Um dia após a greve dos médicos legistas, os corpos já se amontoam no Instituto Médico Legal de Maceió. De acordo com parentes das vítimas, não há mais espaço nas geladeiras e os corpos já estão espalhados no chão da unidade. No momento de desespero, algumas famílias cogitaram a possibilidade de contratar um médico legista particular para que os serviços de necropsia fossem realizados, o que, segundo o diretor do IML, é ilegal.

Na manhã desta sexta-feira (22), o novo diretor do IML Carlos Antonio Mansur, concedeu uma entrevista coletiva para explicar como está a situação da unidade, mas foi interrompido por um trabalhador rural que teve o sobrinho atropelado e morto na tarde de ontem.

“Quando assumi, já sabia o que me esperava. Enquanto o governo não entrar em acordo e atender as reivindicações das lideranças...”, disse Mansur ao ser interrompido por José Cruz dos Santos, que desde ontem está no IML para a liberação do sobrinho. “Eu quero saber o que vai ser feito, é um desrespeito com as famílias, eu não estou pedindo favor”, frisou.

Ainda segundo Mansur, tudo está sendo feito para que haja um entendimento entre grevistas e governo do Estado. “Soube que a Procuradoria entraria com uma ação para anular a greve, mas eles fazem isso sempre. Os médicos não encontraram alternativa a não ser a greve. Eu estou de mãos atadas e o que posso fazer é apaziguar a situação”, afirmou.

O diretor do IML disse ainda que se o governo atender algumas reivindicações, os serviços poderão ser normalizados ainda no prédio até a construção de um novo. “Esse prédio não pode fazer reformas, mas alguns reparos podem ser feitos. Como a colocação de novos instrumentos de trabalho, mais macas, equipamentos, reparos na fiação. Isso seria uma medida paliativa para que possamos realizar o nosso trabalho”, disse.

Famílias

De acordo com um parente de um jovem de 23 anos que foi atropelado por um ônibus próximo a Santa Casa de Misericórdia de Maceió, desde ontem que a família esta no IML e a informação é que nada pode ser feito.

“É um desrespeito o que estão fazendo com a gente. Desde ontem que estou aqui para poder pegar o corpo do meu sobrinho e poder fazer um enterro digno e me deparo com essa greve. Já é uma dor para família perder uma pessoa, e com essa burocracia toda, fica bem mais complicado”, afirmou Paulo.

Ainda segundo Paulo, a família tentou pagar um médico legista para fazer a necropsia, mas foi informado que isso é praticamente impossível. “Disseram que seria crime e que eu precisaria de uma autorização judicial. Meu sobrinho está no chão, é humilhação demais. Enquanto morrer ‘Marias e Joãos’ Alagoas continuará nessa situação deplorável. Se fosse algum filho de deputado ou parente de alguém forte, já teriam tomado providência. Agora é confiar em Deus para que sensibilize o governador para haja um acordo entre as partes” disse.

Greve

Após uma assembleia ocorrida na noite da última segunda-feira (18), os médicos legistas vinculados ao Instituto Médico Legal (IML) anunciaram que vão paralisar, por tempo indeterminado, a partir desta quinta-feira (21), as atividades nos prédios de Maceió e Arapiraca. A categoria reivindica melhores condições de trabalho, além de um reajuste no piso salarial.

Além da paralisação, os médicos também irão interromper o funcionamento nos prédios. De acordo com o presidente do Sindicato dos Médicos (Sinmed), Wellington Galvão, os 30 médicos que atuam em Maceió e Arapiraca resolveram paralisar as atividades.

Os médicos aguardam uma posição do governador Teotonio Vilela Filho sobre a construção de novas sedes com melhores equipamentos para o funcionamento.