Julgamento do caso Ceci Cunha expõe o lado podre da política alagoana!

20/01/2012 13:39 - Josivaldo Ramos
Por Redação
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por Paulo Veras

16 de dezembro de 1998. Naquele dia, a deputada federal Ceci Cunha asseou-se elegantemente com um vestido azul, um broche a lapela e um bonito batom vermelho. Ela compareceu a cerimônia realizada no Fórum Desembargador Jairo Maia Fernandes no Barro Duro, onde foi diplomada deputada federal pela segunda vez consecutiva. De lá, rumou para a casa de uma familiar, Claudinete Maranhão, que recentemente tivera dado a luz.

Por volta das 19h30min, Ceci seria assassinada na varanda da casa com mais três parentes – seu marido Juvenal Cunha, o cunhado Iran Maranhão e a mãe deste, a senhora Ítala Maranhão. O caso seria conhecido como “chacina da Gruta” e só veio a júri 13 anos e um mês depois, levando cinco acusados ao banco dos réus. Ceci tinha 49 anos quando teve a vida ceifada.

Durante o julgamento que durou três dias, duas versões bastante distintas foram levantadas. Todas elas demonstram o lado mais podre da política alagoana. A acusação diz que o mandante do crime seria o ex-deputado Talvane Albuquerque. Naquele ano, Talvane havia perdido a eleição para deputado federal e ficara como primeiro suplente da coligação da qual participavam Ceci Cunha e Augusto Farias, dentre outros.

Com a ajuda de rastreamento telefônico, o Ministério Público conseguiu colocar três homens ligados a ele no entorno da cena do crime. Um quarto confessou, teoricamente sob tortura, que ficara esperando em Satuba para que eles se desfizessem do carro e rumassem para Arapiraca. De lá, todos se dispersaram por vários Estados no período posterior à morte.

Talvane Albuquerque assumiu o mandato, mas foi cassado no ano seguinte após denúncias feitas pelo pistoleiro Maurício Guedes, conhecido como “Chapéu de Couro”, de que, antes do assassinato de Ceci, Talvane o teria procurado para assassinar Farias a fim de “abrir uma vaga na bancada federal”.

A defesa de Talvane e dos acusados trabalhou ferozmente para apontar irregularidades na peça de acusação do ministério público. Sustentaram que Talvane havia sofrido perseguições, pôs foi adotado como mandante pela polícia antes mesmo de se haver qualquer investigação sobre o crime. Levantaram também as hipóteses de outras linhas de investigação que, à época, foram abandonadas apesar dos indícios.

Foram desconsiderados o reconhecimento do pistoleiro “Chapéu de Couro” na cena do crime, realizado pelo jardineiro Valmir Pereira Campos. A denúncia do militar Wolkmar (morto pouco depois) de que a “guerra da polícia civil” teria se iniciado por insatisfação na divisão do dinheiro do assassinato da deputada Ceci Cunha pelos PMs Walter Santana, Sinval, “Fininho” e Robson Rui. O fato de o senhor José Eduardo Praxedes ter alertado que o coronel Sarmento estaria em busca de policiais para matar Ceci Cunha.

E o mais espantoso, que o ex-governador Manoel Gomes de Barros teria interesse na morte da deputada porque atribuía a derrota eleitoral daquele ano a falta de apoio dela e lhe teria pago pelo apoio R$ 2 milhões que Ceci nunca devolveu. Mano, aliás, era o único que podia controlar a estrutura do Estado para tentar imputar a Talvane Albuquerque uma culpa que não era dele, uma vez que houve diversas intervenções estranhas da polícia na apuração do crime.

Sabemos qual foi o resultado dos jurados proferidos ás 3 horas da manhã de hoje. Sabemos qual foi a sentença proferida pelo juiz federal André Luiz Maia Tobias Granja para os cinco réus julgados. Mas, considerando que eles alegam inocência, talvez nunca saibamos ao certo o que aconteceu naquela noite do dia 16 de dezembro de 1998. Mas sabemos de uma coisa: o julgamento do caso Ceci Cunha serviu para expor a putrefata estrutura que compunha a política alagoana, sustentada a golpes baixos, assassinatos e toda a sorte de delitos.

O assassinato de Ceci Cunha foi um crime político por vários motivos, independente de quem o tenha cometido. Interferiu diretamente na vontade expressa do eleitor, manchando a democracia. Como todos devem saber a essa altura, os réus foram considerados culpados e condenados a mais de cem anos de prisão. Mas será que 13 anos depois da perda daquelas quatro vidas, ainda vivemos sobre a mesma política mesquinha e cheia de interesses obscuros?
 

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