O acordo ortográfico foi benéfico? E a moda do gerundismo? A norma culta está perdendo espaço para um português mais pobre? Essas e outras questões foram discutidas por alunos, professores e visitantes juntamente com o professor de português, jornalista e escritor Pasquale Cipro Neto, na tarde da última quinta-feira (27) na V Bienal Internacional do Livro de Alagoas.

Pasquale é professor de português desde 1975, consultor de língua portuguesa do Departamento de Jornalismo da Rede Globo e colunista dos jornais Folha de S. Paulo, Diário do Grande ABC, entre outros. Com programas de TV que desmitificam as questões ligadas à língua portuguesa, ele se tornou conhecido por usar letras de canções brasileiras para falar sobre gramática na TV.

Falando sobre a influência de autores e artistas nordestinos em sua formação, Pasquale começou seu bate papo pra um auditório lotado e atento. “Sou um itálico brasileiro, mas o Nordeste teve muita influência na minha formação cultural. João Cabral de Melo Neto, Castro Alves, Jorge de Lima, são tantos os nordestinos que estão em mim.. Sem falar de Graciliano (Ramos).Eu sempre digo que quem quer saber escrever tem que ler Graciliano. É um absurdo o que ele faz com as palavras”, disse elogiando o autor alagoano.

A pedido de professores presentes em sua palestra, Pasquale falou sobre o atual ensino de língua portuguesa nas escolas. O professor traçou uma trajetória do modelo adotado por professores no passado, quando a aula era gramática pura, e condenou o uso indiscriminado de recursos como crônicas, gibis e da oralidade atualmente. “O papel da escola é dar aos alunos ferramentas pra dominar a língua padrão. Uma sociedade que ignora o valor das obras clássicas é uma sociedade fadada ao fracasso. A escola precisa achar um meio termo. É preciso reconhecer as variedades linguísticas, Não dá mais pra ser monoglota na mesma língua. O sujeito precisa dominar outros códigos.”.

O professor recriminou ainda o estilo viciado de ensinar. “A gente cresce ouvindo que 'o sujeito é aquele que pratica a ação', o que é uma grande bobagem. O sujeito, explicando de maneira simplória, é aquele com o qual o verbo concorda. Na frase 'Ele apanha da mulher todos os dias' , quem comete a ação é a mulher, não o sujeito!”, disse arrancando risos da plateia.

A aluna do Centro Educacional Cristo Redentor de Palmeira dos Índios, Natália Neto, de 16 anos, disse ter adorado ver uma discussão sobre língua portuguesa a partir de uma outra perspectiva. “Ele consegue explicar uma norma numa linguagem nossa, nos fazendo entender e não decorando. Sem falar que ele usa o humor. Fiz várias anotações que me ajudarão a estudar português para o vestibular”.

Pasquale encerrou a palestra dando sua opinião sobre o acordo ortográfico da língua portuguesa que entrou em vigor no Brasil em 2009. “Há uma série de problemas técnicos no acordo, eu acho uma barbaridade. Só que não vivenciou uma redação, quem não trabalhou como jornalista poderia propor um negócio desse. Quem trabalha em jornal, por exemplo, sabe a enorme diferença que faz ter um acento no para para diferenciar verbo de preposição. É um absurdo”, opinou.

A V Bienal Internacional do Livro segue com programação vasta até o próximo domingo (30) no Centro de Convenções Ruth Cardoso. Para conferir a programação completa da Bienal acesse:http://www.edufal.com.br/bienal2011/index.php/programacao