Em seu primeiro papel de destaque numa novela das nove, o ator Carlos Machado comemora o personagem que ganhou em Fina Estampa, o ex-salva-vidas Ferdinand. Com um figurino - quase nenhum - que evidencia seu musculoso corpo em cena, à primeira vista a impressão que pode ficar é a de um homem que se preocupa apenas com a aparência. Mas não. Além de trabalhar como ator, três vezes por semana Carlos veste o jaleco branco de dentista e atende seus pacientes em um consultório especializado em ortodontia, em Copacabana. Para completar, o artista ainda contabiliza em seu currículo a patente de tenente da reserva da Força Aérea Brasileira (FAB). Após sofrer uma detenção por ter posado na praia ao lado da farda oficial da aeronáutica para divulgar o espetáculo em que atuava, Alta Vigilância, Carlos deixou de lado a carreira militar e se dedicou às outras duas. Aos 46 anos, natural do Rio de Janeiro, ele revela uma história de vida marcada por momentos de drama e fé.

"Tive uma filha, chamada Luiza, que nasceu em 1990 e morreu em 2001. Em 15 de novembro próximo, ela faria 21 anos. Foi fruto de um namoro da época de faculdade. Mas um diagnóstico mal-interpretado, um erro médico, a levou antes da hora. Antes da hora para a gente. Graças a Deus já tinha a fé que eu tenho e acredito que ela esteja lá no paraíso, muito bem. E o fato está totalmente superado. A dor que ficou foi da saudade, que de vez em quando vem, e choro. Mas sei que ela está bem. Tenho essa convicção e sei que um dia vamos nos encontrar", relembra o ator com os olhos marejados.

Se tem algo que o mantém seguindo em frente, é a fé. O artista revela que teve provas de sua devoção e chegou a vivenciar momentos sobrenaturais no palco certa vez, quando interpretou Jesus Cristo crucificado no teatro. "Uma nuvem invadiu o palco e não existia máquina de fumaça. A gente não via o chão. Isso foi uma coisa que ninguém soube explicar e tinham mais de 100 atores envolvidos. Teve um momento em que meus olhos se encheram de lágrimas e eu não conseguia enxergar direito. Estava meio embaçado e, na hora que eu comecei a ver de novo, as pessoas que estavam assistindo sumiram. No momento em que eu olhei, pensei: foram arrebatados? Foram levados para o céu? Sei lá... Mas quando comecei a enxergar, percebi que estava todo mundo ajoelhado atrás das cadeiras. Ali, senti a presença de Deus e também me ajoelhei", relembra.

O fato de ter passado por uma experiência traumática não fez o ator desanimar ou desistir da possibilidade de se casar no futuro e ter muitos filhos. "Tenho vontade de me casar, só não encontrei a parceira certa ainda. Nunca me casei por isso. Sempre fui muito iludido com essa história de casamento. Sempre quis isso desde a primeira namorada. Casar uma vez só na vida e envelhecer com essa pessoa. Virar um casal de velhinhos amigos, pois a amizade é a coisa mais importante. Sempre namorei muito tempo, mas de uns dez anos para cá, a coisa está sinistra (risos). Está difícil, mas ainda tenho esperanças", desabafa o moço, que namorou por nove anos a também atriz e cantora gospel Paula Hunter (ex-Manga).

Há 18 anos trabalhando como ator, Carlos estreou na TV no programa Chico Total e, na época, foi aprovado por Bruno Mazzeo, o então diretor de elenco do humorístico. "Chico Anysio foi o meu primeiro parceiro de cena. Comecei logo com um gênio. Eu nunca fui humorista, mas sempre fui uma boa escada para eles. Tanto para o Chico quanto para o Renato Aragão. São duas pessoas com quem tenho o maior prazer de ter trabalhado", diz o ator, que do alto de seu 1,90m de altura e com porte atlético, logo alcançou o status de galã. "Já deu para sentir diferença. Eu nunca tive tanto assédio junto ao público, com tantos pedidos de fotos e autógrafos como estou tendo agora. É uma lente de aumento absurda fazer a novela das nove", avalia.

E com essa exposição, não é só o assédio das fãs e a fama que aumentam. Os paparazzi também vêm no rastro. "Eu cumprimento, dou tchauzinho. Faz parte. E tem paparazzi e paparazzi. Meu personagem, por exemplo, fica o tempo todo de sunga na praia. E adivinha onde é que fica escondido o meu microfone? Na sunga! Às vezes, incomoda e eu quero ajeitar. Imagina a situação se um cara vai lá e fotografa isso... No dia seguinte, os jornais vão falar: 'Carlos Machado com a mão frenética'. Se você quer ser ator, precisa saber que tem prós e contras. Mas na minha opinião, tem muito mais prós. O negócio é ser feliz e relaxar", ensina.

Cuidados com o corpo e a mente

"Sempre me alimentei muito bem. Tenho um nutricionista há dez anos. Malho há pelo menos 30 anos. A diferença é que agora não malho mais três vezes por semana, mas seis. Faço bicicleta ergométrica e musculação, sem pegar muito pesado. Fico uma hora na academia, no máximo."

"Com a novela comecei a malhar mais, pois o personagem precisa estar muito em forma. Também passei a me bronzear. Fui atleta e sempre cuidei do corpo e da alimentação. Como peixe quase todos os dias, por exemplo. Quando pequeno, tive um problema de alergia na pele e comecei a prestar atenção no que comia e não me fazia bem. Descobri que o meu tipo sanguíneo, seguindo a dieta do tipo sanguíneo, não tem enzimas suficientes para digerir carne vermelha".

"Mas procuro mesmo é ter equilíbrio em tudo. Tiro da minha vida coisas que me trazem estresse, inclusive nos relacionamentos. Se começar a incomodar, não serve para mim. Nunca busquei me completar em ninguém, mas sempre gostei de ser completo. Se achar alguém que vai acrescentar à felicidade que eu já tenho, maravilhoso. Mas não venha querer tirar a minha paz".