Como você lida com a sua imagem pública e o que você não gosta que apontem em você?
Karina Bacchi: Hoje em dia eu gosto muito mais da minha imagem, mesmo não estando tanto em evidência quanto estive em uma novela da Globo. Especialmente depois da ‘Fazenda’, em que as pessoas puderam conhecer a minha essência e meu jeito de ser, e não só a imagem da foto ou da mulher sensual. O jeito que as pessoas me abordam na rua é completamente diferente, as mulheres pedem para fazer foto comigo, dizem que sou demais e que eu sou do tipo que jamais roubaria seu marido. Não causa desconforto esse tipo de elogio, eu prefiro muito mais ser vista desta forma.
iG: O que você não gostou de ler sobre você? Você já me disse que a "Playboy" foi uma maneira de desconstruir essa ideia de boazinha, de bisqui.
Karina Bacchi: Não queria que me vissem assim, mas no fundo é a melhor parte de mim. A pessoa que está comigo, meu namorado, me trata com doçura, de um jeito que justamente eu quis desconstruir lá atrás e que era a minha essência. O que eu mais gosto é ser vista como um bisquizinho.
iG: Por que você esconde seu namorado?
Karina Bacchi: Porque, por experiência própria, já percebi que quanto mais pessoal a vida for, quanto menos exposição, melhor a gente vive. Tem dado certo dessa forma, estou super feliz, e eu consigo aproveitar melhor a vida assim. Não vejo a menor necessidade de expor isso.
iG: Isso não lhe tira a liberdade? Você deixa de sair para não ser vista?
Karina Bacchi: Eu vou para lá e para cá, mas não onde eu sei que vai ter um monte de fotógrafos. Por exemplo, uma estreia de uma peça com toda a imprensa, aí eu não vou. Gostaria de estar com ele, mas prefiro ir outro dia, quando a gente vai poder se abraçar, se beijar, ficar mais à vontade.
iG: Pretende construir uma família?
Karina Bacchi: Eu quero, neste aspecto sou bastante careta. Mas, mais do que isso, dou valor ao sentimento e ao viver bem com a pessoa. Mais do que querer casar para estar casada. Prefiro estar bem. Acho que um relacionamento deve ser para isso: fazer o outro feliz e vice-versa. Enquanto isso acontecer, as outras etapas vêm naturalmente. Hoje, não tenho pressa de oficializar alguma coisa ou ter um filho pra amanhã. É algo que anda junto com a relação.
iG: Você já me disse em entrevistas que o dinheiro da ‘Fazenda’ foi todo revertido para a ONG da sua mãe, Florescer. Falava-se muito que isso seria uma maneira de não pagar impostos...
Karina Bacchi: A gente paga todos os impostos, já recebe o dinheiro com todos os impostos descontados. Na época foi assim. Eu já ajudava a ONG com dinheiro e de outras formas, conseguindo captação de recursos. Eu sabia que era um momento em que a ONG estava precisando muito. Pensei: se eu vencer, vai ser para isso. O grande prêmio foi a vitória pessoal, o financeiro já tinha um propósito.
iG: Onde você investe seu dinheiro?
Karina Bacchi: Aplico em fundos de investimento, tenho meu gerente e meu pai que me ajudam. Eu falo que em casa sempre foi bastante dividido, minha mãe desde criança incentivou meu lado lúdico, de ser artista, e meu pai sempre colocou meu pé no chão. Minha educação foi maravilhosa, não tenho nada do que reclamar. Quando entrei na ‘Fazenda’, meu pai disse: ‘Os Bacchi não podem perder, você vai entrar para ganhar’. Desde os 4 anos, meus pais sempre me disseram: ‘Olha, isso aqui é seu, é fruto do seu trabalho, e isso ficou para mim’. Eu gosto de comprar as minhas coisas, mas cuido do meu dinheiro. Sempre me falam: Você tem um carro desses, você não mudou nada depois da ‘Fazenda’?. Não, eu fiquei com o carro que eu tinha, com a casa que eu tinha, sempre tive muito pé no chão.
iG: Por que você não liga para ser famosa?
