O depoimento do prefeito de Traipu, Marcos Santos, à Polícia Federal e a íntegra da decisão do habeas corpus concedido ao prefeito pelo desembargador José Maria Lucena confirmou uma informação que já havia sido divulgada pelo CadaMinuto. A operação Tabanga foi vazada pela líder da oposição no município, a presidente da Câmara Municipal de Traipu, Maria da Conceição Tavares.
O CadaMinuto entrevistou durante os últimos dias duas pessoas que estavam nas festividades acontecidas no povoado de Capivara, onde após “tomar umas” a presidente da Câmara avisou a todos. “Na terça-feira a terra vai tremer em Traipu, meus colegas do MP vão fazer uma limpa nesta cidade” disse ela em voz alta.
O prefeito soube da informação ainda no domingo. De acordo com um aliado do político, Marcos Santos não teria acreditado a princípio, mas na segunda-feira pela manhã (a operação aconteceu em uma terça) ele soube que a vereadora tinha dito também que o delegado André da PF já estaria em Traipu e que terça-feira seria dia de festa.
Os passos do prefeito
Ainda sem estar convencido de que a operação aconteceria, Marcos Santos foi a reunião da AMA. Na volta para a cidade ele ultrapassou uma viatura da Policia Federal que estava indo para a região e decidiu organizar sua fuga.
No município ele buscou mais informações e soube que a vereadora preparava inclusive uma comemoração. Foi então que Marcos Santos decidiu que após uma reunião que teria às 23 horas da segunda com integrantes de seu grupo político sairia da cidade.
Por volta da 1h30 da madrugada, o prefeito junto com sua esposa saíram de lancha de Traipu rumo a Propriá, onde permaneceram na terça-feira, indo depois para uma fazenda em uma cidade baiana, onde o prefeito ficou por todo este tempo. “Disseram que ele havia ido a São Paulo e a Brasília, é mentira, ele se manteve o tempo todo na Bahia” explicou uma fonte ouvida pelo CadaMinuto.
A Polícia Federal chegou a fazer uma operação em Propriá, após saber que o prefeito andou por lá. Durante a fuga do prefeito, o seu sogro, pai de Juliana Kummer, que estava com Marcos Santos faleceu, e os familiares que tinham contato decidiram não contar para o casal, que só soube do acontecido agora.
Ofensiva
O grupo aliado ao prefeito Marcos Santos prepara uma forte ofensiva contra Conceição Tavares e vão publicamente cobrar andamento nas denúncias feitas contra a prima do procurador geral do Estado no MP.
“Vamos responder as nossas responsabilidades na Justiça, estamos sendo investigados, execrados e vamos pagar o que devemos, mas a investigação não pode acontecer só na prefeitura. O que acontece na Câmara Municipal de Traipu é um absurdo”, explicou um aliado próximo do prefeito.
Questionado pela reportagem se a estratégia não seria uma cortina de fumaça para encobrir a investigação contra o prefeito, a fonte explicou que não. “Nós já estamos sendo investigados, por todos os órgãos competentes, agora só queremos que o mesmo aconteça com a presidente da Câmara” explicou ele.
Denúncias
Os vereadores Cássio Fernando de Carvalho Rolim (PR), Welignton Erlandres Dias de Farias (PRTB), Aloísio Vieira de Melo Júnior (PTB), todos ligados a Marcos Santos e presidente, relator e membro, respectivamente, da Comissão Especial de Inquérito (CEI), que investiga supostas irregularidades praticadas por membros da mesa diretora da Câmara Municipal de Traipu, entregaram ao Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco), antigo Gecoc, documentos que comprovam, segundo eles, uma série crimes, que teriam sido praticados pela atual presidente da casa, Maria da Conceição Tavares (DEM) e pelo primeiro secretário, Erasmo Araujo Dias (PRTB), com a cumplicidade do segundo secretário, José Valter Dos Santos (PTC), nos últimos dez meses.
Entre os crimes foram relatados, o superfaturamento de mercadorias compradas em empresas não aptas para vender a órgãos públicos, a antecipação de diárias, a emissão de cheques de diversos valores nominais ao portador ou a própria Câmara Municipal, assinados pela presidente do legislativo local, vereadora Conceição Tavares e pelo primeiro secretário, Erasmo Dias, além de uma folha de pagamento com nomes de trinta funcionários, que segundo os investigadores, nunca foram vistos nas dependências da Câmara e que é impossível porque o espaço físico da casa não dispõe nem de gabinete para a maioria dos edis.
Duas pessoas que estariam sendo usadas como “laranjas”, pelos acusados, testemunharam sobre o suposto esquema de desvios de recursos públicos da Câmara Municipal de Traipu, e relataram que não desconfiavam que estavam sendo usadas pelos vereadores investigados.
Segundo o presidente da CEI, vereador Cássio Fernando Rolim (PR), até o presente momento, as testemunhas, espontaneamente prestaram esclarecimentos a CEI, mas que por medida de segurança terão seus nomes mantidos em sigilo. Uma das pessoas foi ouvida no dia 29 de agosto e trata-se de uma senhora, residente na sede do município, a qual relatou que há três ou quatro meses (não soube precisar a data) recebia a quantia mensal de R$ 100, das mãos de uma mulher identificada por Roseli de Souza Pereira, que teria uma forte ligação com a presidente do legislativo, vereadora Conceição Tavares, e com o primeiro e o segundo secretários da mesa diretora.
A testemunha salientou nunca ter assinado qualquer tipo de documento ou cheque, além de não reconhecer as assinaturas, com seu nome, contidas em cópias da folha de pagamento com salário no valor de R$ 800, quando na realidade ela recebia apenas R$ 100.
Vereadora se diz vítima do grupo
Durante o período em que os vereadores ligados ao prefeito Marcos Santos tentaram afastar a presidente da Câmara Socorro Tavares, ela explicou que estava sendo vítima de uma tentativa de golpe de Estado por parte dos vereadores governistas.
Em nota enviada ao CadaMinuto ela disse que a CEI é uma tentativa ilegal e ilegítima por parte dos vereadores ligados ao Poder Executivo Municipal em destituir a Mesa da Câmara através de uma manobra totalmente desprovida de qualquer embasamento jurídico, legítimo ou mesmo do dever geral de honestidade.
“Todos os atos pertinentes a fim de apurar a real existência do fato noticiado, bem como a instauração dos procedimentos cabíveis para a devida responsabilização serão prontamente adotados inclusive com a provocação do Ministério Público para a devida ciência”, disse a vereadora na nota.