Quando o silêncio incomoda

23/05/2012 09:51 - Welton Roberto
Por Redação

Foi estarrecedor. Aviltante. Um escárnio. O silêncio do cidadão Carlos Cachoeira incomodou tanto que chegou a ser um deboche. E o que esperavam os cultos, probos, honestos e ínclitos parlamentares?

Na certa que ele estivesse na cova dos leões pronto a produzir provas contra ele mesmo! Ou que respondesse a perguntas tão idiotas quanto a mentalidade de alguns inquisidores que ali ocuparam uma vaga para aparecer na televisão como probos e detentores de um currículo ético invejável! Lembram-se do Demóstenes? Pois é...

Ou que por estar frente aos deuses do Olimpo que servisse de apetite popular para as ávidas lentes midiáticas que aguardavam ensandecidas que ele delatasse tudo e todos.

Não é assim que se conduz uma investigação, muito menos um processo crime! O ônus da prova incumbe a quem alega o fato e sendo este criminoso, muito maior ainda a responsabilidade em coletar e angariar as provas, não podendo sê-lo através do próprio acusado.

A histérica parlamentar que acabou detratando o investigado demonstrou desequilíbrio, parcialidade e falta de preparo para estar em uma CPI. Aliás, aqui para nós, se gritar PEGA LADRÃO, NÃO FICA UM MERMÃO, como na saudosa consagrada música de domínio popular. O que mais me impressionou foi a falta de conhecimento da aplicação da Constituição Federal pelos próprios parlamentares. Ou será que para eles, por se considerarem DEUSES DO OLIMPO, da probidade e moralidade, o referido direito fundamental é inaplicável?

Há outras formas de se demonstrar a culpabilidade do cidadão Carlos Cachoeira e seus eventuais comparsas. Partir da ideia de que ele tenha que falar tudo que sabe e colaborar com a justiça, a polícia e a CPI é pueril e, digamos, um tanto infantil. Ele deve saber até onde vai seu grau de responsabilidade e se encontra assessorado por um dos grandes criminalistas deste país.

Na certa não precisa ser objeto de mais escárnio midiático e popular.

Mas aqui para nós, que o silêncio dele incomodou, ah isso incomodou!

A voracidade por informações e nomes que deveriam ser produzidas pelo acusado acabou gerando um clima equiparado ao antigo Coliseu romano, mas felizmente o que se viu foi um cidadão utilizando de seus direitos constitucionais frente a plateia e aos inquisidores despreparados e ignorantes do sistema constitucional vigente no país.

Que o processo contra ele seja pautado sobre os direitos fundamentais, que sua culpabilidade e/ou inocência (se é que você leitor acredita que ele possa ser inocente) seja fruto de provas robustas e judicialmente válidas, que enfim possamos também dar lição de cidadania e justiça em nosso país, se queremos ser considerados um país democrático de Direito.

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