Tradição há séculos na Europa, as feiras livres continuam fazendo sucesso e impulsionando o desenvolvimento de pequenas regiões e, sobretudo, nas comunidades periféricas. Elas crescem como aglomerados comerciais, geram emprego e renda para uma parcela considerável da população e ainda movimentam a economia alagoana, levando mais de 1 milhão de pessoas, por semana, às compras em praças e ruas.
São mais de 100 feiras livres espalhadas por todo o território alagoano. Na capital e no interior, elas costumam acontecer aos sábados ou domingos e constituem o principal polo de comercialização, principalmente dos ramos alimentício e de vestuário.
Segundo dados levantados por uma pesquisa feita pela Desenvolve – Agência de Fomento de Alagoas, em parceria com o curso de economia da Universidade Federal de Alagoas (Ufal), existem mais de 25 mil feirantes, em Alagoas, concentrados, principalmente, em Maceió e Arapiraca. As duas cidades possuem oito feiras cada, o que as deixa empatadas em primeiro lugar no quesito quantidade.
No âmbito econômico, de acordo com o economista Cícero Péricles, o município que não tem uma feira livre não tem perspectivas para o futuro. “Sem as feiras, os municípios ficam com uma economia estática, pois eles dependem delas para circular seus produtos, principalmente, os advindos da agricultura familiar”, destacou.
Feirantes
Tradicionalmente, nas feiras da capital alagoana, a maioria dos feirantes apenas comercializa os produtos comprados de terceiros. Já no comércio do interior do Estado, os feirantes trabalham com a venda da sua própria produção, são os feirantes que vivem em suas propriedades rurais, produzem e comercializam diretamente com os clientes.
De acordo com uma pesquisa coordenada pela Desenvolve – Agência de Fomento de Alagoas, os produtos mais comercializados nas feiras livres são frutas e verduras, com 47% das vendas, seguido de peixes e vestuário, ambos com 9,43%.
Lourdes de Lima, que trabalha com a venda de frutas e verduras na feirinha do Tabuleiro há mais de 10 anos, destaca sua paixão pelo trabalho. “Aqui, eu estou realizada com o que faço. Vendo os meus próprios produtos e tenho contato direto com os clientes, que na maioria das vezes elogiam a qualidade do que está comprando”, enfatizou.
Consumidores
Nas feiras livres, os consumidores podem encontrar de tudo: farinha, macaxeira, inhame, feijão verde, tomate, laranja, banana, melancia, abacaxi. Seja nos bairros da capital ou nos municípios do interior, elas cumprem papel significativo na dinâmica da economia popular.
Para o aposentado Romilton Barbosa, que compra diariamente na feira do Jacintinho, o ambiente proporciona diversos fatores que, somados, influenciam na troca de um supermercado por uma feira de rua. “As feiras misturam variedade, preço baixo, atendimento personalizado e, principalmente, comodidade, pois não passamos horas em uma fila esperando para realizar o pagamento”, explicou.
Formalização
As feiras livres contemplam em sua maioria os clientes da Desenvolve – Agência de Fomento de Alagoas. Eles estão situados na base da pirâmide econômica, ainda dispersos e sem uma organização quanto ao seu desenvolvimento. Foi observando o crescimento desorganizado deste setor da economia popular que a instituição elaborou um projeto de apoio às feiras livres do Estado de Alagoas.
O programa, inicialmente, preparou um diagnóstico, em parceria com a Ufal, visando catalogar todas as feiras de Maceió. Outra pesquisa está sendo concluída com o balanço da situação das demais feiras do Estado.
Para o economista Anderson Henrique, um dos pesquisadores do tema, a parceria entre a Ufal e a Desenvolve é fundamental para a concretização de projetos voltados para a organização das feiras livres. “Não adianta a universidade trabalhar sozinha. Ela tem o papel de desenvolver projetos e, junto com a Desenvolve, vai poder colocá-los em prática”, enfatizou.
Segundo o diretor-presidente da Desenvolve, Antonio Carlos Quintiliano, o diagnóstico vai contribuir com a elaboração de políticas públicas voltadas para o apoio a empreendedores e estruturação das feiras livres de Alagoas. “A partir deste diagnóstico, vamos construir programas de crédito para os empreendedores das feiras, fomentar a participação de empresários e produtores rurais dos municípios onde elas são realizadas e apoiar a criação de diversas políticas públicas voltadas para o setor”, explicou.
De acordo com o diretor de Desenvolvimento e Projetos, Fábio Leão, na maioria das vezes, os empreendedores não fazem parte do município onde estão trabalhando e os empresários locais não têm oportunidade de participar dos empreendimentos. “Os motivos para tal situação são os mais diversos, desde a falta de apoio continuado em termos de gestão, organização da produção, informações de marketing e logística até a pouca oferta de crédito sob medida”, pontuou.
O resultado da pesquisa será publicado em um livro, que será lançado ainda no primeiro semestre deste ano.