Caso Serginho: Pouco mais de um ano após ser recebido com festa, Estado não dá mais qualquer assistência ao menor

14/08/2011 17:21 - Josivaldo Ramos
Por Redação
Image

por Josivaldo Ramos

A imprensa nacional repercutiu, com grande destaque, durante semanas o caso do garoto “Serginho”, natural do município de União dos Palmares-AL, distante cerca de 80 km de Maceió, reencontrado, em dezembro de 2009, no município de Campos de Goytacazes, norte Fluminense, distante cerca de 290 km da capital do Rio de Janeiro, em situação desumana, dois anos após ter sido sequestrado em sua terra natal.

“Serginho”, a época com nove anos, se encontrava muito agitado e contava que o pai tinha sido preso. Com ele foi encontrado um bilhete, com duas frases: “Peço ajuda para comprar arroz e feijão para meus irmãos. Que Deus o abençoe”.

O menor, José Sérgio Guedes da Silva, o Serginho, filho de Eliane Santos Silva e José Heleno Guedes da Silva, foi atraído por Luiz Henrique de Messias com a promessa de que o garoto receberia uma cesta básica para ajudar sua família. A partir daí foram dois anos de desaparecimento, até que Luiz Henrique de Messias, utilizando o codinome de “Elismar”, foi preso no município de Campos de Goytacazes (RJ).

Com a prisão de “Elismar”, a quem o garoto Serginho chamava de pai, o menor foi encaminhado a um abrigo, onde depois de aproximadamente dois meses de atendimento psicossociais “Serginho” se sentiu seguro para revelar a verdadeira história de como tinha chegado ao Rio de Janeiro e que “Elismar” não era seu verdadeiro pai.

“Depois de Maceió segue reto e tem uma cidade e que é lá”, disse Serginho, declarando ainda que onde ele morava não tinha praia, mas tinha um rio: “Onde moro tem um rio com pedras e uma ponte, minha casa é perto de um assentamento dos Sem Terra, lá tem uma “usina de cachaça” e uma “praça de motoqueiros””.

Serginho ainda relatou que seus pais não lhe batiam, que não passava fome e que todos os irmãos ajudavam o pai a vender tapiocas, que por sua vez eram produzidas por sua mãe, que ele e seus irmãos também catavam e vendiam ferro velho.

A montagem do quebra-cabeça teve a participação dos funcionários e até dos colegas do abrigo. Com a ajuda de conversas e desenhos feitos pelo menino, as assistentes desvendaram a história.

O Estado de Alagoas, através da Secretaria Estadual da Mulher Cidadania e Direitos Humanos, viabilizou o retorno de “Serginho” a sua terra natal. Os pais de “Serginho”, acompanhados de um representante do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente foram ao Rio de Janeiro onde reencontraram o garoto e ou trouxeram para Alagoas.

Em recepção ao menor, aguardavam, com faixa de boas vindas, representantes do Conselho Estadual dos Direitos da Criança, a secretária estadual da Mulher e Cidadania e Direitos Humanos, Wedna Miranda, além do deputado federal, membro da CPI das crianças desaparecidas, Antônio Carlos Chamariz.

Ao desembarcar, “Serginho” disse que estava com muita saudade dos irmãos, amigos e que estava ansioso para voltar para casa e tomar banho no rio. “A primeira coisa que quero fazer é dar um abraço nos meus irmãos”, disse “Serginho”.

De acordo com declarações da secretária Wedna Miranda, proferidas a época do caso, o garoto seria acompanhado pelo Centro de Atendimento a Vítimas de Crimes (CAV-Crimes) para que ele pudesse ser reinserido em suas atividades sem sofrer traumas.

Passado mais de um ano desde o desembarque de “Serginho”, o blog buscou informações sobre a atual vida de “Serginho”, e em entrevista exclusiva ao blog do Josivaldo Ramos, Portal Cada Minuto, o Presidente do Conselho Tutelar da Criança e do Adolescente de União dos Palmares, Manoel Simeão Moreira, informou que “Serginho” vive hoje inserido no PETI (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil do Governo Federal), estuda em uma escola pública da rede municipal de educação de União dos Palmares, além de ser acompanhando, de perto, pelo Conselho Tutelar de União.

Manoel Simeão fez ainda questão de frisar: “Quanto ao Estado, (este governo) não tem dado a devida atenção ao menino e a sua família, até porque a imprensa nacional não dá mais destaque ao caso. Na verdade, a banda de música que o recebeu, os órgãos do estado, bem como a repercussão da imprensa nacional, tudo isso já passou, só restou o apoio do Conselho Tutelar de União dos Palmares, da Prefeitura Municipal e do PETI, que na medida de suas possibilidades têm o acompanhado e lutado para que ele tenha de volta sua cidadania e dignidade, além de protegê-lo para que ele não seja mais vítima de sequestro ou de qualquer outro crime”.

O blog tentou ainda contato com o Conselho Estadual da Criança e do Adolescente do Estado de Alagoas a fim de repercutir o caso, mas até o fechamento desta edição, não recebeu qualquer resposta.

O caso “Serginho” mostra o quanto é falho o sistema de segurança executado nas estadas brasileiras, pois o menor foi sequestrado no interior de Alagoas percorreu pelo menos três estados até chegar ao Rio de Janeiro, mesmo assim, o sequestro só foi descoberto dois anos depois, justamente em função da exploração a que “Serginho” e outro menor, também sequestrado, eram submetidos.

Outra face desta emocionante história e que carece de atenção especial, não apenas das autoridades constituídas, mas principalmente da sociedade que acaba alimentando praticas condenáveis como a que “Serginho” era submetido diz respeito à exploração de menores, para coleta de esmolas, pois afinal quantos outros “Serginhos” vivem nas esquinas de nosso país, muitos deles nos sinais da nossa própria capital, distantes, ou não, de suas famílias, e mantidos pelas migalhas a que nós irresponsavelmente lhes ofertamos? Pense nisso!

A morte do sequestrador

Luiz Henrique de Messias, que usava, entre outros, o codinome de “Elismar”, foi preso em flagrante quando explorava “Serginho” e mais uma criança na BR-101, no estado do Rio de Janeiro.

Os dois eram obrigados a pedir esmolas à beira da estrada. Na delegacia, o homem disse que “Serginho” era seu filho e que a outra criança seria um amiguinho do garoto.

“Elismar” morreu na noite de 11 de abril de 2010, cinco minutos após dar entrada no HGG, em Campos de Goytacazes. Ele teria se sentido mal na Casa de Custódia Dalton Castro (onde se encontrava a disposição da Justiça) e foi levado ao hospital. Após exames realizados no IML não foi constatado qualquer sinal de violência, a suposta causa morte teria sido uma pneumonia.

Meu twitter: @JosivaldoRamos
Meu e-mail: josivaldoramos@hotmail.com
 

Your alt text
Your alt text
Your alt text

Comentários

Os comentários são de inteira responsabilidade dos autores, não representando em qualquer instância a opinião do Cada Minuto ou de seus colaboradores. Para maiores informações, leia nossa política de privacidade.

Carregando..