Cerca de 10 grupos afros que tradicionalmente se apresentam em Maceió durante o período carnavalesco podem ficar de fora da programação elaborada pela Fundação de Ação Cultural de Maceió este ano, o que segundo pai Elias, coordenador da Sociedade Afro-cultural Palácio de Airá reforça a discriminação que ainda existe com a cultura afro, em pleno ano de comemoração dos 100 anos do Quebra de Xangô, episódio em que religiosos de matriz africana tiveram seus terreiros destruídos.

O babalorixá, que é coordenador e Rei do Maracatu A Corte de Airá, informou que em março do ano passado representantes do Fórum pela cultura popular e afro alagoana se reuniram na sede da fundação para discutir as ações que deveriam ser desenvolvidas a partir da lei de incentivo à cultura do município e ao carnaval afro para este ano.

O projeto do carnaval afro foi enviado à fundação em abril e teria duração de seis meses, além de utilizar a estrutura montada para o desfile das escolas de samba de Maceió.

No entanto, pai Elias contou que recebeu a notícia na última quarta-feira (18) que o projeto para o carnaval afro não foi aprovado. Segundo ele, a secretária de cultura do município, Paula Sarmento afirmou não existir verba para apoiar os grupos afro, embora a fundação tenha recebido mais de R$ 3 milhões para investir em projetos culturais durante 2012. O religioso lembrou que em 2011, no mês da consciência negra, um projeto que previa diversas atividades temáticas também foi rejeitado pela fundação.

“Esse é um momento novo no nosso Estado. A maioria dos integrantes desses grupos afro, como maracatus e afoxés, freqüenta casas de axé e por isso, são perseguidos. Não represento apenas o maracatu a Corte de Airá, mas todos os grupos que integram o fórum. Fazemos um trabalho na Grota do Arroz, para tirar jovens das ruas, através de uma cultura de paz. Passamos um ano nos preparando e agora, recebemos essa notícia da fundação”, lamentou pai Célio.

Segundo ele, a prefeitura de Maceió só tem se interessado em atrair turistas para conhecerem a orla, mas esquece do lado cultural da cidade. “Os projetos levados para a fundação não vingam e não podemos nos calar. Há 10 anos milito em prol dessa causa e o nosso direito, previsto em lei, vem sendo negado. Aproveitamos 2012 para lembrar o Quebra de Xangô com esses eventos, mas a perseguição é igual aquela época”, destacou.

Pai Elias lembra que deve existir um trabalho permanente para os grupos afro, que sobrevivem por conta própria. O religioso disse ainda, que o diálogo com a fundação para aprovação dos projetos tem sido difícil, lembrando que no ano passado foi realizado o projeto “Tambores de Xangô rezado baixo”, que contou apenas com o apoio da Secretaria Estadual de Cultura (Secult).

“Digo que eu mesmo banco meu maracatu. Temos dificuldades para adquirir as roupas e os demais materiais. Pedimos apoio aos políticos e empresários, mas existe uma resistência. Cultura sempre faz bem e a cultura negra tem uma importância muito grande no Estado. Não digo que isso vem acontecendo porque o prefeito ou a secretária são de outra religião. O problema é que com os anteriores foi a mesma coisa, somos excluídos das políticas públicas”, disse. 

A reportagem do Cadaminuto tentou entrar em contato, via celular, com a secretária de cultura do município, mas não obteve êxito.

Ação contra a intolerância

Pai Elias lembrou a ação protocolada no Ministério Público (MP) contra a prefeitura de Maceió, que restringiu as festividades dos religiosos de matriz africana no dia 8 de dezembro, data em que é comemorado o dia de Nossa Senhora da Conceição e de Iemanjá, na praia de Pajuçara. ““Temos que cobrar uma resposta. A ação está no Núcleo de Direitos Humanos do MP, com o promotor Flávio Gomes”, ressaltou