Recadastramento Biométrico e Gestão Pública

06/12/2011 04:11 - Welton Roberto
Por Welton Roberto

Maceió será a primeira capital do País a concluir o recadastramento biométrico exigido pela Justiça Eleitoral.

Indiscutivelmente, esta é uma ótima notícia.

De fato, controlar e averiguar a veracidade do contingente eleitoral em nosso estado é fundamental, em especial se atentarmos para as constantes tentativas de fraudes ou de supostos casos de desrespeito premeditado ao ato soberano do voto democrático e popular.

Casos que mancham, até hoje, nossa história política.

Agora, o que se questiona não é o fim, e sim o meio. Não o resultado almejado, e sim o mecanismo utilizado para seu alcance.

Definitivamente, mesmo a despeito da vontade das autoridades eleitorais e com todo o respeito aos profissionais envolvidos neste trabalho (de servidores públicos a juízes, que de fato se dedicaram a uma tarefa de grande monta e nada simples diante do grande número de pessoas a serem atendidas), o modo como o eleitor foi atendido inicialmente nos postos de recadastramento foi lamentável.

Claro que após a grita geral, a crítica saudável da imprensa e após correções oportunas o processo passou a ser bem menos penoso, inclusive mediante um eficiente (e inteligente, ressalte-se!) agendamento via Internet.

Mas o que se viu no início dos trabalhos foi total despreparo em uma estrutura desproporcional ao desafio. O eleitor foi penalizado em longas esperas e teve a sensação contrária ao objetivo do recadastramento: o que deveria ser visto como um gesto essencial para a democracia se transformou num fardo e num calvário para jovens, para mães e para pais de família.

Filas quilométricas e vexatórias penalizavam o eleitor. As informações foram repassadas de forma precária à população. Houve desatenção ao público e falta de sensibilidade para com todos, felizmente consertada e revertida em tempo hábil.

Porém, a reflexão que se faz deste episódio é maior e aponta para outro horizonte mais abrangente.

Reconhecemos o empenho do Tribunal Regional Eleitoral e parabenizamos esta Corte por esta primordial iniciativa.

Entretanto, o caso do recadastramento biométrico dos eleitores comprova a tese infeliz de que, grosso modo, o cidadão e o contribuinte brasileiros são sempre "punidos" pelo poder público.

O atendimento é moroso e desrespeitoso no Sistema Único de Saúde. Se somos vítimas de violência, procurar uma delegacia é sinal de horas desperdiçadas na demora em sermos atendidos. Inclusive, telefonar para as autoridades policiais e requisitar uma viatura em caso de suspeita de infrações é por vezes pedir para nada ser feito.

Dar entrada em um processo no fisco estadual e federal é ser submetido a uma espera grotesca por resposta. Se o serviço for municipal, então, preparemo-nos para uma resposta “tartaruga”.

Um caso a parte é dos “préstimos” das concessionárias de serviço público como as companhias elétricas e de telefonia. Estas zombam mesmo do cliente contribuinte!

Sem contar a mácula do atraso crônico de nossa Justiça!

E o problema não é falta de compromisso dos servidores e o caso do recadastramento biométrico do TRE comprova isto. Quem se recadastrou viu que a equipe envolvida não parava de trabalhar, exaustivamente.

O SUS é falho, a delegacia é lenta, a viatura não atende a ocorrência, o fisco é lerdo e a prefeitura é inerte não por “preguiça” de seus trabalhadores.

Estas facetas maléficas do serviço público existem porque é precário o planejamento da gestão de estados e municípios no Brasil. As decisões são pouco pensadas e a administração pública, como um todo, é tocada em muitos casos sem visão macro de gestão, quando não no improviso.

Ou seja, sem projeto, sem metas, sem recursos e sem estratégias.

Parabéns, de verdade, ao TRE e aos homens e mulheres envolvidos nesta tarefa em prol do controle e da transparência em nossas eleições. Assim como parabenizo os médicos, enfermeiros, profissionais da saúde, policiais, professores, trabalhadores do fisco e do judiciário.

Trabalhadores que trabalham e que, na maioria das vezes, por questões estruturais vêem-se impedidos de agilizar o atendimento à sociedade.

Sobretudo fica a crítica construtiva e respeitosa à Justiça Eleitoral e aos demais ramos da gestão pública.

Um país que ser quer potência global e um estado que diz “ter pressa” em seu desenvolvimento não podem aceitar cidadãos esturricados deixado de um sol de 40 graus, em uma fila de quilômetro, com documentos suados debaixo do braço e esperando horas a fio...

Tudo para comprovarem que existem e que têm o direito de escolher quem (mal) os dirige.

 

 

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