Karina Bacchi: Eu dou valor a coisas mais simples que a própria fama, eu acho que é esse o grande segredo da felicidade. Se você põe a fama em primeiro lugar, você deixa de celebrar pequenos momentos do dia a dia, longe dos flashes e dos holofotes. Eu não estou feliz só quando vejo uma matéria ou quando me vejo numa capa de revista, também não enlouqueço se eu não estiver no ar, como muitos artistas, que entram em depressão. Eu curto acordar de manhã e plantar a minha roseira, cuidar da minha hortar, tomar sol, coisas simples. A fama uma hora passa, a gente envelhece e, se você não tiver o pé no chão, fica em desequilíbrio emocional com os altos e baixos. Eu nunca quis isso pra mim.
iG: Quem você acha que ganha “A Fazenda 5” e por que você acha que venceu a segunda edição do reality?
Karina Bacchi: O Felipe (Folgosi) é quem tem mais chance, é o candidato mais forte. E acho que ganhei porque sou uma pessoa fácil de conviver, tenho a noção de respeito com as pessoas com quem estou convivendo, sei respeitar as diferenças. Tem que ter inteligência emocional e não intelectual e saber lidar com as emoções do outro. Também acho que já tinha muitos fãs e a empatia do público, pelo que já fiz na televisão. E tinha muita gente que esperava menos de mim e se surpreendeu. É um conjunto de fatores, mas não tem uma fórmula.
iG: Já fez plásticas?
Karina Bacchi: Fiz uma plástica com 19 anos, na época de modelo, a única. Todo mundo tem essa curiosidade para saber o que eu já fiz de plástica no rosto. Mas é o que sempre digo: se eu tivesse feito também não falaria. Cada um tem a liberdade de divulgar só o que quer.
iG: Você chegou a se abrir quando terminou o seu noivado com o turco Yalin Bilgin, em 2009. O que houve?
Karina Bacchi: Eu me dei conta rapidamente de que estava fazendo a pior burrada da minha vida, com a pessoa mais errada. Estava totalmente agindo por impulso e ainda bem que tive uma luz e não tive medo de acabar com a história.
iG: O que você ainda gostaria de fazer na sua carreira?
Karina Bacchi: Tenho muita vontade de ter um programa de auditório para estar mais em contato com as pessoas, com o público. Como a Mix TV é um canal a cabo, tenho total liberdade para trabalhar em outras emissoras, desde que não seja no mesmo segmento e formato. A experiência da “Mix” está sendo importante por ter um diferencial: a gente dá notícias internacionais, entrevistas exclusivas, nada de que eu me envergonhe ou que esteja fazendo fofoca de alguém. O programa tem um bom nível e é importante sentir que estou crescendo. Tem gente que fala abertamente que faz fofoca, mas eu não gosto. Às vezes chega uma notícia que não me agradaria como artista, não gostaria que meu nome fosse citado desta forma, então tento dar de outro jeito, tenho esse cuidado. Assim como o jornalista pode optar por dar a notícia de uma forma ou de outra, vai da índole dele. Corre-se o risco de se queimar com a pessoa para o resto da vida.
iG: Alguém já se queimou com você?
Karina Bacchi: Com certos veículos eu não falo mais. Já entrei com processos contra dois jornalistas que inventaram relacionamentos com pessoas que eu nunca conheci, e já me aborreci pela forma maldosa com que fizeram comentário estéticos ou julgaram meu trabalho. Sou super aberta a críticas, e sou muito crítica comigo. Mas tem gente que só quer apimentar e vive com uma nuvenzinha negra sobre a cabeça.
iG: Você é assim calma sempre?
Karina Bacchi: Eu sempre tive a personalidade mais tranquila, procurando estar equilibrada para o bem-estar físico e mental. Comecei a praticar Swasthya Yôga aos 15 anos de idade e isso me ajudou muito. Aprendi a meditar, a me conhecer mais e a não me estressar por pouca coisa. Hoje em dia, para me tirar do sério, precisa ser muito grave, é raro me ver estressada. Tenho meus momentos de ansiedade também, não sou calma sempre. Quando se é muito tranquila às vezes o trabalho não rende, por isso procuro equilibrar esses dois pontos.