Baixinho, branquinho, cabelinho preto curtinho e, ainda mais, paraense.

Pronto! A cara e o “talento” de lambadeiro fino determinariam sua “carreira artística”.

E já havia decidido. Seria o “Beto Barbosa” cover.

Só tinha um pequeno “defeito”: o “bucho” estava mais para Genival Lacerda. E ao cubo. Sem contar nas formas redondas e fartas.

Mas tudo bem. Ninguém era perfeito!

Sim, o Astrogildo das Neves, “locutor noticiarista matinal” da rádio comunitária da associação dos autônomos de Cabrobó do Charque Seco queria o estrelato.

E haja “adocica, meu amor, adocica...”.

Desde que se decidiu, não fazia outra coisa a não ser ensaiar e rebolar, para desespero da esposa que sabia que “arte” não renderia o leitinho diário do Astrogildo Júnior.

E que o ventre avolumado e as partes rechonchudas o faziam mais parecido com a “elefoa” Bila Bilu do que com o Rei da Lambada.

Mas “Beto Barbosa” era brasileiro e, portanto, não desistia nunca.

E tentava de tudo.

Na rádio, era o locutor “beijinho na boca, gostoso doce mel”.

Vira e mexe aparecia uma “garotinha do bum bum arrebitado” com mais de 40 aninhos para o safado “ensinar a dançar merengue”... e aí ele se fazia, mesmo com a protuberância abdominal.

O prefeito queria fazer, naquele ano eleitoral para a municipalidade, o melhor carnaval de Cabrobó. E a prévia era essencial como “esquenta” da folia!

Um mês antes dos festejos de Momo, saiu o anúncio das atrações.

E liderando o “line-up” da festa pré-folia, ele: Beto Barbosa Cover.

Astrogildo foi à loucura.

Foram dias de ensaio.

Na rádio, todo dia, era “batata”, só dava ela:

“Preta fala pra mim
Fala o que você sente por mim, oi oi oi ohhh
Preta fala pra mim
Fala o que você sente por mim
Será que vou, será que você me quer
Será que você vai ser a minha mulher
Será que vou, será que você me quer
Será que você vai ser a minha mulher, ohhhh preta”.

Beto contratou duas morenaças como bailarinas de lambada. Mandou fazer roupa brilhosa que nem cuspe na parede.

Brilhosa e acochadíííííííííííííííííiíssima!

Roupa mais apertada que traque! ´

Um verdadeiro “coquetel molotov” pronto para explodir-se em banha de bucho.

O traje do show era acintoso. Uma mistura de Tony Manero do John Travolta, com Elvis Presley, com um tipo Chimbinha da Calypso, pós-moderno e colorido.

Tudo justíssimo, colado na pele bamba e malemolente do Beto Barbosa com sobrepeso.

Caprichou no “pout pourri”.

No dia da festa, um mês antes do carnaval, praça lotada, palco cheio de luz, no camarim do Chevette 82, movido a álcool e plotado com a cara do Astrogildo.

Apreensão total. Era tudo ou nada!

Subiu no palco e arrebentou: literalmente!

No meio de terceira música, “dançando lambada ê, dançando lambada lá”, ocorreu o inevitável.

A roupa do artista, simplesmente, esfacelou-se.

Na hora do “morena cintura de mola” os botões prateados pularam feito bala de calibre 38. As pernas da calça verde-limão se abriram na vez do “bem juntinho me faz relaxar”.

No “felizmente morena você, na lambada me faz delirar” foi a hora do delírio, com aquela pança enorme e gelatinosa pulando para fora, iluminada pelo canhão de luz projetado no palco, com a praça, em peso, “pocando-se” de rir.

E “lambadeando”!

Beto cantou o songbook inteirinho do ídolo. Terminou o show quase nu.

E aclamado pelo povo de Cabrobó.

Vídeo com sua perfomance foi parar no Youtube. Virou hit. Viral.

Teve que aposentar precocemente a carreira de lambadeiro.

Mas ficou mundialmente famoso nos programas de “vídeos mais estranhos do mundo”.

Conseguiu seu objetivo.
 

 

 

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