Saudade Italiana

03/05/2012 04:43 - Welton Roberto
Por Redação

Estou em Pavia. Minha segunda casa. Depois de 30 horas de uma viagem conturbada, com atrasos comuns e o caos na malha aérea brasileira cheguei. A viagem de Maceiò até SP consumiu 18 horas. Um verdadeiro passeio por Salvador, Rio e finalmente a capital paulistana de onde parte diariamente um voo para Milao. Contei 687765698759 vezes as lamentaçoes dos brasileiros que repetiam a frase surrada "E ainda querem fazer uma Copa do Mundo!"


Chegando em Milao, uma das cidades mais caras do mundo, uma visao pouco comum. Pedintes nos sinais dividiam o cenàrio com transeuntes em ternos bem cortados por Giorgio Armani e Ferraris que zanzavam com certa frequencia. Com os carros e os ternos acabei me acostumando em razao das vàrias vezes que por aqui passei, mas com os pedintes... uma triste surpresa. Realmente a Europa atravessa ua crise profunda em sua economia. A violencia ainda nao chegou com a intensidade que nòs alagoanos nos acostumamos, mas acredito que a continuar assim, é sò uma questao de tempo.


Chego a Pavia depois de alguma confusao na estaçao central em Milao. Os funcionarios faziam uma certa greve branca, ou seja, trabalhavam em ritmo tartaruga com torcicolo e arritmia cardiaca, combinada com artrite e atrose congenita. Resultado: caos total e uma fila com 78568457638576835768375687 de pessoas (metade de japoneses) que reclamavam em todas as linguas! (Acho que até alguns diziam "E ainda querem fazer uma Copa do Mundo!"). Acabei subindo no trem sem pagar o bilhete pois acaso esperasse acho que estaria là até hoje e o amigo leitor nao estaria lendo este post. Mas como todo bom brasileiro procurei a autoridade ferroviaria explicando o caso e fiz o pagamento no trem, o que foi aceito de bom grado depois de uma boa conversa sobre o futebol de Neymar.


Subo as escadas da milenar Unversidade de Pavia com normalidade. Hoje faz parte de um cotidiano particular realmente interessante. Sou parte daqui, por incrivel que me possa parecer.A primeira vez que adentrei os umbrais da universidade pavese em 2010 fiz com tanto encantamento e deslumbramento que parecia entrar no céu. Passar pelas estàtuas de Alexandro Voltae e entrar na "Facoltà di Giurisprudenza" com làpides em homenagens a tantos vultos da literatura juridica, principalmente a Cesare Beccaria, nao era sò um sonho, era algo que pensava ser inalcançavel. Nao foi.


Hoje mato a saudade dos amigos que aqui fiz. Palavra saudade que eles tambèm aprenderam a incorporar no gostoso idioma italiano que soa como boa musica aos ouvidos toda vez que "parlo" com alguém daqui que nao via hà tempo. Aprendo muito, ensino pouco, em uma troca interessante de culturas que se miscigenam e acabam por fazer um novo quadro de relacionamentos assaz peculiar.


Professor Vittorio Grevi se faz presente nao mais fisicamente, mas tudo que aqui se faz tem um toque dele. Ontem o seminario sobre Revisao criminal carregava seu nome. Descubro que o Signore Papi, bibliotecàrio sorridente que tinha um bom papo, também nao pode mais trazer os livros que eu pedia com alegria e felicidade. Nos deixou depois de um AVC. Signore Papi gostava de falar de carnaval. Perguntava-me sempre se as mulatas que ele via pela televisao eram de verdade, se podiamos "tocà-las". Eu sorria e dizia, falando "italiano" o senhor poderà fazer muito mais do que sò tocar. Ele sorria de volta e me entregava o volume de livros que eu consumia com voracidade de um lunàtico por conhecimento, afinal nao é todo dia que popdemos ler livros do século XV nos originais.


O "café das 11" ,quase um anàlogo trem de Adoniran,é um verdadeiro ritual, e é o ponto de encontro de tantos outros amigos.


Realmente a saudade italiana vai abrandando e dando lugar a uma outra saudade que acaba se imbricando e ora se divide entre dois paises que moram em mim como um sò. A partir de entào declaro-me solenemente. Sou italo-brasileiro, pavese-alagoano, sou um entre tantos que viverà de saudade. Saudade italiana que se incorpora e se dilui para a alegria e felicidade de uma conquista nunca sonhada, mas realizada depois de muito "lavoro" e dedicaçao.


Saudade italiana que ganha corpo no pensamento dos amigos brasileiros, dos filhos e mulher que no Brasil deixei para viver mais uma etapa da vida que todo dia nos presenteia com alguma surpresa.

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